quinta-feira, junho 26, 2014

A economia das galinhas

Enquanto nas quintas vizinhas se vivia na abundância o galinheiro tuga estava em decadência, nas outras quintas viam-se perus todos viçosos, porquinhos roliços, vitelas dignas do melhor ginásio de musculação, a erva era alta e verde, percebia-se a abundância e a alegria da bicharada, na quinta tuga vivia-se à míngua, a erva nem chegava a crescer, os comedouros ou estavam meio cheios ou meio vazios. Até que veio a crise, o milho ficou a preços inacessíveis e os banqueiros reuniram e decretaram “não há mai milho para pardais”. Curiosamente os mesmos banqueiros que mais tarde tiveram de ir ao comedouro das galinhas.
  
O dono da quinta aproveitou-se para expulsar o rendeiro que não se cansava de o provocar e humilhar e foi buscar rendeiros da sua confiança, gente inteligentíssima, cheio de mbas, mbes e mbis, até havia um tão bom, tão bom que a universidade rendida à sua inteligência deu-lhe o diploma e até lhe pediu desculpa por ter de se dar ao trabalho de meter uns requerimentos. OS novos rendeiros não estavam nada incomodados com a crise do milho, até achavam que o problema estava no facto de as galinhas estarem gordas por comerem demasiado milho.
  
Mal chegaram concluíram que havia galinhas velhas a mais e já que não serviam nem para comida para cão tinha que se lhes cortar a ração, mais tarde lá perceberam que isso era duro demais e decidiram cortar a ração apenas Às galinhas rafeiras, as galinhas de raça recuperaram o corte de que tinham sido injustamente e inconstitucionalmente vítimas. Quanto às galinhas mais jovens que ainda só punham ovos de vez em quando sugerira-lhes que fugissem para as outras quintas em busca do conforto de pastos mais abundantes. Ficaram cá as galinhas poedeiras.
  
Quanto a estas os novos rendeiros acharam que para porem os mesmos ovos não precisavam de tanta ração, ainda cederam nas galinhas do campo mas quanto às outras, a galinhas de aviário, não só lhes cortaram a ração como se divertiam a arrancar-lhes as penas. A teoria era simples, se reduzissem as galinhas ao mínimo, a erva tornava-se mais verde e isso atrairia os perus e os porquinhos das quintas vizinhas.

Ao princípio tudo parecia correr bem, aumentou a exportação dos ovos, os donos das quintas vizinhas vinham cá dar os parabéns aos novos rendeiros, as galinhas poedeiras passaram a por ovos do nascer ao por do sol e todas com as mesmas horas de postura. Era um milagre reconhecido internacionalmente e o inspirador desse milagre, que começou por fugir quando pensou que tinha dado cabo do galinheiro, acabou por regressar para fiar com os louros e foi trabalhar para um conhecido armazém de milho.
  
O problema é que as galinhas poedeiras estão à beira da revolta, os porquinhos e os perus ficaram nas outras quintas, os ovos começam a ser de qualidade duvidosa e já quase não há frangas para substituir as galinhas que envelhecem. O dono da quinta começa a ficar nervoso e a pedir que rendeiros e candidatos a rendeiros se entendam, isto é, que os segundos apoiem a receita dos primeiros para que as galinhas fiquem mais calmas e deixem de pensar em mais milho.
  
O candidato a rendeiro até está cheio de vontade de entrar na gestão do galinheiro até porque tem muitos amigos cheios de apetite e com vontade de comer umas omeletes, o problema é que tem medo de que há uma revolta das galinhas. Ele até concorda com a gestão do galinheiro mas tem medo de sair do seu armário não vá ser mais uma vítima da revolta das galinhas.