domingo, novembro 30, 2008

Umas no cravo e outras na ferradura

FOTO JUMENTO

Aves de Lisboa: Felosa-comum [Phylloscopus collybita], Parque da Bela Vista, Lisboa

IMAGEM DO DIA

[PA]

«Henry the Llama emerges from a giant gift box in Paternoster Square, London, for the launch of World Vision Must-Have Gifts» [Telegraph]

A MENTIRA DO DIA D'O JUMENTO

No congresso do PCP houve um voto contra na votação do novo Comité Central.

JUMENTO DO DIA

Mário Nogueira, membro do CC do PCP

Talvez seja por estar ocupado a ouvir as instruções de Jerónimo de Sousa, o Avô Boca Doce, mas até agora não ouvia Mário Nogueira dizer uma única palavra sobre a agressão do aluno à professora da escola de Gondomar. Quando uma matulona tentou recuperar o telemóvel os professores aproveitaram o incidente numa estratégia de vitimização, durante semanas não se falou de outra coisa. Agora que uma professora foi esmurrada fez-se silêncio, talvez porque os alunos agressores têm sido um aliado, pelo menos quando a ministra visita as escolas.

Será porque tem uma pedra no sapato desde que os professores se divertiram e apoiaram a agressão dos alunos à ministra da Educação?

VÓMITOS

Só me apetece vomitar quando ouço o PCP dizer que a Coreia do Norte, dirigida por um doente mental que chegou ao poder pela via monárquica, está a caminho do socialismo. Para o PCP a diferença entre fascismo e socialismo está no nome do partido que está no poder, talvez por isso durante este ano tenha seguido estratégias de combate típicas dos neo-fascistas, como as manifestações "anónimas" à porta da sede do PS.

OS BOBOS DA FESTA

«1 O grupo parlamentar do PS prepara-se para introduzir no Orçamento do Estado uma disposição mediante a qual o montante das pensões de alimentos fixadas por tribunal a favor dos filhos passam a abater apenas 20% como dedução à colecta em IRS, em lugar dos 100% dedutíveis à matéria colectável que desde sempre vigorava. Traduzido por miúdos, isto significa que a pensão fixada por um tribunal na decorrência de um divórcio passa a ser tratada como um rendimento e para ambas as partes: para o ex-cônjuge que vive com os filhos e a recebe em nome deles (o que já é incrível), e também para aquele que a paga, o que seria impensável. Trata-se, portanto, de mais um aumento encapotado do IRS, justificado com queixas recebidas da Associação das Famílias Numerosas, que considerariam que os divorciados eram beneficiados fiscalmente em relação aos casados. Para obviar então a essa suposta discriminação, o PS, em lugar de aliviar a carga fiscal sobre os casados, resolveu antes agravá-la sobre os divorciados: eis como se acaba com a discriminação.

‘Esqueceram-se’ apenas de dois pormenores. Por um lado, os divorciados que não têm os filhos a cargo não recebem o abatimento fiscal que recebem os casados - o que significa que, a partir de agora, não têm o benefício de serem casados mas passam a ter o castigo de serem divorciados. Por outro lado, ‘esqueceram-se’ também que a grande maioria dos divorciados volta a casar-se e, em muitos casos, volta a ter filhos - o que implica não um alívio mas sim um agravamento da sua situação económica.

Não contente com isto e ao mesmo tempo que o seu Governo anuncia medidas financeiras e fiscais de apoio aos fabricantes do sector automóvel, o grupo parlamentar do PS propõe também o agravamento da carga fiscal para os compradores de automóveis. À primeira vista, parece um absurdo: com a economia em crise e o consumo estagnado, julgar-se-ia que a melhor governação seria a que procurasse medidas para relançar o consumo, não para o desanimar. Mas, de facto, não é absurdo, faz todo o sentido, embora seja maquiavélico: a ideia é penalizar a classe média, justamente tida como a que sustenta o grosso dos impostos directos individuais e a que irá continuar indefinidamente a sustentar o consumo, por mais impostos que lhes metam em cima. Sobretudo a classe média, que vive exclusivamente do seu trabalho, que não foge ao fisco, que não reclama subsídios do Estado e que sabe que, se não pagar o imposto, vão-lhe à casa ou ao ordenado sem apelo nem agravo. Se você é grande accionista do BPN ou do BPP e deve 500 ou 750 milhões, não se preocupe que tudo será feito para acorrer em seu auxílio. Nos anos bons, cobram-lhe não mais de cerca de 15% efectivos sobre os seus extraordinários lucros (os que não estão escondidos em «off-shores»); nos anos maus, acodem-lhe aos prejuízos. Mas se você tem o azar de ser tributado apenas no IRS e pelo seu trabalho, não há anos bons nem maus: facilmente lhe levam 42% dos seus rendimentos e começam a debitar juros no primeiro dia de incumprimento.

