domingo, novembro 09, 2008

Umas no cravo e outras na ferradura


FOTO JUMENTO

Alcácer do Sal

IMAGEM DO DIA

[Sergei Grits/Associated Press ]

«Members of the Belarussian Communist Party held portraits of Lenin (left) and Stalin (right) during a commemoration rally of the 1917 Bolshevik Revolution at the central square in Minsk, the capital of Belarus. » [The New York Times]

JUMENTO DO DIA

Manuela Ferreira Leite

A líder do PSD nada tem a dizer sobre o anúncio de Santana Lopes da sua candidatura a Lisboa Depois de durante seis meses não ter dito nada é natural que também agora fique calada.

COM CAMARADAS DESTES...

Depois da trapalhada em que Manuela Ferreira Leite se meteu com o negócio que fez com Santana Lopes, esperava-se que o menino guerreiro tivesse alguma paciência, que desse margem à líder do partido para adoçar a pílula que vai dar de beber aos que com ela se candidataram em nome do rigor e da honestidade.

Mas Santana Lopes percebeu que a sua escolha fragilizou Manuela Ferreira Leite e não perdeu a oportunidade para dar entrevistas e chamar a si a atenção da comunicação social, até se dá ao luxo de dizer que vais presidir à autarquia lisboeta durante oito anos e que durante esse tempo não incomodará a líder do partido.

Santana Lopes denunciou o negócio que fez com Ferreira Leite e, ainda por cima, apaga a senhora.

MADEIRA: O DEPUTADO QUE LOS TIENE EN SU SITIO

Parece que ao fim de trinta anos o Alberto João e o seu PES-Madeira têm pela frente um opositor que "los tiene en su sitio", que não tem medo de gente como Jaime Ramos, que não receia a vingança e perseguição do poder regional, que não teme as queixas crime financiadas pelo regime. Não tem medo de chamar os bois pelos nomes, mesmo que isso leve ao encerramento do parlamento local só para que ele não tenha uma tribuna local.

Depois de muitos terem ido à Madeira prestar vassalagem a Alberto João, incluindo altas figuras do Estado, o líder local do PSD tem fixantemente alguém de quem deve recear, é o deputado José Manuel Coelho, do PND.

O LIBERALISMO SEGUNDO MIGUEL CADILHE

Miguel Cadilhe que foi uma das personalidades que defendeu publicamente o despedimento de 150.000 funcionários públicos para emagrecer o peso do Estado, até propôs que fosse usado o ouro do Banco de Portugal para financiar a operação, esqueceu-se dos seus bons princípios liberais e quando estava à frente do BPN tentou que esse mesmo Estado que não deve intervir na economia investisse 600 milhões de euros num banco sem futuro, ainda por cima sob a forma de acções sem direito a votos e mal remuneradas.

Mais um liberal que vai desaparecer do debate.


DEUS CONTRA DARWIN

«De facto, como é evidente, a existência de Deus não é nem pode ser objecto de ciência. Mas afirmar taxativamente que a evolução é mero produto do acaso não deixa de ser também uma posição dogmática. A ciência vai respondendo ao "como" da evolução, mas não responde ao "porquê", concretamente ao porquê e para quê da existência do Homem e de tudo: "Porque há algo e não pura e simplesmente nada?"

Como escreveu o cientista Francisco J. Ayala, na conclusão da sua obra Darwin e o Desígnio Inteligente, "a evolução e a fé religiosa não são incompatíveis. Os crentes podem ver a presença de Deus no poder criativo do processo de selecção natural descoberto por Darwin".» [Diário de Notícias]

Parecer:

Por Anselmo Borges.

P: Enfim, se não consegues vencê-los junta-te a eles...

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Afixe-se.»

PALAVRA DE MINISTRO?

«Depois de tantos anos a pedirmos a Deus que os bancos não nos levem em juros e comissões tudo aquilo que produzimos - para pagarem lucros chorudos aos accionistas e vencimentos milionários aos administradores - temos agora de rezar com mais força ainda para que não nos levem, em falências e avales, tudo o que pagamos em impostos. É neste ponto de incerteza que nos encontramos: o de saber ao certo qual a força e a amplitude do ‘buraco negro’, que ameaça sorver toda a riqueza à sua volta. Ora parece que está tudo bem e até nos sentimos gratos aos nossos banqueiros por não estarmos a viver o pesadelo dos islandeses ora o Governo reúne de emergência para tomar conta de um banco falido.

