Independentemente da razão que possa existir aos professores é cada vez mais evidente que o sector do Ensino é o último anel do PCP, de entre os herdados no pós 25 de Abril. Esquecida a Reforma Agrária (até o ex-ministro da Agricultura António Barreto já é um tipo fixe), desaparecida a tropa de choque da Cintura Industrial de Lisboa, perdida a força dos sindicatos operários, o ensino é para o PCP como a última cooperativa da reforma agrária.
Pouco importa que os professores sejam ou não avaliados, que o sistema de avaliação seja mais ou menos burocrático, para o PCP esta é uma luta de vida ou de morte, são mais de cem mil funcionários razoavelmente bem pagos disponíveis para manifestações, são dezenas de escolas controladas pelo partido graças à “gestão democrática das escolas”.
Foi o PCP que anunciou estas lutas muito antes de qualquer plenário de professores, porque independentemente do que os professores possam conseguir o PCP não está disposto a perder um sector que lhe fornece um elevado número de quadros pagos pelo Estado para fazerem trabalho sindical. Esta é uma batalha que o PCP não está disposto a perder, muito menos em ano de eleições e com as sondagens em alta. Por isso nem hesitou em lançar os seus pirralhos para a frente de batalha, ainda que, muito de repente (denunciando organização em vez da suposta espontaneidade), os mesmos pirralhos usando o véu palestiniano tenham desaparecido. O próprio silêncio do PCP evidencia o seu empenho, Jerónimo de Sousa que, gosta de aproveitar o tempo de antena proporcionado por estas lutas, desapareceu, mandou o Bernardino à manif.
É evidente que a grande maioria dos professores nada tem que ver com o PCP, mas a sua capacidade de organização é útil. Para muitos professores pouco importa se estão ou não a ajudar Estaline a ressuscitar, o seu conforto e os seus privilégios estão acima de qualquer valor político.
Se alguma coisa se percebeu nesta luta é que a reforma empreendida até pode ser atabalhoada e carecer de uma profunda revisão, mas está muito aquém da mudança de que o ensino carece. A utilização dos órgãos de gestão das escolas para bloquear o seu funcionamento é inaceitável. É como se os militares usassem os tanques para bloquear as auto-estradas, ou os navios para fechar o Rio Tejo até que o Governo cedesse a uma qualquer exigência.
Os professores até poderão fazer vergar um governo legítimo eleito por muitos mais do que os seus 50 mil votos, até poderão adiar as reformas indispensáveis para que o ensino ultrapasse os padrões de qualidade miseráveis, até poderão ajudar Jerónimo de Sousa a eleger mais um deputado daqueles que lá estão à espera de serem substituídos. Mas essa vitória, de que duvido, apenas será temporária, não conseguiram o fundamental, conquistar a opinião pública e, em particular, os pais. O PCP ainda encenou o apoio dos alunos mas os resultados da encenação foram desastrosos para a credibilidade dos professores.
Com a opinião pública contra os professores o próximo governo, seja qual for, vai empreender uma reforma bem mais profunda do ensino. Adoptada no início de uma legislatura e com a opinião pública contra os professores os professores serão abandonados, entregues a si próprios.
Independentemente do resultado desta luta os únicos ganhadores serão os partidos que se aproveitaram da situação, conseguiram fazer com que o país esqueça os seus problemas e até conseguiu que personalidades como António Costa, Manuel Alegre e (quem diria?) Manuela Ferreira Leite se convertessem à democracia da rua, a única que o PCP aceita como legítima, como já o afirmou em várias ocasiões defendendo que o importante não era a maioria absoluta do parlamento mas si as das suas manifestações.