Ciclicamente, Governo e oposições falam em descer impostos. Mas falam apenas do IRC sobre as empresas ou de impostos indirectos, como o IVA. Jamais, em caso algum, se ouve falar em descer o IRS sobre a classe média. E a razão económica é fácil de compreender: grande parte do país - muitas vezes visto como o ‘sector produtivo’ - vive ‘alavancado’ (como gostam de dizer os economistas) na infinita paciência dos camelos que todos os anos, sem falhar, entregam ao Estado, só em impostos directos e Segurança Social, metade do produto do seu trabalho. E presume-se que assim será para sempre. Mas se um dia eles se revoltarem ou não puderem mais pagar, esqueçam todo o contencioso corrente: aumento de pensões, carreira do funcionalismo público, TGV e Alcochete, apoio às empresas, cobertura à banca. O país fecha, falido. Porque Portugal não tem petróleo, nem ouro, nem diamantes; não tem produtividade nem competitividade. Tudo visto, o país só tem duas fontes de riqueza, até aqui infalíveis: a generosidade de Bruxelas e o sacrifício fiscal da classe média.

2 E, agora que estamos em época fiscal natalícia - isto é, pagamento do remanescente do IRS de 2007, mais pagamento por conta do IRS de 2008 - deixo aqui um desabafo: um só euro que o Estado venha a gastar no BPP - seja através de dinheiro das Caixas ou do Fundo de Garantia, seja sob a forma de aval dado a empréstimos de outras entidades - será um euro roubado aos contribuintes. É perfeitamente legítimo, embora talvez não muito prudente, deixar que se instale um banco unicamente dedicado a gerir fortunas investindo no mercado mobiliário. E, se tudo correr bem, parabéns a quem arriscou confiar as suas economias aos gestores do banco e parabéns a estes que as souberam valorizar. Até é legítimo que o presidente do banco fale em “caso de sucesso” e que lance um livro a enaltecer os seus méritos de gestor (embora fique a ironia irrepetível de a aceleração da crise ter feito coincidir o dia do lançamento do auto-elogio literário com o dia em que se ficou a saber que ele estava desesperadamente a tentar que o Banco de Portugal lhe emprestasse 500 milhões de urgência para evitar a falência do “caso de sucesso”...). Mas se as coisas acabam por correr mal, se a grande visão estratégica da evolução dos mercados e das bolsas se revela absolutamente errada, por que é que aqueles que andaram a poupar para pagar impostos e sem a ambição de enriquecerem rapidamente e sem esforço, devem ser chamados a pagar os prejuízos dos outros?

Se já para o BPN pouca verdade havia no argumento de salvaguardar as poupanças dos clientes ‘inocentes’ (mas que escolheram o BPN porque lhes pagava anormalmente mais...), no caso do BPP esse argumento não resiste a nenhum critério de verdade ou de justiça social. Se os prejuízos dos investimentos de risco no BPN devem ser cobertos pelo Estado, então também terão de o ser os prejuízos de todos os que, noutros bancos ou individualmente, tinham acções ou obrigações cujo valor a crise varreu. E todos aqueles a quem a vida correu mal e a crise não ajudou. E com que dinheiro se fará essa monumental operação de resgate nacional? Sobe-se o IRS dos camelos para 45% e acrescentam-se mais uns anos e uns milhões aos encargos com a dívida pública que vamos deixar às gerações seguintes?» [Expresso assinantes]

Parecer:

Por Miguel Sousa Tavares.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Afixe-se.»