O Banco Português de Negócios era um caso especial, cujos “problemas”, segundo ministros e deputados - curiosa esta reverência quando as vigarices são praticadas por gente de colarinho branco e pose de Estado - eram anteriores à crise e conhecidos há muito. Pode-se mesmo dizer que, com excepção do governador do Banco de Portugal, toda a gente sabia e tinha ideias claras sobre o que fazer, se repararmos bem no que se disse nas televisões e na rádio, ou no que se escreveu nos jornais por estes dias. Pena que, a par das notícias esparsas e logo esquecidas que foram publicadas nos últimos anos, este clamor de denúncia não se tenha feito ouvir a tempo de produzir efeito e de evitar que o Estado tivesse de enterrar tantos milhões no BPN.

Agora é tarde. Os importantes do banco nos seus tempos de ‘glória’ remetem-se a um prudente silêncio e, se falam, não sabem de nada, obviamente, nem lhes passa pela cabeça que tenha sido cometida alguma irregularidade. Muito provavelmente, até já puseram as suas contas a recato noutro banco mais confiável. Ou nem se deram a esse trabalho, tal a segurança de que o Governo, sem alternativa melhor, acabaria por cobrir os seus interesses com o nosso dinheiro.

Na verdade, o que a situação actual tem de mais perverso é isso mesmo: o Estado tornou-se refém dos banqueiros e, em particular, dos banqueiros sem vergonha. O próprio ministro das Finanças o admite, ao dizer agora que conhecia perfeitamente os “problemas” do BPN quando, há poucas semanas, deu a sua palavra de que nenhum banco português tinha... “problemas”. Quer dizer, Teixeira dos Santos reconhece que mentiu para evitar que se gerasse o caos no sistema, acabando-se com o que resta de confiança nele. E voltou a empenhar agora a sua palavra, assegurando que não há mais nenhum banco com “problemas”. Isto quer dizer que, se outro BPN vier a declarar-se, será o próprio ministro a ter “problemas”. Até porque a sua palavra deixará de ter valor como garante de confiança para clientes e depositantes. É que não são só os falsos banqueiros que estão em xeque no caso BPN. Se estes não forem exemplarmente punidos, os políticos aparecerão sempre como seus cúmplices. Pelo que não fizeram para evitar o desastre e pelo que estão a fazer para lhe reduzir os danos.» [Expresso assinantes]

Parecer:

Por Fernando Madrinha.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Afixe-se.»

HÁ LODO NO CAIS

«1 Mais tarde ou mais cedo, um BPN iria rebentar-nos nas mãos. Acabou por rebentar tarde de mais e sem nada que ver com a crise financeira mundial. O BPN não ficou falido, com 700 milhões a descoberto, devido a dificuldades da conjuntura ou até a erros de gestão. Não, o BPN faliu devido às vigarices em que se envolveu e que estavam na raiz da sua própria criação: por alguma razão o baptizaram de Banco Português de Negócios. Negócios de lavagem de dinheiro, de «off-shores», de financiamento da corrupção, enfim, de todo o cardápio de malfeitorias possíveis neste ramo de negócio.

O BPN não foi criado nem por banqueiros nem por gente com algum conhecimento ou experiência no ramo. Foi criado por gente que vive e prospera nessa zona cinzenta onde confluem a política e os negócios: um pouco de bloco central, com os ‘socialistas’ dos negócios e muito do supostamente defunto núcleo do cavaquismo dos anos 90. À frente do BPN, nos tempos do fartar-vilanagem, esteve o dr. Oliveira e Costa, sibilina figura do ‘cavaquismo de província’, que então foi secretário de Estado do Fisco e no BPN se dedicou a abrir cerca de oitenta contas em «off-shores», onde se esconde dinheiro e não se paga impostos. Por aqui se pode ver desde logo o estofo moral de alguns que às vezes nos calham em sorte na governação. É sem dúvida revoltante e paradigmático que o dinheiro dos impostos que tanto custam a pagar a tanta gente sirva agora para evitar a falência de um banco que as tropelias de um ex-responsável pelo Fisco levaram à falência. É sempre assim: quando tudo o mais falha - a cautela, a vigilância de quem deve, a simples decência e vergonha - resta o dinheiro dos contribuintes para apagar o incêndio.

