Se fosse católico era um azar dos diabos nascer na Arábia Saudita, mais ou menos o mesmo azar que nascer social-democrata em Cuba ou mulher em Portugal.
Bem não é bem assim, só não convém nascer pobre e mulher, porque se assim for estamos condenados às (muito recentes) preocupações da Igreja com a vida humana, com o juramento de Hipocrates de uma Ordem dos Médicos, ao fundamentalismo das associações pró-vida semeadas pelo Paulo Portas e por Ribeiro e Castro, e a mais toda a hipocrisia que por aí vai.
Porque se nascesse mulher endinheirada teria um mundo de soluções, se tivesse medo de andar de avião iria ali a Badajoz, onde a Igreja não se meteria na minha vida e os médicos devem ter feito um juramento diferente daquele que foi feito pelo presidente da Ordem. E se andasse de avião poderia ir à maior parte dos países, só não conviria aterrar na Irlanda, já que o Vaticano não tem aeroporto, não tem aeroporto mas como todos os conventos tem paredes, mas isso fica para outra ocasião, as paredes não contam as suas estórias.
Bem, do mal o menos, se fosse mulher e pobre é muito provável que daqui por uns tempos já não iria para a cadeia se abortasse, aliás, se as palavras de Marcelo fossem para levar a sério (esse risco não existe pois Marcelo assumiu-se como uma ginginha para beber antes do Gato Fedorento) até poderia abortar aos nove meses. Poderia abortar de qualquer forma, usando uma agulha da malha ou um parafuso da linha do comboio, o importante é que não fosse à frente da vista de toda a gente ou com a ajuda de alguém que tivesse feito o tal juramento.
Ainda bem que não sou mulher, para azar já basta ter nascido em Portugal, não porque haja dinheiro a menos, a isso já me vou habituando, mas porque há hipócritas a mais.