sexta-feira, agosto 05, 2011

Privatizar o ar que respiramos?

A agenda liberal à escala mundial que tem progredido graças à chantagem dos países mais ricos através de organizações internacionais como o FMI ou o Banco Mundial passa pela transformação em mercadorias de tudo o que pode ser comercializado. A necessidade de rentabilizar com negócios de lucro certo a imensidão de capitais que afluem ao mercado financeiro obriga à transformação de todos bens, incluindo os que desde sempre foram do domínio público como a água.

Aquilo a que temos assistido em Portugal com algumas privatizações não têm sido reformas como alguns pretendem fazer crer, mas sim operações de promoção do enriquecimento fácil de algumas personalidades e grupos económicos. Tal como parece estar a suceder com a venda do BPN o Estado não só sai a perder com a venda como ainda promove todas as condições para que as novas empresas privadas beneficiem de condições de obtenção de lucros fáceis.

Transformar uma empresa pública num monopólio privado ou várias empresas públicas num oligopólio privado é um crime económico e contra o país e é uma das grandes causas do nosso subdesenvolvimento. Têm sido tantos os negócios fáceis promovidos pelo Estado em nome dos mercados que os capitais nacionais se especializaram nesta forma de proxenetismo económico. Os nossos empresários especializaram-se no lucro fácil e isso explica uma boa parte da baixa competitividade do país. Nos sectores em que estas facilidades não existem é a evasão fiscal e a economia paralela que proporciona os lucros fáceis. O resultado é um país que vai soçobrando à falta de qualidade das suas empresas enquanto vê uma boa parte da sua riqueza convertidas em mais-valias de favor que são transformadas em bens de luxo ou transferidas para as off-shore.

Compare-se, por exemplo, a evolução dos preços num sector onde existe uma forte concorrência, como é o caso das telecomunicações, com sectores onde existem monopólios, o caso das petrolíferas ou da electricidade, ou onde existem monopólios protegidos pelos reguladores estatais, de que o exemplo mais descarado é a banca. Nas telecomunicações temos assistido a uma grande modernização acompanhada de uma descida acentuada dos preços, nos outros sectores pagamos muito acima do que se pagam noutros países enquanto a tendência é par uma subida contínua dos preços.

Esgotados os negócios tradicionais é preciso gerar mais balões de oxigénio para os que financiam a classe política e pouco mais resta do que privatizar a saúde e a água, pouco faltará para que alguém se lembre de vender as praias já que os rios são propriedade indirecta da EDP. Talvez um dia se lembrem de privatizar o ar, mas podemos ficar descansados porque o governo está muito preocupado com os pobres e o Álvaro assegurará um preço por metro cúbico reduzidos para os que ganhem menos de quinhentos euros.

Tivemos um rei que se queixava de que só era dono das estradas de Portugal, não imaginava o nosso rei que nem isso já nos pertence e que tudo o que existe no subsolo, à superfície e no ar poderia pertencer à nobreza, pior ainda, a uma nobreza que não alcançou os títulos em batalhas com os mouros ou os invasores espanhóis, mas sim a uma nobreza que se limitou a dar golpes sujos e que se limitaram a usar a classe política como infantaria na luta contra dos direitos e o futuro de todo um povo.