A única dúvida que a meu ver colocam os voos da CIA transportando prisioneiros está em saber se as autoridades portuguesas autorizaram o espaço aéreo e o território nacional para actividades que violam as regras internacionais ou se o fizera abusando da boa-fé e das facilidades existentes nos aeroportos, as mesmas facilidades que se destinam a facilitar a mobilidade dos cidadãos e que permitiram à Al-Qaeda atingir Nova Iorque e Washington.
A não ser que os serviços de informação estejam atentos e a monitorizar os movimentos dos agentes da agência de informação norte-americana é pouco razoável que as autoridades que actuam nos aeroportos, Alfândegas e Serviços de Estrangeiros e Fronteiras, dispusessem de informação que justificasse a vistoria dos aviões e a identificação rigorosa de todos os passageiros. Não é essa a prática nos portos ou aeroportos, não seria razoável nem mesmo exequível, e muito menos seria estando em causa um país supostamente amigo e aliado.
A grande dúvida está em saber se abusaram da boa-fé ou se beneficiaram da autorização tácita de quem na ocasião mandava no país, Durão Barroso e Paulo Portas, dois admiradores confessos e apoiantes das políticas e práticas de George Bush.
Se abusaram da boa-fé de um país amigo estamos perante uma situação grave, significa que quando um cidadão norte-americano entra em Portugal como turista ou homem de negócios dever ser olhado com desconfiança. Se beneficiaram do apoio dos governantes portugueses é ainda mais grave, significa que estes usaram o país para facilitar práticas ilegais a aliados políticos.
Que os americanos usaram o território nacional para transporte de prisioneiros já ninguém tem dúvidas, que isso ocorreu durante o governo de Durão Barroso também é pacífico, o que importa agora saber é se a Europa tem à frente da Comissão alguém que prestou tão ignóbil serviço à CIA ou que é tão pateta que se deixou enganar pelos seus amigos, que o tinham em tão elevada confiança que nem se deram ao trabalho de o informar do que estavam fazendo no país que ele próprio governava.
No que respeita a Portugal a única dúvida está, portanto, em saber se a Europa tem à sua frente um homem que enquanto governou este país foi um pateta ou um sacana, e que agora mantém um silêncio cobarde como se nada tivesse que ver com o assunto, enquanto os seus companheiros do PSD se armam em hipócritas e usam a sua actuação para incomodar o Governo.