PROPOSTAS SIMPLES DE AVALIAÇÃO

«Não queria acreditar quando li nos jornais que os sindicatos pretendiam apresentar a ideia de auto-avaliação como alternativa à avaliação dos professores. A primeira reacção é que só podiam estar a brincar. Mas, infelizmente, era a sério.

Os sindicatos, com a radicalização da luta e a consequente falta de alternativas sérias, estão a fazer mais pela degradação da imagem dos professores do que muitos anos de desautorização por parte de sucessivos ministérios. Basta andar na rua, falar com pessoas não ligadas ao ensino para compreender o que, na realidade, as pessoas comuns pensam dos professores e da sua luta. Na verdade, apenas pensam uma coisa: que ‘eles’ não querem ser avaliados; que ‘eles’ querem progredir na carreira independentemente do esforço e da dedicação que dispensam à sua profissão.

Eu sei que não é assim com a maioria, mas é esta a ideia que os professores projectam através daqueles que deveriam representá-los.

Se os sindicatos estivessem mais preocupados com os professores e com a dignidade e respeito que eles, sem dúvida, merecem, deveriam propor algo de concreto e objectivo.

Por exemplo:

1) Que o Ministério, em vez de colocar todos os professores de norte a sul do país, se limitasse a designar um gestor para cada agrupamento escolar, ou escola.

2) Que esse gestor, em conjunto com um representante dos pais, um representante dos professores e um representante das autarquias envolvidas constituísse uma comissão responsável pela nomeação do director da escola, pela contratação de professores e empregados e pelo controlo da gestão da escola.

2) Que o director avaliasse os professores tendo em conta a sua actividade e os seus resultados no ano e que a Comissão pudesse ser o órgão de recurso dos professores avaliados.

3) Que o Ministério avaliasse o trabalho dos directores tendo em conta as notas obtidas pelos alunos da escola nos exames nacionais e em provas de aferição.

4) Que as famílias tivessem liberdade para escolher as escolas dos filhos.

Estes quatro pontos seriam uma revolução. Que os sindicatos não querem, porque centraria os professores nas suas respectivas escolas e não na política de pessoal do Ministério, e que os burocratas do Ministério não querem porque lhes retiraria o poder faraónico que têm.

Mas, se pensarmos um pouco nos destinatários, veremos que estes pontos (ou outros semelhantes e melhores) poderiam conduzir o ensino a uma excelência que assim jamais terá.» [Expresso assinantes]

Parecer:

Por Henrique Monteiro.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Afixe-se.»

FICA LOUREIRO!

«Andam por aí algumas pessoas a defender que Dias Loureiro se devia demitir de conselheiro de Estado. São, seguramente, pessoas mal informadas, a quem convém recordar algumas verdades, que ajudam a compreender a decisão do antigo administrador do grupo BPN, a qual está em linha com a cultura dominante do poder em Portugal.

Comecemos, então, pelo próprio BPN, que é um espelho onde vemos uma peculiar forma de fazer negócios, onde se mistura política, políticos e dinheiro. É uma história antiga, que, neste caso, assumiu a forma de banco, dando-lhe uma fachada de seriedade, agora desfeita.

Miguel Cadilhe e a sua equipa saíram do BPN, após a nacionalização. Foram para casa? Não, transitaram para a SNL, que era a «holding» do BPN e onde estão agrupadas as empresas que viviam dos financiamentos do banco. Tudo normal, portanto.

O governo recusou uma proposta do mesmo Miguel Cadilhe para ‘salvar’ o banco injectando 700 milhões de euros. Até agora, pelo que se vai sabendo, a Caixa Geral de Depósitos, ou seja, o Estado, já se viu obrigada a meter mais de mil milhões de euros e ainda a procissão vai no adro. Um bom negócio, como se vê, que ninguém explica.

Em Abril de 2002 o então vice-governador António Marta disse a Dias Loureiro, em declaração pública assumida pelo próprio, que o Banco de Portugal andava “em cima” do BPN porque este tinha “uma gestão pouco transparente”. Vítor Constâncio ainda não se deu ao trabalho de explicar como é que o Banco de Portugal deixou andar um banco em “gestão pouco transparente” durante seis anos, repito, seis anos. A única coisa que sabemos do governador do Banco de Portugal é que este cumpriu o seu dever.

