Enganaram-se os que imaginavam que Manuela Alegre estava a ensaiar a constituição de um novo partido político, a postura do ex-candidato presidência é mais a de alguém que prepara uma candidatura presidencial do que a de um candidato a primeiro-ministro. Até porque ser líder partidário, ainda por cima com a tarefa de construir um partido a partir do nada é coisa que dá muito trabalho.
Temos, portanto, uma nova forma de fazer política em Portugal, a do candidato presidencial estagiário. Alguém que tendo perdido nas últimas eleições presidenciais dedica-se a preparar a sua própria candidatura, usando para isso o seu cargo de deputado. Como para se ser Presidente da República são necessários 50% dos votos expressos Manuela Alegre já escolheu como alvo os eleitorados do PCP, do BE e do PS.
Quem ler o editorial do n.º 2 da revista Ops! Percebe que Manuel Alegre diz o que faria nas diversas pastas, só não esclarece se está a imaginar-se em São Bento ou em Belém. Como um partido alegrista teria o mesmo papel que teve o PRD, dar o governo ao PSD e bons empregos aos seus dirigentes como remuneração dos serviços prestado, é evidente que Manuel Alegre imagina-se em Belém. Isso significa que Manuela Alegre imagina um regime presidencialista, mas esse debate fica para quando Alegre assumir publicamente as suas ambições.
Como conta obrigar Sócrates a apoiar a sua candidatura, nem que para isso os seus companheiros voltem a usar a chantagem do novo partido, resta a Manuel Alegre namorar o eleitorado do PS e do PCP e a melhor forma de o fazer é sendo oposição ao governo, mesmo que isso significa que se comporte como deputado independente do PS, algo que não foi já que concorreu com o programa do PS e, tanto quanto me lembro, votou favoravelmente o programa do Governo.
Resta saber se vai convencer o BE e, principalmente, o PCP a permitir-lhe dispor dos seus eleitorados, algo que por aquilo que vou lendo no Avante não vai ser tarefa fácil, ainda recentemente Jerónimo de Sousa excluiu Manuel Alegre da sua esquerda.
Ao namorar o eleitorado do PCP Manuel Alegre está a cometer um erro, esquece que o PCP prefere ser oposição ao Presidente da República e ao Governo, não tendo que se comprometer com o poder para assumir a liderança da oposição à esquerda. Além disso o PCP até tem tido uma postura simpática em relação a Cavaco Silva, não deixando de fazer uma crítica de vez em quando o PCP tem manifestado simpatia por Cavaco Silva. Isso significa que o PCP poderá estar mais interessado em promover o seu próprio candidato enquanto Cavaco Silva consegue tranquilamente um novo mandato.
A única hipótese de Manuel Alegre reside numa segunda volta mas sem o apoio do PCP e perdendo parte do eleitorado do PS dificilmente haverá segunda volta se Cavaco Silva se recandidatar. Manuel Alegre arrisca-se a acabar a sua carreira como candidato presidencial estagiário.