Quando, há quase um ano, saltou para a praça pública a peixeirada interna do BPN, isso não surpreendeu rigorosamente ninguém, pois que, à boca cheia, já tudo e todos comentavam o que lá se passava e a impunidade de que parecia gozar o banco. Compreendo que o Estado tenha optado agora pela nacionalização como forma de defender o dinheiro dos depositantes, mas, 280.000 ou não, duvido que eles não achassem estranho que o BPN remunerasse mais o seu dinheiro que qualquer outro e que não desconfiassem de nada, nem que fosse apenas olhando para os nomes e caras daquela gente. De então para cá, tiveram tempo e informações suficientes para poderem sair e ir para paisagens mais arejadas. Mas não o fizeram, talvez porque, como ouvi agora a alguns deles, tinham a garantia de que o Estado (isto é, os contribuintes) acorreria, como acorreu, em caso de necessidade. Aliás, soube-se há menos de um mês (já depois de ter sido chamada a polícia), que o Estado, através da Caixa Geral de Depósitos, tinha emprestado 200 milhões ao BPN e soube-se agora que lá mantém uma conta-corrente, cujo montante não nos é dado conhecer. Não sabemos assim até que medida a nacionalização não visa também proteger a falta de juízo do próprio Estado.

Tenho sinceras dúvidas de que a opção de deixar o BPN ir à falência, declará-la fraudulenta com as respectivas consequências criminais e garantir aos depositantes aquilo que recentemente foi garantido para todos, não fosse a melhor decisão para os contribuintes e a mais saudável para a vida económica. Servia pelo menos como aviso para futuros candidatos à generosidade pública.

2 O dr. Miguel Cadilhe é o mais improvável herói desta suja história. Seguramente que sabia ao que ia e imaginava bem o que iria encontrar, quando aceitou, em Junho, a presidência do BPN. E tanto o sabia que tratou de negociar, como condição de aceitação, um sumptuoso plano de reforma, para o caso de as circunstâncias o virem a obrigar a ir-se embora antes de tempo. Mas o que viu, quando lá chegou, acabou também por forçá-lo, à cautela, a chamar a polícia, não fossem depois acusá-lo de ter omitido a gravidade da situação. Ao mesmo tempo, propôs à tutela que lhe emprestasse os 700 milhões de euros que estavam a descoberto, sem nenhumas garantias efectivas de poder pagar e apenas para garantir que o negócio continuaria, como de costume. Se bem percebi as suas intenções, a polícia trataria do passado do BPN, os contribuintes tratariam do presente e ele manteria o seu lugar para o futuro. Teixeira dos Santos recusou e fez bem. Cadilhe vingou-se, descarregando a sua ira no supervisor, o majestático dr. Constâncio - que, verdade se diga, está adormecido há séculos.

Mas são coisas diversas, a falta de regulação e a falta de escrúpulos. A única coisa comum é a saturação deste bloco central dos negócios e dos cargos públicos. Em troca de tantas benesses, cargos e atenções do poder que sempre tem recebido esta gente, o que lhes deve, afinal, o país?

3 O movimento de cidadãos de Lisboa contra a ampliação do Terminal de contentores de Alcântara, de que sou um dos fundadores, anunciou no passado dia 27, em conferência de imprensa, que iria abrir uma subscrição pública contra o decreto-lei que autorizou a celebração de um contrato entre a Administração do Porto de Lisboa (APL) e a concessionária Liscont. O objectivo da petição (que atingiu o mínimo de 4000 assinaturas necessárias em 24 horas), foi entregar na Assembleia da República um pedido de ratificação parlamentar do decreto do Governo. O pedido está entregue e isso significa que os deputados vão ter de apreciar o diploma do Governo e poderão revogá-lo, se assim o ditar a sua consciência e a sua noção de interesse público. Sabedora disto, a APL tratou de, logo no dia seguinte, assinar a correr o dito contrato com a Liscont, mediante o qual esta ficou desde logo garantida com uma brutal indemnização no caso de o projecto não ir adiante. Tudo devidamente cozinhado entre dois conhecidos escritórios de advocacia de negócios, muito socialistas.

Há quem considere isto uma falta de respeito inadmissível pela Assembleia da República, por parte de um organismo público, que administra coisa pública e cuja tutela cabe ao Governo. Há quem considere também uma estranha noção do que é a vida democrática e a consideração devida pela opinião pública. Eu não considero nada disso. Considero um escândalo, puro e simples. Um gesto que diz tudo sobre a dimensão dos interesses que estão em jogo e a influência que alguns muito poderosos têm sobre os actos da governação pública. É o Estado cativo de interesses privados. Terceiro-mundo.

