Estava a tomar café quando a TV deu a notícia da morte do Vítor, uma morte que ninguém é capaz de dizer que foi acidente, homicídio mais ou menos (in)voluntário ou mesmo julgamento sumário cuja sentença foi dada por um dedo nervoso no gatilho ou, a mais frequente das justificações, falta de pontaria.
Ao meu lado estavam vários polícias saboreando a enésima imperial, um deles com uma daquelas mariconeras que usam a tiracolo e que alguns dos nossos agentes policiais usam para levar a canhota. A reacção era de aprovação, bem feita, os gajos fugiram, estavam armados, conduziram em sinal contrário, desobedeceram ao agente da autoridade, a conclusão era óbvia, foi um trabalho bem feito, mereceram o que tiveram.
E se eu, como civil não especializado em mandar tiros para pneus que têm o condão de acertar sempre na cabeça das vítimas, tinha dúvidas a GNR ajudou-me a concordar, os “gajos” tinham cadastro, jogaram uma pistola para foram pela janela do carros (que graças a Deus a polícia viu e depois encontrou), enfim, qualquer cidadão tem que concordar que aquela ricochete da bala da G3 foi uma bênção para a sociedade e uma poupança para a justiça, poupou-se um tubo do balão, o tribunal não vai perder tempo com julgamentos, a arma jogada pela janela não vai matar mais ninguém. As linhas tortas que a bala descreveu devido ao estranho ricochete (sabe deus quantos ângulos terá descrito até entrar pelo pescoço do Vítor) lembram-nos que também Deus faz justiça por linhas tortas.
Com a morte do Vítor, o tal perigoso cadastrado que manda armas pela janela, podemos dormir mais descansados-