sábado, junho 16, 2007

Democracia em tempo real


Um dos aspectos mais interessantes do debate sobre se deverá ou não ser construído um novo aeroporto ou onde esse aeroporto deve ficar localizado é a forma esse mesmo debate é feito. Em trinta anos de democracia poucas foram as questões que suscitaram tanta discussão, recordo-me, a título de exemplo, do problema do aborto ou, em tempos mais recuados, da unicidade sindical, quando o PCP sonhou com o controlo total e absoluto dos sindicatos.

Seria interessante se os nossos sociólogos, politólogos e outros cientistas do tipo “ólogos” estudassem este fenómeno pois revela não só o estado da nossa democracia como a forma de intervenção dos seus diversos agentes, desde a actuação do Governo às intervenções subtis do Presidente da República, do empenho de alguns partidos até à cambalhotas de Marques Mendes, da independência de jornais como o Público à generosidade de alguns empresários que financiam estudos em que a única condição é que apontem para esta ou aquela localização.

De repente todos os portugueses, do mais comum dos cidadãos ao estagiário da estação de televisão, são autênticos especialistas na arte de construir e decidir a localização de aeroportos. Apoiados nos mais diversos especialistas, desde ambientalistas a engenheiros de hidráulica, todos sabemos da matéria e temos opinião definida. Não faltam as sondagens e os que defendem um referendo, as próprias televisões vão às aldeias das localizações possíveis perguntar aos que passam na rua sobre o que pensam do assunto.

Talvez seja tempo de dar um passo em frente e passar a uma democracia em tempo real, com o recurso aos meios existentes já é possível decidir em cada momento o que o povo quer. Se os agricultores conseguiram solicitar as ajudas agrícolas através da Internet, porque não decidir tudo e mais alguma coisa num referendo permanente online. Poderíamos, por exemplo, estabelecer um dia semana para as decisões, na próxima segunda-feira decidiríamos o aeroporto, na seguinte, o destino a dar à senhora da DREN e a pena a aplicar ao Charrua, depois poderíamos resolver o problema da flexisegurança.

O empresários financiariam os estudos, os jornais divulgariam, as televisões debateriam, os cidadãos votariam , o governo decidiria e Marques Mendes entreteria. No fim, que fosse o que Deus quiser.