4 A propósito do negócio de Alcântara, o campeão nacional da asneira - o ministro das Obras Públicas, Mário Lino - resolveu meter-se ao barulho e declarar que um quilómetro e meio de extensão de contentores empilhados à beira-rio “terá um impacto visual mínimo”. Quem possa ter dúvidas, que vá lá ver e imagine o que ali está multiplicado por três. Entre outras coisas, constatará que, ao contrário do que jura a Liscont, não é verdade que “razões técnicas” impeçam amontoar cinco contentores em cima uns dos outros: anteontem, havia lá várias pilhas de seis. Talvez Mário Lino não consiga, sinceramente, distinguir a diferença entre uma paisagem de contentores com 15 metros de altura e a de um rio ou a do ‘Queen Mary II’ acostado à Gare Marítima. Mas a Cunha Vaz e Associados e a LPM - os arguidos habituais na ‘assessoria de imagem’ dos grandes negócios - bem podiam justificar o dinheiro que cobram à Liscont e à APL mandando o ministro ficar calado. É que, de cada vez que ele leva a arma à cara, seja para defender a OTA, o TGV ou o Terminal de Alcântara, o tiro sai pela coronha.» [Expresso assinantes]

Parecer:

Por Miguel Sousa Tavares.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Afixe-se.»

O DRAMA E A FARSA

«Telejornal, 5ª feira, 30. Um trabalhador da Delphi, ar pouco feliz, manifesta o seu cepticismo perante notícias sobre a continuação da empresa. Com o estado em que está a General Motors, a vender cada vez menos, tinha razões para estar pouco animado. Temos todos: recordemos o sector dos componentes automóveis, quarenta mil trabalhadores, um dos sectores que exportam e que têm aguentado a economia. Um sector inteiramente dependente da conjuntura internacional e um pilar (oculto) do país.

O mesmo telejornal, a seguir: um grupo de oficiais do exército, reformados e no activo, de copo na mão, num bar de restaurante, toma os seus aperitivos antes do jantar. Um jantar de luta. Quando chegam as câmaras põem um ar sério e iniciam variações do velho fado ‘agarrem-me, se não desgraço-me!’. Se alguns dos seus problemas não forem resolvidos, eles têm armas. Também têm armas. Na Fonte da Moura deve haver mais, e actos incontroláveis não faltam por esses lados.» [Expresso assinantes]

Parecer:

Por Saldanha Sanches.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Afixe-se.»

UMA QUESTÃO DE ESTADO

«O Governo nacionalizou o Banco Português de Negócios, depois de recusar um plano de "salvação" de Miguel Cadilhe, que previa um reforço de capitais - feito naturalmente pelo Estado com o dinheiro do contribuinte - de 600 milhões de euros. Como é público e notório, a história pouco exemplar do BPN vinha de longe. Mais do que isso: corriam rumores sobre irregularidades várias, que aparentemente não foram tomadas muito a sério, embora já em 2005 a Operação Furacão tivesse levantado suspeitas de grande gravidade. O tempo correu. Em Março deste ano, segundo o Diário de Notícias, o Banco Central de Cabo Verde preveniu Vítor Constâncio que nem tudo era claro nas relações do Banco Insular, uma "filial" do BPN, e o próprio BPN. Em Julho, repetiu o aviso. E, finalmente, em Setembro, Vítor Constâncio entregou o caso ao Ministério Público.

Logo o Banco de Portugal, até ali passivo, anunciou "a descoberta" de "um vasto conjunto de operações de crédito clandestinas", de que só havia registo em dois computadores. Pior ainda, em Outubro, com certeza com conhecimento de causa, Cadilhe denunciou uma série de "crimes financeiros", presumivelmente cometidos por quem o precedera. O que não impediu a Caixa Geral de Depósitos de emprestar pela mesma altura ao BPN 200 milhões de euros, sem qualquer espécie de sobressalto. Dizem por aí que este "escândalo" é um "escândalo financeiro ímpar" em Portugal. Não é. É pura e simplesmente uma questão de regime. Porque um regime em que o BPN se criou e agiu em toda a liberdade não merece confiança alguma.

