Coma prisão de Sócrates o processo relativo aos vistos gold foi praticamente esquecido. Pode explicar-se esse esquecimento pelo peso mediático da prisão preventiva de Sócrates e até pela posição assumida desde então pelo ex-primeiro-ministro, mas também é evidente que a comentadores como Marques Mendes convém esquecer um processo que envolve amigos e conhecidos.
Mas até o próprio Ministério Público parece ter fechado muito cedo a torneira da violação dos segredos de justiça, talvez porque esse processo toca em muita gente do poder. Entretanto, os arguidos neste processo foram condenados ao esquecimento, mesmo quando foi tornado público que contra o ex-director do SEF pouco mais havia do que um telefonema em que lhe era pedida a agilização do processo, já que ninguém acredita que duas garrafas de vinho caseiro oferecidas por um conhecido corrompam o que quer que seja.
Temos portanto um cidadão cuja vida profissional foi destruída e que se encontra em prisão domiciliária para vergonha de familiares e amigos e até da instituição que dirigiu porque alguém lhe telefonou a pedir para agilizar um processo. Se em Portugal fossem para a cadeia todos os directores-gerais a quem já telefonaram governantes ou nomes sonantes da sociedade portuguesa pedindo para agilizar processos ter-se-ia que requisitar uma boa parte dos hotéis da capital para fechar tanta gente.
Perguntem a um director-geral do fisco ou de outros sectores do Estado quantas personalidades públicas já lhes telefonaram a pedir favores sob a forma de pedidos de agilização ou de perguntas inocentes sobre este ou aquele processo para logo se perceber que estamos perante uma prática generalizada das elites políticas e da direcção de muitos organismos do Estado.
Mas o mais estranho neste caso do ex-director-geral do SEF é que a violação do segredo de justiça ficou-se pela divulgação do telefonema, isto é, foi escondido o nome de quem o fez. O próprio Ministério Público prende o dirigente do Estado por corrupção passiva, mas esconde o corruptor não o constituindo arguido pela prática do crime de corrupção activa.
É legítimo questionar as razões porque um corruptor está sendo protegido pela acusação e pelos jornalistas, até porque os mais distraídos podem pensar que terá sido algum membro do governo. Não será esta protecção de um corruptor um crime? Seria muito interessante que fosse divulgado o nome de quem usou o seu poder de influência para telefonar ao director do SEF, acabando por o conduzir à prisão, até porque estamos perante alguém muito cobarde pois enquanto o director do SEF ficou em silêncio, quando o seu dever seria esclarecer o MP.
governante ou personalidade pública especializada em gestão de influências estamos perante um cobarde que deixou um amigo ser preso e se escondeu sem dar a cara. Quem será o cobarde?
PS: Por erro o post que corresponde ser colocado ao Domingo saiu ontem.