Tudo isto, só por si, ajudaria a compreender porque é que Dias Loureiro continua conselheiro de Estado, perante o evidente embaraço do Presidente da República. Mas se a isto somarmos outros casos recentes o quadro fica completo. Fátima Felgueiras foi condenada em Tribunal, mas permanece presidente da Câmara. Uma mão cheia de outros autarcas têm acusações formais de abusos no exercício de funções, mas não se demitem. O presidente da Autoridade para a Concorrência viola o regulamento do cargo e dá pontapés na ética, mas continua no lugar.

Perante tudo isto só podemos dizer: fica, Loureiro! Afinal, é assim que as coisas funcionam em Portugal. Só alguns ingénuos ainda pensam que a política é um exercício de dever e um compromisso ético. Na realidade é uma apólice de seguro.» [Expresso assinantes]

Parecer:

Por Luís Marques.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Afixe-se.»

O REGRESSO DE "O INDEPENDENTE"

«O Independente’ era um jornal malcheiroso com um significado que o ultrapassava: as primeiras páginas que o tornaram famoso eram o sinal mais expressivo do período em que os enriquecimentos ilícitos foram a questão central da política portuguesa.

No Governo estava Cavaco Silva e o dinheiro jorrava de Bruxelas: era preciso gastá-lo depressa e tolerar algumas irregularidades - constava ser esta a posição de Cavaco - senão o direito de o receber caducava. Foi assim que tudo começou.

‘O Independente’ com as suas indignações fulminantes reflectia muito bem o despeito de quem já estava instalado perante a rapidez com que políticos, que vinham para Lisboa com carros a cair aos bocados, passavam para BMW topo-de-gama.

De vez em quando um deles tinha um processo-crime, apesar de a justiça desse tempo ainda funcionar pior do que a de hoje. Então, quando o processo era arquivado por falta de provas, Cavaco Silva mostrava a sua indignação pelo modo como jornalistas sem escrúpulos e magistrados incompetentes manchavam a reputação de homens impolutos.

Não é que os jornalistas de ‘O Independente’ fossem muito escrupulosos ou que os magistrados fossem muito competentes. Que os tais homens fossem impolutos é que era mais duvidoso.

É isso que dá um imperdível odor a «déjà vu» ao caso BPN. A única diferença é que aqui a conta que vamos pagar por causa das ilicitudes está devidamente contabilizada e temos o caso extraordinário do crime ser cometido à vista de toda a gente: ao que parece o BPN funcionava sem reuniões do conselho de administração e sem actas. Um pormenor insignificante do qual o Banco de Portugal, apesar da aturada vigilância a que submetia o BPN, nunca deu conta.

Conselho de administração havia: ainda que nos últimos anos (segundo as informações que obtivemos no sítio institucional do BPN) estivesse muito reduzido. Actas, é que não. Um estilo de governação societária rodeado de cuidados conspirativos e aprendido na Palermo Business School. Um estilo que em Lisboa pode durar por tempo indefinido: ainda no ano passado o banco anunciava um lucro muito confortável, e como diziam os últimos auditores (que revelaram uma excelente adaptação à cultura peculiar da instituição) num relatório assinado em Abril de 2008, as suas demonstrações financeiras apresentavam de forma verdadeira e apropriada a posição financeira do BPN.

Tudo isto é um pouco mais desconfortável para Cavaco Silva que as tais primeiras páginas de ‘O Independente’, mas o seu modo de reagir é mais ou menos o mesmo: não se pode dar demasiada atenção ao que se publica nos jornais, nada está provado, ainda ninguém foi condenado. Provavelmente o dr. Dias Loureiro anda demasiado agitado para o seu gosto, mas não é fácil passar de repente de «king maker» do PSD (lembram-se do tom paternal com que ele nos contava as suas conversas com o Pedro para explicar porque não tinha dado mais apoio a Santana Lopes?) para o estado de radioactivo.