Primeiro, porque o Banco de Portugal, como se não lhe chegasse o fiasco do BCP, falhou completamente nas suas funções de fiscalização. E, segundo, porque entre a gente que, da fundação à "falência", ocupou altos cargos no BPN estavam figuras políticas da maior importância: José de Oliveira e Costa (secretário de Estado de Cavaco), Dias Loureiro (ministro de Cavaco), Daniel Sanches (ministro de Santana), Rui Machete, o inevitável Guilherme de Oliveira Martins e um genro de Aznar, ex-secretário do Partido Popular espanhol. Isto põe um problema essencial. Se a justiça portuguesa não desembaraça rapidamente a tremenda meada do BPN, se não apura rapidamente responsabilidades sem respeito ao estatuto e posição seja de quem for e se não julga e pune rapidamente os culpados, prova, proclama e fundamenta a corrupção do Estado. Existe uma diferença entre o que sucedeu no BPN e um assalto a uma ourivesaria.» [Público assinantes]

Parecer:

Por Vasco Pulido Valente.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Afixe-se.»

A CHANTAGEM COM O BPN E AS LIÇÕES DO CASO ALVES DOS REIS

«Diziam que tinham provas de lavagem de dinheiro e queriam ser pagos para se calar - Como tentaram sacar 5 milhões ao BPN - Estes quatro homens estão a ser julgados por uma tentativa de extorsão ao banco que o Governo nacionalizou.

Este título da 1.ª página do jornal 24 Horas da passada quinta-feira anunciava uma história edificante e bem portuguesa: cinco homens tinham tentado fazer chantagem com José Oliveira e Costa, o mentor do BPN, com base em documentos que provariam a lavagem de dinheiro feita pelo banco, mas foram denunciados à Judiciária e presos. Estão agora a ser julgados e aguarda-se que, no dia 19 do corrente mês, Oliveira e Costa compareça para fazer o seu depoimento numa colaboração estreita com a justiça, que se espera seja longa e frutuosa.

O caso faz lembrar o do Banco Angola e Metrópole, com a diferença que, ao menos, Alves Reis tinha tido o trabalho e a ousadia de mandar imprimir as notas falsas: no dia 28 de Novembro de 1925, um emissário do jornal Imprensa Nova foi detido por um inspector bancário quando fazia chantagem com um cúmplice de Alves Reis e dirigente do banco, prometendo abandonar a campanha contra o Angola e Metrópole se fossem dados cinquenta contos ao jornal. O dirigente do banco, nesse mesmo dia, entregou a outro cúmplice algumas das notas falsas que estavam no banco, com receio de que a inspecção bancária fosse examinar os cofres, as encontrasse e ele "... não saber, se tal facto se desse, o que dizer-lhe...".

Preocupação que Oliveira e Costa, naturalmente, não teve, já que não havia notas falsas no seu banco. Mas, muito provavelmente, da intervenção do sistema judicial nesta tentativa de chantagem não resultou qualquer diligência para se saber que papéis comprometedores eram aqueles que os cinco homens diziam ter em seu poder. Muito provavelmente, tais documentos não foram remetidos para o Ministério Público. Muito provavelmente, não se passou nada. No caso Alves Reis, poucos dias após a tentativa de chantagem, estavam presos não só o chantagista, como todos os dirigentes do banco.

E no BPN vai passar-se alguma coisa? O sistema judicial vai algum dia permitir-nos saber o que se se passava naquela instituição? Depende, mas é pouco provável.

Claro que se houver uma vontade séria de apurar responsabilidades e de descobrir culpados, como foi, por exemplo, o caso na aprofundada investigação que foi feita no âmbito da Administração Fiscal, com a violação de centenas de e-mails de funcionários públicos, para descobrir quem era o responsável por se ter publicitado o vencimento do então director-geral, pode ser que se venha a passar alguma coisa.

Saliente-se que, nesta investigação aos e-mails dos funcionários, houve o cuidado por parte do Ministério Público de pedir autorização ao juiz de instrução para poder aceder ao conteúdo dos e-mails, mas este considerou desnecessária a autorização, por os e-mails constituírem correspondência já aberta, pelo que era desnecessário um mandado judicial. Uma interpretação, no mínimo, ousada, mas claramente justificada face aos valores em causa e à importância e transcendência da investigação. Infelizmente, não se descobriu quem era o "garganta funda" das Finanças, mas ficaram todos os funcionários públicos avisados: o Estado não hesita em investigar a fundo e em gastar o que for necessário, quando a situação o justifica.

