Se não fosse o ministro Mário Lino ninguém teria imaginado camelos deste lado do Estreito, o perigo da desertificação é coisa do passado, o que está a dar é o CO2 e nem os ecologistas se preocupam muito com o assunto. Foi necessário a Agência Espacial Europeia (ESA) ter concluído no âmbito do projecto ‘Desert Watch’ que Portugal é um dos países mais atingidos pela degradação dos solos e, em consequência, pela desertificação.
Mas o problema não se limita nem reside na degradação dos solos, a desertificação não se limita a uma questão estritamente ambiental e o problema não é apenas do domínio da geografia. Desde que Portugal entrou para a União Europeia que uma boa parte do território e da população activa foram deixados ao abandono, a maior parte do nosso mundo rural está excluída da Política Agrícola Comum e o nosso Ministério da Agricultura tem-se limitado a negociar e a gerir os preços e as ajudas comunitárias.
Para as populações excluídas da “agricultura moderna” pouco mais restou do que a criação de cabras e ovelhas. A PAC não contempla a maior parte do nosso mundo rural, as suas OCMs e os seus mecanismos de intervenção e de trocas foram desenhados para as agriculturas de alguns países, designadamente a França.
Cavaco Silva, o primeiro-ministro que mais votos recebeu do nosso meio rural, esqueceu esta agricultura abandonada por Bruxelas, durante os seus governos assistiu-se a uma abrupta redução da população activa agrícola com as consequências que estão à vista. Depois dos governos de Cavaco Silva nada mudou, os ministros da Agricultura continuaram a fazer política agrícola nas viagens a Bruxelas, o tecido social da agricultura continuou a degradar-se, as fórmulas tradicionais de produção desapareceram, as variedades vegetais autóctones foram abandonadas, o eucalipto, o pinhal e o mato tomou conta das serras.
Até hoje nenhum governo entendeu a necessidade de políticas activas que visem combater a desertificação de uma boa parte do país, políticas que devem visar a sustentação do rendimento dos agricultores e que assegurem opções agrícolas e florestais adequadas às exigências ambientais.
Os problemas do mundo rural não resolvem transformando agricultores em serventes de pedreiro das grandes obras públicas ou alugando meios aéreos para combater os incêndios que vão queimando um campo abandonado e sem vida humana. As chamadas medidas ambientais não passam de alcagoitas para tranquilizar as consciências dos ministros da agricultura, é necessário muito mais, começando pela coragem e competência dos nossos próprios ministros da Agricultura.