Veio o Barroso, disse-nos que estávamos de tanga, “tangueou-nos”, foi para Bruxelas e ficámos com o ‘dito cujo’ à mostra. Deixou nos seu lugar o Santana Lopes que achou que o que Portugal precisava era de uns “shots”, a versão de direita do PREC, e foi o que se viu.
Acabou o discurso da tanga, a austeridade passou a ter fundamentação científica, Sócrates nunca nos disse o que quer, o primeiro-ministro é um executor das conclusões de estudos, ganhamos menos e pagamos mais impostos por causa do estudo do Constâncio, vamos pagar a OTA porque os estudos provaram que era indispensável, foram estudos inquestionáveis que determinaram o traçado do TGV, e as SCUTS foram confirmadas por estudos a posteriori que concluíram pelas suas vantagens económicas.
Viemos numa “estudiocracia”, temos uma governação científica, longe vão os tempos em que os primeiros-ministros gostavam de ser apelidados de timoneiros, os homens do leme, agora o país navega com G'PS', Sócrates governa-nos como se fosse um piloto automático a seguir as coordenadas exactas definidas pelos estudos.
Só que nesta política e estudos e automatismos parece não haver lugar à esperança, é possível estudar o défice, construir modelos econométricos para estimar o crescimento, e até o director-geral dos impostos consegue ajustar a evolução da receita fiscal ao seu próprio calendário promocional, mas nada disso nos aquece a alma. Os funcionários públicos sujeitam-se a tudo por causa do défice, os mais pobres emagrecem com o salário cada vez mais mínimo por causa da competitividade, a classe média paga o que falta porque não convém reduzir a capacidade dos ricos e os pobres já deram tudo o que tinham a dar, e tudo porque está tudo estudado.
Só falta fazer um estudo que diga a Sócrates como criar esperança nos portugueses que não têm nenhum primo no PSI20 ou não estão em idade de emigrar, para que os portugueses sintam que têm futuropara além do inferno da crise não bastam as infantilidades como a do coitado do ministro da Economia. Com tanto estudo feito, Sócrates ainda não percebeu que não explicou as suas medidas aos que fazem os sacrifícios, não lhes disse o que têm a ganhar com isso nem quando.
São cada vez mais os portugueses que começam a perder a esperança, cilindrados por uma política científica onde abundam os axiomas e faltam os afectos. A variável esperança parece ter sido esquecida nos estudos do Eng. Sócrates.