Mas, repetimos, no caso BPN é pouco provável que se passe alguma coisa, já que toda a história do BPN parece ser uma questão de menor gravidade que não tem a relevância que teve a revelação pública do vencimento de um director-geral. E para questões menores, não se justificam investigações aprofundadas.

No fundo, a situação é semelhante à da "aparição" daquela disposição na Lei do Orçamento que viria permitir o financiamento partidário em dinheiro fresco. Seria, provavelmente, a centésima primeira alteração à lei do financiamento dos partidos políticos, mas, lamentavelmente, foi detectada por um jornal. Ainda foram feitos uns telefonemas para esclarecer o assunto, explicando que essa disposição que permitiria um pouco mais de "rebaldaria" não fora ideia nem do primeiro-ministro, nem do ministro das Finanças. Repete-se: foi um erro técnico, um lapso legal que, inclusive, se quis, de imediato, rectificar. Há alguma necessidade de investigar quem introduziu na Lei do Orçamento essa discreta alteração? Para quê tentar saber quem foi que forjou tal alteração? Ou, ainda, qual o interesse em descobrir quem introduziu aquela alteração ao Código Penal que veio facilitar a vida aos abusadores sexuais ou aquela que veio proibir a reprodução de escutas telefónicas existentes em processos-crime?

Voltando ao BPN: no caso do Angola e Metrópole, Inocêncio Camacho, governador do Banco de Portugal, chegou a estar preso umas horas quando Alves Reis, na prisão, conseguiu convencer o juiz que investigava o caso que aquele era seu cúmplice na emissão clandestina de notas. Foi o chefe de Governo de então que, face a tal despautério, ordenou a libertação de Inocêncio Camacho.

No caso BPN, não houve emissão clandestina de notas físicas, mas houve seguramente a emissão contabilística de muito dinheiro inexistente. Situação, naturalmente, indetectável, como o governador do Banco de Portugal já veio explicar: o BP fez tudo o que podia fazer (isto é, quase nada) e a supervisão bancária é essencialmente útil quando não se passa nada de grave. O primeiro-ministro de agora já veio, também, afastar, os despautérios. Ficamos, assim, todos muito mais descansados.» [Público assinantes]

Parecer:

Por Francisco Teixeira da Mota.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Afixe-se.»

GOVERNO TREMEU NA VOTAÇÃO DO CÓDIGO LABORAL

«O Governo tremeu com a votação final, ontem, no Parlamento, do novo Código Laboral. A maioria PS é de seis deputados (121 contra 109 da oposição). Mas cinco deputados socialistas fizeram questão de votar contra, deixando a maioria "pendurada" por um único deputado. Se toda a oposição votasse contra o Código (o que não aconteceu, o PSD e o CDS abstiveram-se) e se faltassem à votação outros deputados do PS (o que aconteceu) o diploma arriscava-se a ser chumbado. » [Diário de Notícias]

Parecer:

Por pouco o PCP mudava de opinião acerca de Manuel Alegre.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Espere-se pela próxima.»

CAVACO OBRIGOU PSD A RECUAR NA MADEIRA

«O Presidente da República voltou ontem a reiterar o desejo de que "a normalidade plena seja restabelecida rapidamente" na Região Autónoma da Madeira, garantindo que mantém o contacto com o representante da República na região, segundo fonte oficial de Belém à Lusa. O DN sabe que o chefe da Casa Civil de Cavaco Silva, Nunes Liberato, telefonou ao deputado Guilherme Silva que, por sua vez, entrou em contacto com Alberto João Jardim para pressionar o PSD/Madeira a levantar a suspensão do deputado do PND, José Manuel Coelho. O líder do Governo regional da Madeira manteve-se também em diálogo permanente com Monteiro Diniz. » [Diário de Notícias]

Parecer:

E, entretanto, Manuela Ferreira Leite nem deu por nada.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Pergunte-se à líder do PSD se é apenas líder do partido para o Continente e Açores.»

