sexta-feira, junho 08, 2007

Alguns estereótipos de director-geral da Administração Pública


Por mais que os governos pretendam que os serviços públicos sejam geridos com critérios próximos dos das empresas privadas, os seus directores gerais em nada se assemelham dos gestores daquelas empresas. Os directores-gerais são espécimes que ganharam características próprias, dignas a atenção dos darwinistas, são o resultado de um longo processo de adaptação e sobrevivência. Sobreviver no Estado significa ter grandes doses de subserviência, de silêncios cobardes, de servilismos, estas qualidades não servem para promover mas garante a sobrevivência, muitos dos nossos directores-gerais resultam de um processo de selecção invertido, não se escolhem os melhores, os seleccionados são os que não foram escolhidos.

É evidente que há gente que escapa a este processo, mas uma boa parte são facilmente identificáveis como exemplares dignos das Ilhas Galápagos. Aqui ficam alguns dos estereótipos mais frequentes:

O modelo de virtudes

Ao longo da vida foram funcionários exemplares, formiguinhas trabalhadores, usaram camisas coçadas como prova da sua honestidade, nunca se excederam em protestos, suportaram todas as atrocidades com um sorriso paciente, tiveram uma postura cristã, acreditaram que a Via Sacra de uma carreira cinzenta e servil os levaria ao céu.

Uma vida de sacrifícios descaracterizou-os e quando chegam ao cargo são imitadores do padrão estabelecido pelo chefe, se o primeiro-ministro for um António Guterres serão um exemplo de defensores do diálogo, mas se tiverem um Sócrates em São Bento serão uns decisores eficazes, mesmo que não saibam a diferença entre uma decisão enquanto acto de gestão e pura manifestação de despotismo saloio.

O modernaço

Uma das espécie mais curiosa de directores-gerais são os modernaços, não sabem qual a diferença entre um bit e um byte mas adoptaram o discurso da modernidade, copiam uma frases daqui, umas máximas dali, compram umas revistas técnicas e é vê-los a discursar como se fossem consultores da NASA. Ao ouvi-los qualquer governante fica espantado com tanto modernismo, vê-se logo que tem ali homem para um qualquer simplex.

O gestor

A melhor forma de um director-geral se apresentar como um grande gestor é chegar e nada gerir e isso é muito fácil, os nossos gestores têm uma frase chave com que abordam os dirigentes dos serviços, quando os responsáveis dos serviços lhes colocam um problema a resposta é sempre a mesma: não estão ali para encontrar soluções, não lhe levem problemas, indiquem-lhe as soluções. De uma penada resolvem os problemas das direcções-gerais, depois de todos saberem a sua máxima de grande gestor levará uma vida tranquila, não voltará a ouvir falar de problemas e se estes lhe são escondidos também nunca terá que saber se houve ou não soluções.

É uma pena que os gestores das nossas empresas não adoptem a mesma máxima, imaginem o que seria, por exemplo, o BCP, o Jardim Gonçalves pediria soluções ao Paulo Teixeira Pinto, este ao administrador do pelouro em causa que, por sua vez pediria a solução ao director-geral, como este também é um gestor pediria ao director regional que poria dos galões de gestor e passaria o problema para o chefe da agência, mas como este também será um gestor teria que se dirigir ao funcionário do balcão. Qual teria sido o empregado a decidir a opa sobre o BPI?

O publicitário

Nos últimos tempos, muito graças ao Macedo das missas de acção de graças, tem-se vindo a generalizar a espécie de director-geral publicitários, pouco se preocupam com os resultados finais, com a eficácia da sua gestão, o importante é que a imprensa fale bem deles. Comportam-se como os guarda-redes que se atiram para a fotografia, a bola mais fácil merece sempre uma defesa espalhafatosa e quando deixam entrar um frango tudo fazem para que os fotógrafos estejam a olhar para o outro lado.

Aditamento:

O pré-reformado

Numa Administração Pública onde a velhice é um posto, cujo modelo de gestão não raras vezes se assemelha a uma geriocracia, seria imperdoável esquecer os directores-gerais para quem o cargo funciona como uma pré-reforma, beneficiam das suas mordomias enquanto não aparecer um regime de pensões que os prejudique, nesse caso avançam logo com o pedido de contagem do tempo de serviço.

São directores-gerais úteis ao poder pois como não têm quaisquer objectivos ou ambições funcionam como excelentes capachos para os governantes.