sexta-feira, junho 20, 2014

A rendição do (e na liderança do) PS

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Entre a afirmação e uma política alternativa e a rendição quase incondicional à direita o líder do PS optou pela segunda, durante três anos a estratégia d líder do PS passou pela aceitação da política extremista de Passos Coelho. O objectivo era cínico, ganhava alguns votos e atirava o odioso sobre o seu antecessor na liderança do PS. A mensagem de Seguro era a de qua nada podia fazer e a culpa era de Sócrates.

A direita inventou um desvio colossal para justificar a estratégia do “ir além da troika” e Seguro preferiu ficar calado, deixando centenas de milhares de portugueses, uma boa parte deles eleitores tradicionais do PS, entregues aos cortes abusivos e arbitrários decididos pelo extremista Vítor Gaspar. Estava-se no princípio, não havia pressa porque as eleições só seriam daí a quatro anos e esta estratégia vinha de encontro aos desejos de Seguro, antes de enfrentar a direita a prioridade era destruir a imagem de Sócrates.

A direita tentou implementar a desvalorização fiscal e de um dia para o outro anunciou o aumento brutal da TSU aplicada aos trabalhadores, transferindo uma parte significativa da receita para os patrões. Mais uma vez o PS ficou quase em silêncio deixando espaço para que a extrema-esquerda liderasse a oposição com o movimento “que se lixe a troika”, a que mais tarde se juntou o PCP.

O governo paralisou a modernização das escolas, abandonou a aposta nas energias renováveis, privatizou à pressa e sem condições, destruiu as Novas Oportunidades só para prazer de Passos Coelho. Perante toda esta ofensiva da direita mais uma vez Seguro preferiu o silêncio, interessava-lhe mais uma vez o esquecimento de Sócrates e só depois de muitas críticas e quando o próprio Portas elogiava o SIMPLEX é que Seguro lá se lembrou de vir em defesa de parte do que estava sendo destruído.

Seguro andava tão empenhado em ver a direita tentar destruir a imagem de Sócrates que se esqueceu de que do PS se esperava a oposição à direita e não a oposição ao seu próprio legado histórico. Seguro nunca se viu como o dirigente da esquerda mas sim como alguém que espera que um dia a esquerda vote nele para o ajudar a cumprir uma mera ambição pessoal. Para Seguro nem o PS, nem o país importa, é alguém que se assume como um profissional da política e que entende esta profissão como um jockey a quem pouco importa qual o cavalo que vai montar. É por isso que Seguro e Passos são iguais e podiam muito bem trocar de partido, para eles os partidos não representam valores ou um passado, são apenas montadas que lhe são úteis no momento de conquistar o poder.

Seguro rendeu-se durante mais de três anos à direita, desprezou os sentimentos dos eleitores do seu partido, ignorou o sofrimento dos que foram vítimas da austeridade, desprezou os prejuízos que a direita provocava ao país. Para Seguro o importante é que o tempo fosse passando sem correr riscos, porque terminada a legislatura poderia chegar a sua vez de ser primeiro-ministro ou, se algo corresse mal, vice de Passos Coelho.

Segundo esta lógica cínica quanto pior fosse o governo melhor para os seus objectivos, mais o povo odiaria Sócrates acusado pela direita e pelo silêncio de Seguro como o diabo, o novo Vasco Gonçalves. Quanto mais dura fosse a austeridade melhor seria para um futuro governo liderado por si, a direita seria responsabilizada pelas medidas mais duras e o seu governo beneficiaria de uma maior folga financeira. Foi por isso que na hora de dizer ao que vinha e quando o próprio governo calendarizava a recuperação dos vencimentos dos funcionários públicos, foi questionado sobre a manutenção dos cortes e respondeu que não dava garantias de recuperação dos vencimentos.

Seguro tem-se revelado um político “melhor do que a encomenda”, tudo nele é estratégia pessoal, era mole quando lhe interessava e tornou-se numa fera surpreendente quando foi desafiado. Tinha um problema de impotência enquanto líder da oposição e desde que apareceu António Costa é mais radical do que o velho Arnaldo Matos do MRPP, parece que engoliu a embalagem do Viagra e apanhou uma overdose de erecção de oposição.

O preço da rendição de Seguro foi um país sem esperança por falta de alternativa, o crescimento da esquerda conservadora, o esvaziamento do eleitorado do PS, um governo e um presidente a governarem desrespeitando a Constituição. É um preço demasiado elevado para servir a ambição pessoal de um político tão medíocre como António José Seguro.