Se no nosso calendário hoje é Dia de Todos os Santos, também conhecido por Dia de Finados, no nosso calendário político, já que o Holloween ainda não pegou poderia ser o dia dos mortos vivos, tantos são os que vão sobrevivendo na nossa vida política. Nem sequer me estou a referir a Pedro Santana Lopes, esse parece-se mais com uma matrioshka, aquela boneca russa que volta sempre a ficar em pé.
A não ser o PS e o BE todos os nossos partidos estão entregue a políticos que há muito que não são deste tempo, são mortos vivos que insistem em recusar o lugar aos mais novos. Mesmo no PS a oposição interna escolheu como alternativa alguém que insiste em pensar que o mundo de hoje se pode governar com chavões do início do século vinte, ainda que devidamente adornados com as utopias dos anos setenta portugueses.
O caso do PSD é paradigmático, entre um jovem, um zombie e uma morta viva os militantes optaram por eleger a última, dois terços apostaram mesmo em líderes que fazem da ressurreição periódica a solução para nunca abandonarem a liderança política. O argumento foi o de que Manuela Ferreira Leite tiraria a maioria absoluta a Sócrates e num cenário de crise institucional haveria toda a conveniência em ter na liderança do PSD alguém que Cavaco Silva aceitasse. Não escolheram uma líder para o país, optaram por um ajudante para Cavaco Silva que é outro caso sucesso na longevidade política.
Do PCP não se esperaria outra coisa senão a escolha do camarada mais velho, até porque a experiência com o jovem Carvalhas não tinha sido boa, tal como o Vaticano está a recuar a tempos anteriores ao do Vaticano II também o PCP descobriu que o caminho não estava na modernização mas sim no recuo aos velhos princípios. Tem um morto vivo na liderança mas o voto de protesto lá vai alimentado as sondagens.
O resultado é que a democracia portuguesa não é um caso de ciência política, para a perceber é necessário ter uma formação sólida em geriatria. Para perceber, por exemplo, o que pensam Manuel Alegre, Ferreira Leite, Mário Soares, Jerónimo de Sousa, Cavaco Silva e muitos outros que desempenham papéis menos importantes não podemos questionar que projectos propõem os políticos deste tempo. Teremos que raciocinar tendo em consideração o quadro mental de políticos que se formaram nos anos cinquenta/sessenta, que pensam como se os portugueses fossem netos ou bisnetos, que problematizam as situações com base nos paradigmas ideológicos e políticos dos finais do século XIX, princípios do século XX.
Sem renovação a política portuguesa começa a ser um mundo de mortos vivos, todos os dias são dias de finados. Quando Ferreira Leite propõe que o salário mínimo não aumento não sabemos se é a economista que fala ou se é um sintoma de Parkinson, quando Jerónimo diz que pensa em alianças com o BE começo a recear que esteja com um problemas de esclerose e quando Manuel Alegre vem dizer que o Marx é que tinha razão lembro dos sintomas da doença de Alzheimer.