quinta-feira, outubro 12, 2006

O Último A Sair Que Apague a Luz




O título do post corresponde a um grafitti que o “anarcas” pintaram no Aeroporto de Lisboa, no distante ano de 1974, quando muitas consciências intranquilas rumaram ao Brasil, muito antes se ser fino ir bronzear as partes para as praias do Nordeste. Foi um dos melhores momentos de humor dessa época.
Desde então nunca mais se voltou a falar de fugas colectivas para o estrangeiros, os portugueses habituaram-se ao rectângulo, e por cá têm permanecido mais ou menos felizes.

O tema da fuga, algo que desde o século XV está-nos na massa do sangue, regressou com a “fuga” de cérebros, que se tem vindo a generalizar cada vez mais aos jovens que adquirem qualificações universitárias. Sinal dos tempos, fruto da globalização, estimulado pelo fim das fronteiras, facilitado pelas companhias aéreas de low cust, é um fenómeno novo, que voltou a espalhar muitas famílias pela Europa e mesmo pelo mundo.

Voltou a falar-se da fuga de cérebros a propósito do acordo assinado com o MIT, preocupação que na nossa história nos faz recuar aos tempos em que os comboios passavam ao largo de algumas terras alentejanas porque os latifundiários viam com maus olhos a facilitação da mobilidade da mão de obra local. Um idiotice, pois os nossos licenciados e o mundo de hoje nada têm que ver com os trabalhadores rurais dos montes de Montemor-o-Novo.

Ainda bem que os nossos jovens arquitectos vão os ateliers de Barcelona ou de Amesterdão onde são estimulados e podem assinar os seus projectos, em vez de serem escravos do Auto-cad nos ateliers dos nossos arquitectos bem instalados na vida. Ainda bem que os nossos gestores vão-se doutorar nos EUA e de seguida ingressam nas financeiras Londrinas em vez de virem para os nossos bancos especializarem-se na distribuição de sacos de plástico. Ainda bem que os nossos físicos conseguem ingressar em laboratórios europeus em vez de andarem a mendigar horários incompletos em escolas preparatórias atrás do sol-posto. Ainda bem que os nossos sociólogos preferem Londres a ir vender acessos à Net do Clix para a porta da estação de Metro do Chiado.

O país optou por não ser competitivo, os nossos empresários preferem a mão de obra não qualificada e os nossos políticos apreciam mais a ignorância dos romeiros da festa do Chão de Lagoa, na Madeira, aos jovens licenciados (um voto é um voto), os corruptores gostam dos corruptíveis. Só não faz sentido voltar a pintar nas paredes do aeroporto “o último a sair que apague a luz” porque agora não se foge para a protecção da ditadura militar, foge-se para países desenvolvidos, e duvido muito que uma boa parte das nossas elites tivessem lá o sucesso que têm tido no nosso país.