terça-feira, junho 26, 2007

Na tua casa ou na minha?


Não me incomoda que um modesto militante ou mesmo um dirigente de um partido deixe de se rever nesse partido e decida abandoná-lo, compreendo mesmo que passado algum tempo de reflexão possa aderir a outro partido, abraçar novos ideais. Compreendo também que alguém que se identifique com a esquerda (ou direita) decida abraçar os valores da direita (ou da esquerda). Longe vão os tempos dos casamentos para toda a vida, tal como o mundo também nós aceitamos que a mudança faz parte da vida, e quando se fala na hipótese de o primeiro-ministro abandonar a Igreja Anglicana para se converter ao catolicismo nada me espanta.

Novas realidades obrigam-nos a questionar os nossos princípios, a questionar os nossos valores, a aderir a novos projectos, a aceitar novas soluções, a luta pelo progresso é superior a domas enquistados. Até admito que o sentido do serviço público leve um político a aceitar participar num projecto político que não seja o seu, porque põe acima do seu egoísmo o bem comum.

Mas em Portugal as mudanças são muito abruptas e muitas vezes associadas a interesses económicos, muda-se de partido porque se consegue subir mais depressa na hierarquia política, a troco de benesses públicos ou porque o partido a que aderimos nos vai forçar a uma travessia no deserto.

Ao nível autárquico, são muitos os políticos que tendo “capital eleitoral” próprio mudam de partido sempre que o seu poder está ameaçado. Na corte de Lisboa não faltam os que inventam divergências quando se apercebem de que o seu "navio" se vai afundar e a melhor forma de garantir o futuro é mudar para uma embarcação que navega com o vento pela popa.

Compreendo que António Costa tente obter a maioria absoluta e até vai levar o meu voto, mas não posso aceitar que na sua campanha participe uma Maria José Nogueira Pinto que há poucos meses estava ao lado do PSD e que só abandonou a coligação por causa de uma nomeação do seu desagrado.

Não sei quantos votos vale a conhecida militante de direita, mas certamente não vale votos suficientes para que António Costa pague o seu peso em ouro. Nos últimos anos Maria José Nogueira Pinto tem sido inteligente na gestão da sua carreira, a cada salto político correspondeu mais um cargo público, com Cavaco foi para gestora hospitalar, com Durão Barroso foi para provedora da Santa Casa, com Carmona foi para vereadora e agora que a direita foi reduzida ao desemprego público descobre as virtudes de uma candidatura de António Costa que é a vencedora antecipada.

Neste caso, como em muitos outros, o princípio que defendo é que “Roma não paga a traidores”.