A política económica portuguesa lembra-me a uma velha história em que um lavrador decidiu poupar na alimentação do burro e tentou habituá-lo a não comer. Reduziu progressivamente a quantidade da ração que dava ao animal mas teve azar, quando já estava a atingir o seu objectivo o burro morreu.
Por cá também se está a tentar habituar o burro a viver sem comer, há vários anos que a única receita para o bicho é reduzir-lhe a dieta, vai-se cortando um pouco por todo o lado na esperança de a economia reanimar.
Aumentam-se todos os impostos, desde os impostos sobre o rendimento aos impostos sobre o consumo, passando pelos impostos especiais sobre o consumo. Apenas os benefícios fiscais sobre os produtos financeiros escaparam ao aumento da carga fiscal.
Adoptou-se nova legislação laboral com a qual o Bagão Félix prometeu que Portugal seria atractivo para o investimento estrangeiro. Ainda não se fez qualquer balanço dessa reforma e já aí está um novo estudo que conclui que o problema do mercado laboral é o facto de os trabalhadores terem direitos, algo que começa a ser um crime por estas bandas.
Dois dias antes do estudo sobre o mercado de trabalho ser divulgado soube-se de um outro que concluiu pela necessidade de pagar mais pelos cuidados de saúde, que as despesas de saúde não deveriam ser deduzidas da matéria colectável e até se falou em mais um imposto para financiar a saúde.
Na Função Pública foi o que se viu, exceptuando os magistrados e mais algumas grupos profissionais indispensáveis à estabilidade do regime, todos os funcionários estão a ser sujeitos a um processo de proletarização, que começou pela desvalorização social (iniciada por Manuela Ferreira Leite) para terminar numa perda generalizada de direitos.
De estudo em estudo o governo vai descobrindo novas medidas para que o “burro” consiga sobreviver com menos ração. Só que a economia não reanima e começa a ser altura de questionar se o burro vai sobreviver.
Se o rendimento nacional não diminuiu, o desemprego aumentou brutalmente e os trabalhadores ganham menos alguém deverá estar a ganhar, a ração que deixou de ser dada ao “burro” deverá estar a ir para o palheiro de outros. Talvez os burros sejam, afinal, aqueles que imaginam ter um desenvolvimento económico semelhante ao da Europa rica e um modelo social próximo do da América Latina, aqueles que pensam ou nos querem enganar convencendo-nos que um país de pobres pode ser rico.
Burros são aqueles que ainda imaginam uma economia assente na exportação de produtos de baixo valor acrescentado, produzidos por empresas que sobrevivem à custa de mão-de-obra barata. Burros são aqueles que acreditam num modelo de desenvolvimento assente no empobrecimento da maioria dos portugueses e no emagrecimento do mercado interno. Burros são aqueles que procuram soluções para conseguir a redução de salários que no passado se conseguia com desvalorizações da moeda. Burros são aqueles que em vez de procurarem valorizar os recursos nacionais, através da formação e do desenvolvimento tecnológico, insistem em assegurar a rentabilidade dos investimentos à custa de mais pobreza.
Um dia destes ou o burro morre ou se lembra de dar uns coices e gente como o ministro Manuel Pinho e outros neo-socialistas, que à falta de inteligência e competência não encontram melhores soluções para os problemas da economia do que fazer o que desde Salazar se faz neste país, compensar a incompetência das elites políticas e económicas com baixos salários.