FOTO JUMENTO
Alfama, Lisboa
IMAGEM DO DIA
[Carlos Barria / Reuters]
«Obama, presidente. El candidato demócrata a la presidencia estadounidense, Barack Obama, celebra en un mitin en Chicago su victoria en los comicios.» [20 Minutos]
JUMENTO DO DIA
José Sócrates, primeiro-ministro
Sócrates decidiu defender Vítor Constâncio de uma forma que, no mínimo, é ridícula, para o primeiro-ministro no caso do BCP deve-se apoiar o regulador em vez dos infractores. Só que ninguém defendeu os infractores e a acusação dos infractores não implica a defesa de Constâncio já que a função deste era evitar infracções e é cada vez mais evidente que o regulador se limitou a assistir, sem quase intervir.
FESTA NO QUÉNIA
Esta fotografia de Mama Sarah da terceira mulher do avô paterno de Obama a festejar o resultado das eleições dos Estados Unidos na aldeia de Kogelo, no Quénia, lembra-me as últimas eleições americanas, quando Bush defrontou Kerry. Nessa altura a preocupação de muitos dos nossos jornalistas era saber se o cozido à portuguesa passava a ser prato do dia na Casa Branca ao sábado ou ao domingo.
A GENTE CONHECE-OS
«Vivemos entre os "activos extravagantes" e os "activos tóxicos". A maioria dos portugueses ignora o significado das expressões e a semântica que lhes subjaz. Mas a verdade é que elas são, simultaneamente, violentas e ambíguas, e repletas de plurais confusões. Não há abstracção possível: os especialistas afirmam que este estrebuchar do sombrio "mundo dos negócios" vai atingir toda a gente. "Isto anda tudo ligado", para citar um poeta, Eduardo Guerra Carneiro. E anda. Um inquérito de Le Monde [31. Outubro, p.p.] e um dossiê publicado no último número de Le Nouvel Observateur [5. Novembro, p.p.] estabelecem instrutivos paralelismos entre os eleitos e os escolhidos. Sempre os mesmos. Escreve o semanário francês: "Nem remorsos nem desculpas. Banqueiros, gestores de fundos de investimento, especuladores, carregam uma responsabilidade esmagadora na crise que estremece a economia mundial." Adianta que os danos da crise apenas atingem os contribuintes, coagidos a tapar todos os buracos, enquanto "aqueles que não perfilham outro credo senão o do lucro" continuam placidamente a enriquecer. Idênticos argumentos são expostos por Le Monde, num ensaio intitulado "La Firme", manifestamente inspirado no filme homónimo de Sidney Pollack, sobre os abjectos ardis de um escritório de advogados de negócios, cujas actividades chegam ao crime. Os velhos conceitos de responsabilidade e rectidão parecem removidos para o arquivo dos anacronismos. Como entender esta dissolução de virtudes, quando se nos prometeu que o "mercado" era linear, contínuo e insobressaltável, além do que se regulava a si mesmo? Talvez encontremos a possibilidade de outra resposta num volume recente, Verdade, Humildade & Solidariedade, de João Ermida, edição Livros d'Hoje-Dom Quixote. O autor escreve sobre o que de perto conhece: o universo das finanças, cuja trama e exigências sem regras quase o conduziram à esquizofrenia. Ermida não combate o capitalismo: critica-o, admitindo a sua "regeneração". Mas o texto é atractivo pelos episódios terríveis que conta, pelas ciladas e opacidades de um meio sem escrúpulos - de que todos estamos dependentes. "O mundo global, defendido por todos os gestores [dos] grandes grupos económicos, nascidos nos últimos 20 anos, fez com que os despedimentos em massa passassem a ser uma constante no mundo dos negócios", escreve Ermida. É um requisitório contundente acerca do comportamento dos "gestores". Lá se diz que os ganhadores são sempre "os máximos responsáveis [das] grandes corporações", mesmo que incompetentes. O semanário francês designa-os de les naufrageurs (os causadores de naufrágios), que sobrenadam no caos, com empregos garantidos e vida farta. Conhecemo-los. Eles não jogam as nossas regras.» [Diário de Notícias]
Parecer:
Por Baptista Bastos.
Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Afixe-se.»
DO LADO DE CÁ DA HISTÓRIA
«Uma jovem mãe passa com os seus dois filhos, enquanto empurra um carrinho de bebé. Os três vão cantando "Ba-rack O-bama, Ba-rack O-bama". Os três são negros, como toda a gente por aqui, e vão sorridentes. Estamos nas "wild-wild hundreds", que são agora as ruas mais perigosas do South Side de Chicago. No mesmo lugar ergue-se um memorial aos jovens que foram aqui assassinados, com o nome e a idade de cada um pintados num pedaço de tijolo: Lupita Hernandez, 18 anos; Miguel Pedro, 15 anos; Troy Law, 10 anos. E muitos outros: o tijolo mais recente tem apenas um mês. As crianças que morreram e aquelas que caminham cantando ficaram em lados diferentes da história.Uma mulher branca, muito doente, vota por correspondência por não poder sair do hospital. O seu voto é recebido e validado, mas ela morre na véspera das eleições. Segundo os funcionários do seu estado, o voto é válido e será contado, o que encerra em si uma comovente justiça. Trata-se do voto da avó de Obama, Madelyn Dunham, que não chegou a saber se o seu neto passou para o outro lado da história.A história é aquela coisa que está sempre a acontecer, mas que nuns dias bate mais forte do que noutros. Às vezes ficamos presos de um dos lados da história. É o meu caso, agora. A cena que relatei no primeiro parágrafo vi-a há apenas duas horas, era o princípio da tarde de ontem em Chicago. Depois de terminar esta crónica estarei pronto para seguir os resultados das eleições e provavelmente misturar-me com a multidão em Grant Park, onde tentarei ver... aquilo que vocês já terão visto muito melhor na televisão. Eu não sei o que vai ser, vocês já sabem o que foi.