Mesmo assim Cavaco Silva vai continuar a apoiá-lo, a menos que ele vá ao Palácio de Belém para confessar que é culpado, o que nos não parece muito provável. Afinal de contas a respeito de má moeda e de boa moeda, a situação (para mal dos nossos pecados) não é tão clara como parecia há alguns anos.» [Expresso assinantes]

Parecer:

Por Saldanha Sanches.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Expresso assinantes»

OS CÚMPLICES, OS HOMENS DE MÃO E OS INOCENTES SEDUZIDOS

«Oliveira e Costa não é o primeiro banqueiro preso em Portugal, nem o segundo, se contarmos com a banqueira do povo. O primeiro banqueiro a ser preso e, posteriormente, condenado foi Artur Virgílio Alves Reis. Em Dezembro de 1925, na sequência da descoberta de notas com numeração duplicada na filial do Porto do Banco Angola e Metrópole, Alves Reis foi detido no barco em que regressava de uma triunfal digressão por Angola onde, em nome do seu banco, celebrara diversos contratos de investimento, inclusive com o alto-comissário Rego Chaves.

No curto período de tempo em que criara o seu Limpério, cerca de nove meses, Alves Reis rodeara-se de diversos indivíduos, que o ajudaram a executar o seu plano. Havia os mais próximos, que vieram a ser condenados como seus cúmplices, uns que eram seus homens de mão, outros que seduzira para uma navegação à bolina entre uma actividade comercial e uma actividade criminal, seguramente muito rendosa.

Mas, para além desse círculo, Alves Reis conseguiu, ainda, associar à sua aventura nomes de políticos e altos funcionários de diversos quadrantes que lhe davam, a si e ao Banco Angola e Metrópole, uma aura de respeitabilidade e que se viram, posteriormente, envolvidos no processo judicial como arguidos.

Após uma primeira fase em que o juiz instrutor Pinto de Magalhães, seduzido por Alves Reis, chegou a mandar prender o governador do Banco de Portugal, Inocêncio Camacho, que seria libertado por Domingo Pereira, presidente do ministério nesse mesmo dia, o processo transitou para as mãos de Alves Ferreira, juiz do Supremo Tribunal de Justiça. Em 5 de Janeiro de 1926, recebeu o processo e imediatamente ordenou as prisões de Ferreira Júnior, Pedro Paulo de Melo e Joaquim Pinto de Lima, que haviam sido soltos por ordem de Pinto de Magalhães, e ainda de Óscar Zenha, Carlos Pereira e Nuno Simões.

O juiz Alves Ferreira defendera publicamente a conspiração bolchevista por detrás do caso Angola e Metrópole, afirmando que "tudo o convencera tratar-se de um complexo plano internacional urdido na Rússia". Tornara-se conhecido na perseguição aos republicanos, à frente do Juízo de Investigação Criminal, durante a ditadura de João Franco no reinado de D. Carlos. Agora havia que não poupar os políticos e Nuno Simões era um importante alvo político a abater.

Fora ministro muito cedo e era um independente, situado na "esquerda", tendo feito parte do governo nacionalista, presidido por Cunha Leal, em finais de 1921 e do governo democrático, presidido por Álvaro de Castro, em 1924. Era ministro do Comércio quando Alves Reis fora preso em 5 de Dezembro de 1925 e vira-se obrigado a pedir a sua demissão devido a uma campanha do jornal O Século associando o seu nome à burla do Angola e Metrópole.

Nuno Simões destacara-se na questão das "quatrocentas mil libras" em que atacara as pretensões dos bancos devedores que não queriam pagar em libras-ouro, mas em escudos, o que tinham recebido em 1919 em libras-ouro como um empréstimo do Estado.

O grande acusador contra Nuno Simões, no processo da burla de Alves Reis, foi Joaquim Adriano Velozo de Abranches, que desempenhava, simultaneamente, as funções de secretário do Tribunal do Comércio e de consultor jurídico do Banco Espírito Santo, um dos bancos devedores ao Estado e que fora publicamente acusado de causar a prisão de Cupertino Miranda. Nuno Simões foi um adversário à altura, demonstrando a sua inocência, mas só conseguiu ganhar de novo a liberdade sete meses depois, em Agosto de 1926.

