segunda-feira, junho 04, 2007

Ciclos económicos e ciclos eleitorais



A economia tem o seus ciclos e ainda que com efeitos limitados percebe-se que a política económica procure evitar as consequências mais negativas desses ciclos. No caso da economia portuguesa a sua dependência externa leva a que muitos dos fenómenos económicos escapem à capacidade de intervenção das autoridades responsáveis pela política económica. Acresce-se que os instrumentos de política económica não só são cada vez menos eficazes, para além de com a União Europeia serem reduzidos. Resta-nos apostar no longo prazo tornando a economia portuguesa menos dependente do exterior e de um modelo assente na mão-de-obra não qualidficada.

Os políticos dão-se mal com os ciclos económicos, o ideal seria que estes se pudessem ajustar aos calendários eleitorais, mas isso não é possível e ainda por cima esses ciclos são cada vez menos previsíveis. Durão Barroso geriu o poder pensando que o ciclo recessivo não tardaria a passar e que o crescimento viria aí, em tudo via os famosos sinais de retoma e foi o que se viu, partiu e deixou o país à beira de uma crise de nervos.

Sem os instrumentos de política monetária devido à adesão ao Euro e com pouca margem de manobra orçamental e fiscal os governos pouco podem fazer para evitarem ser vítimas eleitorais dos humores da economia. Os meios disponíveis são pouco eficazes num horizonte temporal de curto prazo, resta-lhes a aposta no médio e longo prazo. Mas ninguém está a ver um primeiro-ministro português comprometer os resultados das próximas legislativas, apostando num horizonte temporal que vá para além do seu ciclo eleitoral. As experiências do passado serviram de lição, o PS foi por duas vezes vítima dessa "ingenuidade" e da segunda vez isso custou-lhe dez anos de oposição.

Enquanto os nossos governantes actuam como se fossem mestres de costa, navegando à vista, os problemas que geram instabilidade na economia portuguesa não são corrigidos. Desde que há eleições que políticos e eleitores se especializaram e inaugurações, adiando as reformas difíceis par a legislatura dos outros, acabando por levar a economia para o beco sem saída em que se encontra.

Sócrates não foge à regra, basta analisar com rigor a sua reforma da Administração Pública para se perceber que as consequências do modelo de avaliação dos funcionários foram cuidadosamente remetidas para depois das próximas legislativas e até os funcionários colocados na mobilidade e que nunca serão reenquadrados acabarão por ser despedidos passados dois anos de estarem neste quadro, ou seja, depois das próximas legislativas. As reformas de Sócrates são reformas em dois passos, o menos mau avança já e o mau é remetido para a próxima legislatura, quando os dinheiros europeus e a folga orçamental dará para obter votos que compensem os dos marginalizados pelo progresso à José Sócrates.

Mas Sócrates não está apenas a mandar o lixo para debaixo do tapete da próxima legislatura, está certamente a pensar nas próximas eleições e já todos perceberam que nessa ocasião vão baixar os impostos com maior impacto eleitoral. Mas para compensar as desgraças adiadas para a próxima legislatura Sócrates terá que encontrar soluções porque quatro anos depois há de novo eleições legislativas, isto é, em 2012. Coincidência ou não o Mário Lino já prometeu a criação de 100.000 empregos entre 2010 e 2012 à conta do TGV, já disse que a Portela esgota a sua capacidade neste período e diz que a conclusão da Ota antes de 2017 é um compromisso pessoal o que significa que nos anos 2010 a 2012 não faltarão obras para compensar as perdas eleitorais resultantes dos despedimentos na Administração Pública.

Mais uma vez as reformas da economia portuguesa serão adiadas ou condicionadas à gestão eleitoral das ambições pessoais dos políticos no poder.