segunda-feira, junho 30, 2014

Pontualmente com três anos de atraso

Costuma-se dizer que o comboio espanhol chega sempre pontualmente com uma hora de atraso, parece que o mesmo fenómeno corre com muitos políticos e comentadores que são pontuais com três anos de atraso. É o que sucede com António José Seguro, o político que diz que vai ser diferente, que vai ser honesto, o problema é que a sua honestidade é pontual com três anos de atraso. Foi o que sucedeu com o memorando de entendimento com a troika, Seguro esperou mais de três anos para ter a coragem de dizer que discordava dele.
  
Não é difícil de adivinhar que daqui a três anos Seguro discorde que tenha havido o famoso desvio colossal que serviu a Passos e Gaspar iniciarem a cavalgada de overdose de troika a que Seguro nunca se opôs frontalmente. Daqui a três anos também deverá discordar das sucessivas revisões do memorando a que não se opôs e não seria de admirar que venha a dizer que por ele teria chegado a um acordo com PSD e antecipadon as eleições, mas que os socráticos não o deixaram.
  
Este fenómeno de pontualidade não é exclusivo de José António Seguro, sucede o mesmo com Cavaco mas este é mais manhoso do que o ainda líder do PS, habitualmente fica calado e quando se sente questionado recorda o que escreveu algures ou o que disse num qualquer discurso a que ninguém. Só que em Seguro temos um problema, sobre algumas coisas só sabemos o que ele pensava três anos depois, em compensação nas noutras em  que era conhecida a sua opinião sua opinião, como é a escolha de um candidato a primeiro-ministro através de directas, ele costuma mudar de opinião três anos depois.
  
É mais ou menos o que sucede com muito boa gente neste país, veja-se o que se passa com os excessos de despesa de Sócrates. Cavaco fartava-se de elogiar as reformas de Sócrates e a oposição sempre foi unânime em pedir mais despesa pública, nenhum OE foi criticado por prever despesa em excesso, antes pelo contrário, Sócrates era sistematicamente criticado pelo contrário. Três anos depois, todos a começar por Cavaco eram críticos da política orçamental que tinha sido seguida.
  
Se os atrasos do comboio espanhol não passavam, de fama já no caso do atraso dos nossos políticos em dizem o que pensam sobre muitos temas tem outra justificação, a cobardia. A política portuguesa está transformada numa escola de cobardia e de oportunismo, já pouco importa o que os nossos políticos pensam ou dizem, eles comportam-se como se estivessem num concurso de canários onde os eleitores escolhem o que melhor canta.