Portugal não é um país rico, os recursos naturais são escasso, a mão de obra tem problemas de qualificação, uma boa parte das empresas não são competitivas, muitos dos serviços do Estado funcionam mal, o ensino é fonte de subdesenvolvimento, são motivos suficientes para que a eficácia devesse ser uma doença nacional. Só com uma utilização eficaz dos recursos escassos é que Portugal supera os seus problemas, só sendo muito mais eficazes do que os nossos competidores é que poderemos reduzir a distância que nos separa.
Uma política de eficácia total implicaria que cada decisão pautasse pela optimização dos resultados e pela minimização dos custos, pondo fim a uma história de incompetência e exploração oportunista dos poucos recursos. É evidente que para que haja eficácia não basta vontade, as empresas só são eficazes se forem confrontadas com concorrência leal, os políticos só serão honestos e competentes se a opinião pública for exigente, os jornalistas só falarão com verdade e rigor se os seus leitores não se deixarem de enganar.
Mas também é também necessário que os portugueses entendam que não vai aparecer petróleo no Beato, que o atum não vai voltar à costa do Algarve, que o volfrâmio não voltará a valeu o que já valeu, que as pirites alentejanas ma dão para moedas de cinco cêntimos, e até ver vai continuar a chover água.
O pouco que já se disse sobre o Orçamento de Estado, à semelhança do que sucedeu com todos os debates orçamentais, ilustra bem a cultura de ineficácia deste país. Antes de mais temos políticos tão inteligentes que poucas horas depois da divulgação do Orçamento de Estado já estavam a produzir longas intervenções sobe o mesmo, quando tomos sabemos que não terão lido uma única linha do mesmo. O próprio Sócrates fez um exercício de pouco rigor ao andar a falar durante mais de uma semana sobre o orçamento reduzindo-o a um aumento percentual da despesa do ministério da Ciência.
Jornalistas, Governo, partidos da oposição, instituições, sindicatos e grupos corporativos lutam com base em variações percentuais, como se mais dinheiro significasse melhores resultados. Para o Governo importa realçar os aumentos das despesas politicamente correctos, a direita quer aumentos em todos os sectores e uma diminuição da despesa, os sindicatos querem menos impostos e aumentos no investimento e nos vencimentos, as instituições e os grupos corporativos querem aumentos nas respectivas mercearias e tudo o resto que se dane e os jornalistas passam o tempo em busca de aumentos ou reduções que possam ser notícia.
De eficácia ninguém fala, o Orçamento de Estado é um bolo onde todos disputam a fatia maior, independentemente de uns acharem que o bolo é pequeno demais e outros os acharem demasiado grande.