O ÚLTIMO ADEUS DOS CAVAQUISTAS AO BPN

«Miguel Cadilhe e os restantes administradores da Sociedade Lusa de Negócios (SLN) - dona do Banco Português de Negócios (BPN) -, que exerciam funções executivas na instituição de crédito, abandonaram ontem as instalações do banco que acaba de ser nacionalizado. "Todos os bens pessoais começaram a ser empacotados logo pela manhã, quer na sede do banco em Lisboa, quer nas antigas instalações do Private do BPN no Porto, onde Miguel Cadilhe trabalhava", revelou uma fonte da instituição que explicou que os gestores já não podiam estar no banco na próxima segunda-feira . » [Diário de Notícias]

Parecer:

O projecto nasceu e morreu com cavaquistas.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Sugira-se a Cadilhe que se reforme.»

ANTÓNIO COSTA RECUA NO BAIRRO ALTO

«E ao sétimo dia, a Câmara recuou. A fiscalização não funcionou, os protestos não acalmaram e a diversão nocturna no Bairro Alto manteve-se como antes. Uma semana depois da entrada em vigor dos novos horários nocturnos do Bairro Alto, a Câmara Municipal de Lisboa cedeu às reivindicações dos comerciantes e avançou com novo despacho. O recuo de António Costa anula a imposição, fixada pelo despacho de 1 de Novembro, dos proprietários dos bares, cafés, restaurantes e casas de fado terem de submeter-se à avaliação aleatória da Junta de Freguesia para obter, ou não, prolongamento do seu período de funcionamento. A minuta está pronta e o novo despacho substituirá o anterior no mais breve espaço de tempo.» [Expresso assinantes]

Parecer:

Estava-se mesmo a ver, os novos horários eram de um jardim-de-infância.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Pergunte-se a António Costa se pensou bem no que decidiu.»

SÓCRATES NÃO QUER OUVIR FALAR DE REGIONALIZAÇÃO

«Na última campanha para as eleições legislativas, José Sócrates falou de um referendo sobre a regionalização como um projecto para se discutir num eventual segundo mandato dos socialistas. A um ano de uma nova legislatura, contudo, o secretário-geral do PS não parece interessado em colocar o tema no programa eleitoral. Mas a questão já está na rua e dirigentes regionais dos dois principais partidos dizem-se apostados em apressar o referendo. E alguns querem mesmo passar por cima do referendo e fazer aprovar a regionalização no Parlamento.» [Expresso assinantes]

Parecer:

Já temos centenas de municípios, milhares de freguesias e duas regiões autónomas, tudo isto num país com um território diminuto. Ainda querem mais?

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Aprove-se.»

MAIS UM BURACO NO CAVAQUISTÃO ECONÓMICO

«A CNE-Cimentos Nacionais e Estrangeiros, do universo da Sociedade Lusa de Negócios (SLN), está sob a ameaça de insolvência. O cenário é colocado pelo próprio Revisor Oficial (ROC) que analisou as contas de 2007, depois de ter concluído que três quartos do capital social se encontram derretidos. Mas este ano o desempenho operacional degradou-se. As vendas estão em queda, alguns clientes importantes saíram, um só dos moinhos está a funcionar e um administrador renunciou em Outubro, ficando a gestão reduzida a dois elementos.» [Expresso assinantes]

Parecer:

É o desmoronar de uma teia montada pelos amigos de Cavaco Silva.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Espere-se para se ouvir o estrondo.»

FERREIRA LEITE VAI DISFARÇAR CANDIDATURA DE SANTANA LOPES

«A candidatura de Santana Lopes à Câmara de Lisboa vai ser anunciada por Manuela Ferreira Leite juntamente com outras candidaturas do PSD e não de forma isolada. Este é mais um ponto que já foi acertado entre ambos» [Sol]

Parecer:

É óbvio que a líder do PSD não vai escapar ao descrédito.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Ouça-se a opinião de Pacheco Pereira, se o conseguirem fazer falar.»

MENEZES SOFREU PRESSÕES POR CAUSA DO BPN

«O líder da Distrital social-democrata do Porto, Marco António Costa, revelou, no programa da RTP "Corredor do Poder", que um dos factores que levaram à demissão de Luís Filipe Menezes foram as pressões internas que sentiu depois de ter exigido uma investigação ao BPN.

"Foi um dos factores determinantes na sua decisão", admitiu Marco António, que é "vice" de Menezes na Câmara de Gaia.» [Jornal de Notícias]

Parecer:

Isto é muito grave.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Exija-se a Menezes que divulguem que pressões sofreu e quem as fez.»

PILOTO CONSEGUIU ATERRAR APESAR DE TER FICADO CEGO

«Un piloto que quedó ciego repentinamente mientras tripulaba su avión a más de 1.600 metros de altura en el Reino Unido pudo aterrizar gracias a que fue guiado por la tripulación de otra aeronave, informa BBC.

