sexta-feira, janeiro 30, 2015

Haja vergonha!

Quando estourou o caso BES Cavaco Silva foi o primeiro a sacudir a água do capote sugerindo para quem o quis ouvir que não lhe teriam dito tudo, uma postura que diz bem da forma de estar na política daquele que foi eleito para presidente deste país. Na resposta Passos Coelho respondeu sem papas na língua que Cavaco sabia de tudo e este comeu e calou. Agora sabe-se que  muito antes de dizer que provavelmente não sabia de tudo reuniu duas vezes com Ricardo Salgado. Agora quem não sabe nada é um povo que começa a saber que não pode confiar em Cavaco.

Para que não se transforme rapidamente em injustiça a justiça assenta em equilíbrios, é por isso que há um juiz de instrução que não se limita a ser um mero escriturário colocado ao serviço da acusação por uma empresa de mão-de-obra barata. A nobreza do juiz de instrução reside na defesa dos direitos do arguido, em assegurar-se de que não há abusos, dando-lhe garantia de defesa perante eventuais abusos por parte da acusação. Mas perante a tranquilidade colectiva vemos agora um juiz partidário da velha máxima “a acusação mata, o juiz de instrução esfola” e para espanto colectivo sabe-se que o juiz Carlos Alexandre chega ao ponto de escrever a propósito da prisão preventiva de Sócrates que “esta medida de coação, a pecar, não era por excesso”.  Qual seria a medida de coacção defendida por este senhor de poses fotográficas napoleónicas, seria a execução sem julgamento, a condenação por despacho da acusação, a fogueira? Com juízes destes é caso para dizer aos franciscanos  Heinrich Kraemer e James Sprenger , os autores do manual da Santa Inquisição Malleus Maleficarum que podem voltar. Percebe-se agora a verdadeira extensão da promessa da ministra de que acabaria a impunidade e justifica-se o prometido aumento do rendimento dos juízes.

A Grécia foi a eleições e o povo fez as suas escolhas, o governo eleito democraticamente no pleno e legítimo uso dos seus poderes tomou as suas decisões. Agora, o governo de um país com menos anos de democracia do que a Grécia vem chamar decisões de crianças às decisões do governo grego e a ladrar ao nosso parceiro da União Europeia  como se fosse um caniche da senhora Merkel. Nunca os governantes de um país da Europa desceram tão baixo nos ataques a um parceiro.
  
Há tempos morreram dois cidadãos em Évora porque as ambulâncias gastavam menos se ficassem nas garagens, agora morreu quase uma dezena de portugueses nas urgência dos hospitais sem serem sequer atendidos. Num país de valores o ministro da Saúde teria assumido as responsabilidades políticas, mas em vez disso desrespeitou as vítimas desmultiplicando-se em desculpas que começaram por atribuir as culpas à empresa que coloca os médicos, passando pela falta de médicos em consequência das política da Ordem dos advogados, para agora se dizer que o mal é da gripe. O país está a ser intoxicado com uma campanha de dados sobre a gripe, para se salvar a honra do Paulo Macedo quase dizem que a gripe típica da época é mais perigosa do que o ébola. Quantas vidas serão necessárias para Paulo Macedo assumir a responsabilidade política pelos seus actos?
  
Poderíamos ocupar dezenas de páginas para se mostrar como neste país já não há vergonha na cara.