quinta-feira, junho 07, 2007

Um povo unido


Algo de milagroso está a suceder, nunca vi tanto antagonismo a ser superado, tanto conflito a ser esquecido, tanta diferença a ser dirimida, algo está a unir os portugueses como nunca sucedeu no passado, nem sequer no histórico 1.º de Maio de 1974.

O que terá conseguido juntar Jerónimo de Sousa a Belmiro de Azevedo, Loução a Ricardo Salgado o director do Avante ao director do Público, a autarca de Leiria ao ministro de vislumbrou um deserto além Tejo, Paulo Portas a Manuel Monteiro, Marques Mendes a Carmona Rodrigues?

Que causa terá unido a busca de lucros da SONAE à conquista de votos do PCP, os problemas de Marques Mendes nas sondagens à busca do centro por Paulo Portas?

Deve ter sido algo mesmo muito forte para que todas as diferenças, ódios e antagonismos tivessem sido esquecidos.

Será que todos se uniram para encontrar soluções para o nosso subdesenvolvimento? Todos teriam a ganhar se Portugal ultrapassasse o seu subdesenvolvimento endémico, a SONAE ou o BES teriam mais mercado e, por conseguinte, mais lucros, o Público teria mais leitores, o PCP teria um proletariado melhor remunerado, o BE contaria com uma juventude da classe média mais irrequieta, o Paulo Portas teria ainda mais motivos para descolar da extrema-direita, Marques Mendes teria melhores condições para promover reduções de impostos, Sócrates teria um mandato tão sossegado que até teria tempo para voltar a estudar engenharia.

Não senhor, o que uniu os portugueses foi uma obra pública de impacto regional, mas não porque estejam muito preocupados com a despesa, ainda não ouvi nenhum dos muitos especialistas em finanças, obras públicas e infra-estruturas aeroportuárias (será que a Independente já ministra licenciaturas com estas três valências em simultâneo?) discutir o custo da obra ou se tal investimento não teria melhores resultados noutros domínios. Não se questiona a vontade de gastar muito dinheiro, a questão financeira não é utilizada para questionar a rendibilidade mas sim a localização.

Se não está em causa a opção por investir num aeroporto, então porque motivo anda tanta gente empenhada na localização? Serão os votos da margem sul, que apesar de estar longe de ser um deserto não são assim tantos, que movem tantas forças? O turismo de Lisboa também não deve ser pois a pequena percentagem de eventuais perdas de turistas prejudicam menos o turismo do que uma trovoada no Algarve.

O desenvolvimento nacional também não deverá ser já que se estão quase todos de acordo com a construção de um novo aeroporto não é a localização que vai decidir o futuro económico do país.

Então, o que será que movimenta tanta gente empenhada na questão da localização do aeroporto da Ota?

Tratasse de uma obra que move paixões, está para o desenvolvimento do país como o campeonato da Segunda Circular está para a Liga, uns querem a preciosa obra perto da sua casa, outros preferem-na próxima dos seus empreendimentos, outros preferirão nos seus terrenos e até há quem prefira que não se faça a não ser quando forem governo. Todos sentem que têm a ganhar ou a perder, todos têm estudos técnicos em apoio das suas posições.

Ainda bem que assim é, agora espero tanto empenho noutros assuntos nacionais que deveriam mobilizar o país, que deveriam ser objecto de debate permanente no parlamento e de intervenções constantes do Presidente da República.