Para lograr la proeza un avión militar de la RAF tuvo que partir de forma urgente hacia el condado de Yorkshire del Norte, para ayudar al piloto Jim O'Neil, de 65 años. O'Neil estaba viajando desde el Aeropuerto Prestwick de Glasgow, en Escocia, hacia Colchester, Inglaterra, cuando sufrió un pequeño derrame cerebral y perdió la vista.El avión voló al lado del de O'Neil y lo guió hasta la base dándole instrucciones por radio. » [20 Minutos]

DESCOBERTOS OS PLANOS ORIGINAIS DO CAMPO DE AUCHWITZ

«Los planos que sirvieron para construir el mayor horror nazi. Los dibujos, se cree que originales, del campo de concentración de Auschwitz han sido encontrados en un piso de Berlin, según informa el periódico alemán Bild en su edición de este sábado, aunque no precisa ni el lugar, ni la fecha ni el autor de este descubrimiento.

El diario muestra tres de los planos arquitectónicos sobre un papel amarillento que forman parte de los 28 que ha conseguido. Los que ha publicado corresponden a una cámara de gas y un crematorio del campo de concentración construido en Polonia. » [RTVE]

AFINAL P MACEDO NÃO ERA MILAGREIRO

«As multas aplicadas pelo Fisco em 2007 renderam aos cofres do Estado 226,6 milhões de euros, superando em 13 por cento o objectivo fixado pela própria Administração Fiscal, que era de 200 milhões. Trata-se de um recorde absoluto (ver gráfico) na aplicação e cobrança de coimas.» [Correio da Manhã]

Parecer:

A verdade é que nem Macedo fez por obter os resultados que conseguiu à frente do fisco como agora se percebe que esteve longe de obter os melhores resultados. Sem alarido o seu sucessor consegue melhores resultados.

É evidente que os admiradores de Macedo, principalmente alguns jornalistas cujo ordenado depende do orçamento de marketing do BCP, vão dizer que o actual director-geral beneficiou da obra do antecessor, argumento de que nunca se lembraram quando o Macedo estava na DGCI.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Pergunte-se ao Expresso se vai dar o prémio de gestor do ano ao actual director-geral dos Impostos.»


O JUMENTO NOS OUTROS BLOGUES

  1. O "Notícias d'Aldeia" também acha que "eles não gostam de blogues".
  2. O "Agora Blogho Eu" gostou do comentário de Pacheco Pereira relativo a Obama.
  3. "A Sombra do Convento" pergunta se nós também podemos.
  4. O "Aliás" pescou aquela que considero a melhor fotografia de Obama.
  5. Obrigado pelos parabéns mandados pelo "desNorte", do "Avenida Central" do "Geração Rasca", do do "Faccioso e Rdical - Livre" e do "Espumadamente"..
  6. O "Nova Floresta" duvida de que viremos a saber toda a verdade sobre o BPN.
  7. O "Papa Açordas" gostou de ver a obamania chegar a Portugal.
  8. O "Pravda Ilhéu" gostou do comentário sobre o parlamento de bolso madeirense.

PS. Graças ao recurso ao site "Blog Searche Engine" recuperei algumas referências recentes a'O Jumento, o que explica o atraso em relação à publicação dos posts.

"CAFÉ MARGOSO"

O "Café Margoso" um dos melhores blogues em português, escrito a partir da cidade do Mindelo, chegou aos mil pots. Pois que venham mais mil, quem não gostar dele margoso então que use açúcar ou adoçante:

«Em menos dum ano, por mil vezes escreveu-se, viu-se, ouviu-se, comentou-se e penso que crescemos todos um pouco com esta experiência. Eu, pelo menos, cresci muito. Espero que venham mais mil e procurarei manter a qualidade, pertinência e, sobretudo, a personalidade deste blogue.

Já agora, esta seria uma excelente altura para ouvir sugestões para o futuro, porque o 1º aniversário do Café Margoso está a chegar e essa será a altura ideal para algumas mudanças. Aceitam-se propostas para alterações gráficas e visuais, novas rúbricas, o abandono de outras, o que está a mais e o que está a menos, enfim, o que vos vier à cabeça.»

ALEXANDER ZADIRAKA

ZAPATERO NA REUNIÃO DO G20

POST-IT