sexta-feira, janeiro 16, 2015

Charlies de ocasião

Agora somos todos Charlie, uns mais Charlie Brown, outros só Charlie, somos todos grandes defensores da liberdade de expressão sem quaisquer limites, não há limites para a liberdade de criticar e de gozar com tudo e todos e com as convicções religiosas de cada um. Tudo o que posso dizer do meu Deus posso dizer do Deus dos outros pois os seus critérios para se sentirem ofendidos devem ser os meus.

Pois, mas tenha cuidado, ofenda o profeta Maomé, Jesus Cristo e todas as outras divindades, mas não digam nada que possa ofender Cavaco Silva porque levam com um processo por ofensas a Sua Excelência, como sucedeu com um cidadão que se lembrou de dizer umas coisas menos simpáticas. e não perguntem o que se ode ou não dizer pois depende do critério do magistrado de serviço do Ministério público.

É uma pena que eu não possa dizer de Cavaco Silva o que admito que digam de mim, se o fizer como fez o um cidadão que ofendeu Cavaco em Elvas arrisco-me a três anos de cadeia, os mesmos a que nos arriscamos quando ofendemos qualquer instituição. Imagine-se o que seria o congestionamento dos tribunais com o que se diz e se escreve sobre o fisco.
  
A hipótese de alguém ser processado por ofensas a uma instituição não é assim tão estranha, o Opus Paulo Macedo mais um amigo dele quando era director-geral da DGCI apresentou uma queixa dessas contra o autor do Jumento e o MP ainda se deu ao trabalho de pedir à Interpol que procurasse saber nos EUA o nome do autor do blogue. Mais tarde houve um “Charlie” do jornal i que achou que tinha identificado tão perigosa personagem e bufou o nome na primeira página.
  
O Dr. Macedo foi bem mais longe, supostamente incomodado com uma notícia que um tal Rudolfo Rebelo, jornalista do DN e actual assessor do primeiro-ministro publicou no DN sobre a sua situação fiscal , mandou a IGF vasculhar os emails do funcionários do fisco para tentar identificar o garganta funda que o tramou. O destino tem destas coisas, o Paulo Macedo pode pedir agora ao seu colega Rudolfo que lhe diga quem o tramou, talvez se convença, finalmente, de que não foi o Jumento, pois o único Rudolfo que conheço é a rena do Pai Natal. Que me lembre o director-geral da IGF que efz o frete não foi incomodado e agora até é secretário de Estado da Administração Públicas.

Vivemos num país onde até há uns tempos atrás as sessões parlamentares eram interrompidas de dez em dez minutos para um qualquer deputado intervir em defesa da honra. Veja-se o caso do Alberto João, o putativo candidato presidencial que ofende tudo e todos mas é o campeão das queixas em tribunal por ofensas, pelo menos enquanto foi do governo regional pois as despesas ainda são pagas pelos contribuintes. O que não falta neste país é gente que hoje se diz Charlie mas que no passado se queixaram de terceiros por ofensas à honra, na maior parte dos casos apenas para prejudicar. 
  
Agora é muito fino ser Charlie e não falta por aí que se declare Charlie sem nunca ter visto sequer uma capa do semanário francês, Charlies que a todo o momento se queixam por ofensas morais, que não perdem uma oportunidade para se armarem em meninas ofendidas.