Se o modelo keynesiano deixou de ter a eficácia de outros tempos enquanto modelo conceptual da política económica parece que encontrou no nosso sistema político as condições adequadas para voltar a estar na moda. Não pelos resultados do seu famoso “efeito multiplicador” ao nível do crescimento económico, mas porque os nossos governantes descobriram uma segunda virtude na multiplicação dos votos.
Algumas as grandes obras públicas são questionáveis numa perspectiva e desenvolvimento a longo prazo mas com ciclos eleitorais de quatro anos isso pouco importa, o que interessa ao político é que o investimento público gere a ilusão de desenvolvimento a tempo de o converter em ganhos eleitorais. Quando se conclui que as opções foram erradas e que os grandes problemas da economia ficaram por resolver já passaram anos suficientes para que os responsáveis não serem acusados de terem esbanjado as oportunidades, com alguma habilidade até conseguem ascender ao estatuto de grandes modernizadores do país.
Sem as ajudas comunitárias este oportunismo teria poucas hipóteses de sucesso, ao lançamento de grandes obras públicas corresponderia um aumento dos impostos, o endividamento público ou o aumento do défice público, antes de se sentir a reanimação da economia os contribuintes teriam a sensação de estar a suportar as opções oportunistas dos governos. Mas com o dinheiro “macaco” vindo do orçamento comunitário o país tem a sensação de que nada gastou e os governantes podem ajustar os investimentos públicos às suas agendas partidária. Se o dinheiro escassear o governo elege os funcionários como culpados de todos os males, sacrifica-os e poupa o suficiente para lançar mais um aeroporto ou uma auto-estrada.
As consequências destas opções oportunistas de política económica estão à vista, hoje discutimos o insucesso de Portugal face a países como a Irlanda ou a Finlândia. Poderemos ter melhores auto-estradas do que aqueles países mas os portugueses são bem mais pobres o que os irlandeses ou os finlandeses. Daqui a uns anos estaremos a dizer que temos um excelente aeroporto, auto-estradas com fartura, estádios de futebol na serra do Algarve e um TGV para Madrid, ao mesmo tempo roemos as unhas de inveja porque mais uns quantos países nos deixaram para trás.
A agenda económica de José Sócrates é mais um caso de keynesianismo eleitoral, as grandes obras públicas são agendadas em função da sua agenda política e eleitoral. Aliás, todas as suas reformas são cuidadosamente programadas tendo em conta os timings eleitorais e isso ficou evidente com as eleições intercalares de Lisboa que obrigou Sócrates a anunciar a interrupção do seu programa, sendo certo que será retomado logo que as eleições se realizem.