Mas não só à esquerda conseguira Alves Reis seduzir políticos.

Diogo Pacheco de Amorim era um nome sonante no caso Angola e Metrópole. Professor da Faculdade de Ciências da Universidade de Coimbra e membro dos corpos dirigentes do "ressuscitado" Centro Académico para a Democracia Cristã, representava a direita académica conservadora e antidemocrática da sociedade portuguesa.

No dia 3 de Maio de 1926, Pacheco de Amorim foi preso no lugar de Sobreiro mas apresentou um atestado médico justificativo da sua impossibilidade de deslocação para Lisboa, ficando assim numa espécie de prisão domiciliária.

Era acusado de ter passado notas do Banco de Portugal, por concerto com os falsificadores. Os factos apontados pela acusação eram o ter dado umas consultas a Alves Reis, ter subscrito os dois requerimentos para a constituição do Angola e Metrópole, ser accionista, ter sido administrador do mesmo banco, bem como administrador da filial no Porto, onde substituía os gerentes, ter sido membro do conselho de administração da Companhia de Ambaca, ser pessoa de toda a confiança de Alves Reis e Adriano Silva, "colaborando com eles apesar de conhecer o seu passado suspeito", e, por último, o ter obtido para a Real Companhia Vinícola do Norte de Portugal muitos milhares de contos emprestados pelo "grupo Alves Reis", tendo inclusive transportado consigo parte desse dinheiro, que entregou ao tesoureiro da Real Vinícola, de que Pacheco de Amorim era administrador. E também recebera - graciosa oferta de Alves Reis - um discreto faqueiro em prata. Pacheco de Amorim defendeu-se e entretanto ocorreu o 28 de Maio de 1926: escolheu como seus advogados dois "mestres" de Direito, José Beleza dos Santos e Mário de Figueiredo, e teve como testemunhas António de Oliveira Salazar e Manuel Gonçalves Cerejeira, e em 28 de Outubro de 1927 o juiz instrutor Francisco Menano comunicava ao reitor da Universidade de Coimbra ter despronunciado Pacheco de Amorim, no dia anterior, por ter ficado demonstrada durante a instrução "a sua completa inocência", e fez constar dos autos "o quilate do seu altíssimo carácter". Parece que é assim: os vigaristas precisam de pessoas sérias para prosperar e as pessoas sérias precisam dos vigaristas para proclamarem a sua inocência.» [Público assinantes]

Parecer:

Por Francisco Teixeira da Mota.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Afixe-se.»

CAVACO E BPN

«Ao princípio, achei despropositado e até pouco digno que o Presidente da República fizesse o estendal das suas finanças para um certo "povo" verificar que ele não estava metido, nem de longe, nem de perto, na história pouco edificante do BPN Negócios. Principalmente, porque não passa e nunca passou pela cabeça de nenhum português que o dr. Cavaco pudesse ter cometido em toda a sua vida a mais leve impropriedade, de qualquer género ou espécie. Mas, de facto, começavam a aparecer insinuações, rumores, notícias falsas, que era perigoso deixar à solta. Como dizia o outro, a mentira repetida convence e Cavaco resolveu, muito bem, cortar o mal pela raiz. Só que não acabou, longe disso, com os sarilhos que o BPN lhe trouxe e, provavelmente, continuará a trazer.

Em primeiro lugar, há um enxame de grandes personagens do PSD, quase sem excepção do tempo dele, que inocentemente ou criminosamente (ninguém sabe ainda) se envolveram nas trapalhadas do BPN e das "sociedades" que o sustentavam. Para Cavaco, isto com certeza diminui o brilho do seu longo governo e transforma, na opinião pública, a herança que ele julgara deixar no preâmbulo a um caso de polícia, que não vai desaparecer tão cedo. Entre o inquérito da Assembleia, que o PS agora decidiu aceitar, a investigação oficial e o velho ódio do indígena à gente que se "encheu" na política, o "escândalo" do BPN é já uma questão de regime e põe em perigo a própria sobrevivência do PSD. Mesmo em Belém, Cavaco não escapará incólume à enxurrada que se prepara. Para o cidadão comum, a "culpa" (se ela existe) de cada criatura que o serviu, será também a "culpa" dele. É injusto, claro. Mas fatal.

