Concordo que o governo intervenha evitando o colapso da banca portuguesa mas receio que esta intervenção seja aproveitada pela banca para transferir para o Estado os seus prejuízos e para beneficiar de condições vantajosas no acesso ao crédito internacional para, dessa forma, obter mais prejuízos. A nacionalização do BPN e a recente afirmação do presidente do BCP de que poderia recorrer às garantias do Estado mesmo que não houvesse dificuldades do crédito mas se essa garantia lhes permitisse obter dinheiro a custos vantajosos.
A verdade é que os bancos não estão a perder dinheiro e a redução dos lucros deve-se muito mais às perdas nas suas carteiras de acções do que da exploração. Isso significa que outras empresas que estão a ser penalizadas pela queda das bolsas também poderiam ter direito à ajuda do Estado.
A nacionalização do BPN nada tem que ver com a crise financeira, as dificuldades do banco já se eram públicas antes desta crise que apenas veio a complicar a situação. O Estado intervém com o argumento de salvar os seus poucos depositantes e é bem capaz de ser verdade, os verdadeiros beneficiários dos prejuízos do banco tiveram tempo para colocarem o seu dinheiro a salvo deixando o banco entregue aos depositantes mais incautos e ao Estado. O próprio Dias Loureiro já deu a saber que há muito que tinha retirado o seu dinheiro do banco. Quantos mais o retiraram nos últimos meses?
Não concordo inteiramente com Louça ao propor que a ajuda do banco tenha como contrapartida a descida dos juros, mas fez sentido questionar se esta ajuda vis o seu colapso ou se servirá para os bancos obterem lucros maiores. Se assim é Francisco Louça tem razão. A verdade é que os nossos bancos nunca evidenciaram preocupações nacionalistas ou sociais na sua gestão, conseguiram lucros à custa de taxas de juros reais elevadas e da proletarização dos seus funcionários, e sempre que apareceu uma boa oportunidade de venda a estrangeiros os nossos banqueiros venderam os bancos.
Ajudar os banco sim, mas que isso não signifique uma ajuda directa aos seus lucros e sem contrapartidas. Se assim não for corremos o risco de ver o Estado nacionalizar os podres da banca, ajudar os mais competitivos a aumentar os seus lucros e quando tudo estiver bem os nossos banqueiros vendem os bancos ao melhor preço ao mesmo tempo que pedem uma audiência a Cavaco Silca para que este interceda em defesa da localização em Portugal dos centros de decisão.
Num país onde todos os anos encerram milhares de empresas, em que quase diariamente assistimos ao encerramento de empresas não acontecerá nada demais se um banco mal gerido for à falência. É evidente que isso é um risco para o sistema bancário, mas isso não pode servir de chantagem sobre os contribuintes. Se é bom que as empresas menos competitivas e mal geridas encerrem isso também é verdade para os bancos.
Em Portugal já encerraram empresas mais necessárias ao país do que o BPN.