Salgado Zenha, então ministro das Finanças do VI governo provisório ficou conhecido quando lhe foi atribuída a afirmação de que se tinha apercebido da inflação quando foi com a mulher ao mercado fazer as compras para casa. A declaração é compreensível para alguém que seja um cidadão comum e que não se tenha de se preocupar com as compras. Mesmo para um cidadão comum que faça as suas compras nem sempre a taxa da inflação é perceptível pois resulta da evolução dos preços de um cabaz de produtos e nem sempre aqueles que têm maior peso no nosso consumo são os bens ou serviços considerados no cabaz cujos preços mais sobrem.
No Euro 2004 discutiu-se muito sobre o impacto desse acontecimento no crescimento económico do país. Mais recentemente houve muito boa gente a acreditar que uma vitória do Benfica na Liga teria um impacto significativo no crescimento económico, fundamentando essa tese na boa disposição que tal vitória provocaria numa população de que se diz ser grande adepta do clube do próximo inquilino do Panteão Nacional.
No consulado e Manuela Ferreira Leite e de Durão Barroso ficaram famosos os “sinais de retoma”, com os indicadores económicos a chumbar as políticas governamentais a então ministra das Finanças, o seu primeiro-ministro e todas as cabeças bem pensantes da direita inteligentíssima que nós temos começou a descobrir sinais de retoma em tudo Se a bolsa subia era um sinal de retoma, se estava bom tempo iríamos ter melhores colheitas e isso era um sinal de retoma, se chovia iríamos poupar graças às renováveis e isso prometia crescimento, se o preço do crude descia era um sinal de retoma pois trazia vantagens comerciais, se o preço do crude subia era igualmente um bom sinal pois com a gasolina mais cara aumentaria a receita do IVA, tudo era um sinal de retoma desde o sinalzinho na cara da Catarina Furtado à bunda do Durão Barroso.
Agora temos uma ministra nas Finanças que se apercebe do ambiente favorável ao crescimento económico quando está no automóvel, estabelecendo uma relação entre as bichas e a alegria do povo e entre esta e o crescimento económico. Só se esqueceu de dizer que essa alegria resulta do seu bonito penteado e não das decisões dos juízes do Tribunal Constitucional a quem os seus colegas de partido chamaram cobras e lagartos. Temos portanto mais uma alternativa aos incómodos indicadores económicos, mesmo quando manipulados na interpretação ou graças ao envio de desempregados para secas a que designam por formação.
Temos agora que desenvolver a teoria económica das bichas do trânsito, até pode ser que já que o Gaspar não conseguiu ser convidado para Harvard a nossa ministra seja designada como professora a tempo parcial 0% da cadeira da teoria económica das bichas do trânsito. Em vez de indicadores económicos passamos a interpretar os fenómenos económicos medindo as bichas e em vez de termos programas especializados em economia o assunto será tratado pelas televisões, logo de manhã, quando informa os que vão sair de como estão as bichas de trânsito dos que já estão a caminho.
Assim, se as bichas forem maiores ali para os lados do Marquês isso significa que os portugueses estão a consumir mais electricidade da EDP e a fazer mais depósitos na banca, se aumentarem na Almirante Reis, onde fica a sopa dos pobres, é um sinal alarmante de recessão, se houver um engarrafamento nocturno ali para os lados do Técnico é porque as progenitoras de muito boa gente da nossa praça estão dando sinais muito positivos para a nossa economia.
Um dia destes a ministra vai assegurar a contenção da despesa pública aindexando os vencimentos dos funcionários públicos e as pensões de reforma às bichas na Baixa. Todos os dias a ministra vai à janela e se as bichas são maiores faz um despacho decidindo um aumento, se em vez disso as bichas forem menores determina mais um corte nos vencimentos e pensões.