E aqui entra, infelizmente, o dr. Dias Loureiro, conselheiro de Estado e amigo do Presidente, uma bota difícil de descalçar. Sem sombra de uma prova, o país suspeita do dr. Dias Loureiro e, na televisão e nos jornais, não falta por aí quem peça que ele se demita. Evidentemente, o dr. Loureiro não se demite, porque isso equivalia a uma confissão por grosso das fraudes do BPN. E o dr. Cavaco não o demite a ele, porque a lei não o permite e porque, se o permitisse, não havia razão alguma para o demitir. O Presidente fica assim obrigado a engolir as garantias que o dr. Loureiro lhe dá e o dr. Loureiro na prática recebe a bênção e o apoio do Presidente. Belém é hoje um sítio incómodo.» [Público assinantes]

Parecer:

Por Vasco Pulido Valente.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Afixe-se.»

FALSAS NEGOCIAÇÕES

«As expectativas de que as reuniões que decorreram ontem entre sindicatos e Ministério da Educação podiam resolver o impasse na avaliação avolumaram-se depois de a Plataforma ter dito ao DN que ia apresentar uma solução alternativa à tutela. Afinal, os sindicatos não apresentaram alternativas e o que devia ter sido uma negociação sobre o decreto regulamentar de simplificação da avaliação tornou-se numa situação de ruptura. De um lado, o ministério, que não abdica do seu modelo, e do outro os sindicatos, que exigem a sua suspensão, assim como do Estatuto da Carreira Docente, e que voltam a falar na demissão da ministra.» [Diário de Notícias]

Parecer:

É evidente que os sindicatos só vão às reuniões para não ficarem com o ónus da ruptura e conseguirem tempo de antena, desde o princípio que estão de má fé, a estratégia da Fenprof sempre foi levar ao conflito actual, para que o PCP obtenha dividendos eleitorais.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Suspendam-se as negociações com os sindicatos.»

PCP NÃO FAZ COLIGAÇÕES FORA DA CDU

«Num discurso de hora e meia, o secretário-geral dos comunistas abriu o Congresso do PCP reafirmando muito do que são as ideias plasmadas nas teses, designadamente no que respeita à política de alianças.

Para o PCP a erosão eleitoral do PS, provocada pelo facto deste partido ser hoje "a sela mais apropriada para o poder económico cavalgar nos seus interesses e privilégios", potencia convergência "na luta por uma alternativa política". » [Expresso]

Parecer:

Não é nada de novo, o PCP não quererá deixar de enfrentar o Bloco de esquerda, para além de odiar qualquer esquerda que não esteja sob a sua orientação. A própria coligação da CDU não passa de uma farsa para evitar levar o programa e os objectivos do PCP a eleições, os nossos destacados comunistas têm vergonha de assumir em termos eleitorais os seu próprio programa.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Ainda bem que Jerónimo de Sousa se coliga apenas com os falsos verdes, talvez seja desta vez que o Bloco o ultrapassa.»

BOA DESCULPA PARA SALVAR O BPP

«Os efeitos que a falência do Banco Privado Português teria na imagem de Portugal nos mercados externos, bem como a crise de confiança que acarretaria internamente, foram os dois factores determinantes para o Executivo ter tomado a decisão política de salvar a instituição. Isto, apesar de o ministro das Finanças, Teixeira dos Santos, considerar que a falência do BPP não acarretaria riscos graves para o sistema financeiro e de se ter mostrado particularmente irritado com o facto de o presidente do banco, João Rendeiro, ter dito publicamente precisar de 750 milhões depois de lhe ter sido comunicado que tal não seria possível. A injecção de 600 milhões no BPP, a nomeação de dois ou três administradores e a suspensão de funções de Rendeiro resultam de negociações lideradas por Constâncio, enquanto as autoridades de supervisão (BdP e CMVM) passam as contas do banco a pente fino.» [Expresso assinantes]

Parecer:

Tenho muitas dúvidas.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Revelem-se os nomes dos principais parceiros e accionistas do BPP.»

CALA-TE MILÚ

«Do lado do Governo, ao que o Expresso apurou, foram dadas orientações claras à 5 de Outubro para que baixe o nível de agressividade. A estratégia é esvaziar o mais possível a contestação, gerindo, dia-a-dia, os momentos críticos (o próximo será a greve geral de professores marcada para quarta-feira).

Desde a reunião de Conselho de Ministros da semana passada que Maria de Lurdes Rodrigues foi deliberadamente afastada da boca de cena, o mesmo sucedendo com o seu secretário de Estado Valter Lemos. Coube ao outro secretário de Estado, o mais cordato Jorge Pedreira, representar o Ministério da Educação no ‘Prós e Contras’ da última segunda-feira. E a ministra, que deveria ter ido ‘explicar-se’ aos deputados do grupo parlamentar socialista na quinta-feira à noite, foi dispensada em cima da hora, alegadamente devido ao facto de as votações do Orçamento do Estado se terem prolongado.» [Expresso assinantes]

Parecer:

É evidente que a ministra e, principalmente, o secretário de Estado têm sido um desastre na gestão da crise, dando muitos trunfos à estratégia do PCP e da Fenprof.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Pergunte-se a Sócrates porque não substitui o secretário de Estado Valter Lemos, um homem claramente incompetente para o cargo que desempenha.»

ALUNO AGRIDE PROFESSORA A MURRO

«Uma professora da EB 2,3 de Jovim, Gondomar, foi agredida por um aluno de 16 anos, a soco e a pontapé, ao início da tarde desta sexta-feira. A agressão ocorreu dentro da escola e a docente esteve cinco horas no S. João, no Porto, a fazer exames.

Só pelas 19 horas é que Artemisa Coimbra - figura activa na luta contra a violência doméstica, sendo responsável pelo Observatório de Mulheres Assassinadas da UMAR (União de Mulheres Alternativa e Resposta) - teve alta das Urgências. "Daqui vou para a GNR, apresentar queixa", desabafou, ainda com marcas da violência no rosto e com dificuldades em andar, devido a lesões que sofreu numa perna.» [Jornal de Notícias]

Parecer:

Agora seria a oportunidade para ouvir os professores que se divertiram com os alunos a atirarem ovos à ministra, bem como os que chegaram mesmo a elogiar esses alunos. O que dirão agora, que se trata de um aluno exemplar, ou isso apenas se aplica aos que agridem a ministra?

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Quem semeia ventos colhe tempestades.»

CARVALHO DA SILVA PROIBIDO DE IR À INICIATIVA DE ALEGRE

«Carlos Carvalhas, secretário-geral da CGTP, já não vai ao debate, de 14 de Dezembro, em que estaria lado a lado com Manuel Alegre (PS) e Ana Drago (BE) . A informação foi ontem prestada em comunicado pelo Gabinete de Imprensa do PCP. Justificação: "não participará nesse debate, para o qual foi convidado, em circunstâncias e num quadro bem diferente daquele a que agora se procura associá-lo."» [Público assinantes]

Parecer:

Quando soube, pelo Expresso, que Carvalhas ia estar presente fiquei admirado, não pela disponibilidade do líder da CGTP, mas pela tolerância do PCP. Ainda pensei que o PCP respeitava a autonomia de Carvalho Silva como líder da CGTP, uma central que até conta com outras correntes, incluindo a socialista. Afinal tinha razão, este PCP está-se nas tintas para a autonomia da central sindical.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Lamente-se e aguarde-se por uma atitude digna de Carvalho da Silva, ainda que isso seja muito improvável pois está em conflito com a condição de militante do PCP.»

O JUMENTO NOS OUTROS BLOGUES

  1. O "Foleirices" pescou a imagem do dia.
  2. O "Câmara de Comuns" sugere os posts dedicados aos nossos invejosos e à amigolândia.
  3. A minha "velha " amiga "Blogotinha" distinguiu-me com o prémio "Master Blog". Vindo de quem vem tem um sabor especial. Bigadinho.

IVAN EIBNER

POKÉMON [imagens]

GREEN KOREA