Isto da história engana. Os dias históricos podem ser como marcadores numa página de um livro, assinalando uma cena crucial. Mas como (ao contrário dos livros) não nos é permitido saltar páginas, o que conta é o processo de lá chegar. Em frente ao memorial dos jovens mortos, um homem que se aposentou da polícia diz-me: "É importante o Obama ser da minha cor? Para jovens como estes, sim, e para mim também. Agora, para o país e para o mundo - devo dizer que a cor de Obama não me diz nada. Agora é que vamos ter de começar a trabalhar."
A noção que este homem quis transmitir, julgo eu, é a de que os dias históricos e os homens históricos de pouco valem sem o empenho das pessoas na causa pública, sem o civismo e a vontade de ajudar de um número muito grande de pessoas. Fora isso, um político - mesmo um presidente - é uma figura sozinha.
Eis então as minhas previsões para o lado de lá da história (que, na verdade, é já o lado de quem me lê). Não é só verdade que Obama é o candidato mais à esquerda que pode ter ganho uma eleição nos EUA desde os anos 30 do século passado. É mais importante ainda que com a sua eleição se constituiu uma daquelas nebulosas a que chamamos "um movimento". Um movimento quer dizer: milhões de pessoas que antes não se interessavam por política, uma geração nova que aprendeu como a política se faz, e um discurso que faz sentido para as pessoas e é persuasivo para a maioria delas. Isso não percebeu quem vaticina que Obama vai desiludir. Sim, um homem pode sempre desiludir-nos, e daí? Mas a mistura de pessoas novas e ideias novas demora a criar e não se desaprende de um dia para o outro. Essa vai levar-nos longe.» [Público assinantes]
Parecer:
Por Rui Tavares.
Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Afixe-se.»
MANUELA FERREIRA LEITE SAÚDA OBAMA
«A presidente do PSD, Manuela Ferreira Leite, saudou esta quarta-feira o vencedor das eleições presidenciais norte-americanas, Barack Obama, e manifestou-se confiante de que o democrata contribuirá para um reforço das relações transatlânticas, noticia a Lusa.
«Em meu nome pessoal e do Partido Social Democrata quero saudar o novo presidente eleito, Barack Obama», declarou Manuela Ferreira Leite, numa mensagem entregue em mão na embaixada dos Estados Unidos em Lisboa. » [Portugal Diário]
Parecer:
A esta hora o Obama deve andar a tentar saber quem é esta Manuela.
Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Esclareça-se Obama que a Manuela fez parte do governo de Durão Barroso, o velho amigo de Bush, e que lidera um partido onde muito boa gente torceu por McCain.»
ACER RECORRE DO CONCURSO DE AQUISIÇÃO DE COMPUTADORES PARA AS ESCOLAS
«A Acer vai requerer esta quarta-feira junto do Tribunal Administrativo de Lisboa a suspensão da atribuição à concorrente Hewlett Packard (HP) do contrato para fornecimento às escolas de computadores, segundo um comunicado a que a Lusa teve acesso.
O fabricante asiático de computadores acusa o Governo de ter tomado «uma decisão ilegal, violando os princípios de transparência, imparcialidade e equidade». A ACER acusa o Ministério da Educação de ter escolhido, a 09 de Outubro, a proposta da HP, 14 milhões de euros mais cara do que a dos outros concorrentes, para o fornecimento de computadores às escolas públicas. » [Portugal Diário]
Parecer:
Convenhamos que 14 milhões de euros é muito dinheiro.
Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Solicitem-se explicações aos ministros das Finanças e da Educação.»
CADILHE ERA MUITO BEM PAGO
«O ainda presidente do Banco Português de Negócios (BPN) conseguiu garantir junto dos accionistas da instituição um plano poupança reforma (PPR) no valor de pelo menos 10 milhões de euros. Esta condição foi imposta por Miguel Cadilhe, durante as negociações de entrada no banco, de modo a poder ressarcir-se da perda da pensão que então auferia enquanto reformado do Banco Comercial Português (BCP). » [Diário de Notícias]
Parecer:
O mais curioso está no facto de ter exigido que o dinheiro fosse depositado noutro banco.
Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Pergunte-se a Cadilhe se não confiava no seu próprio trabalho.»
PS RECEBE ESTUDO DO SISTEMA ELEITORAL
«Os autores do estudo elaboraram vários cenários diferentes mas sempre partindo da mesma base: dois boletins de voto, um para o círculo nacional e outro para o círculo regional/distrital. As diferenças estão nos equilíbrios entre o número de deputados para cada um destes segmentos e no desenho dos círculos regionais. Nestes é proposta ou a divisão de círculos actualmente existentes (por exemplo: Lisboa) ou a sua agregação (por exemplo: juntar todos os Alentejos, ou as Beiras, num só círculo regional).
A solução preferida dos autores vai para um círculo nacional de 99 deputados, sendo os restantes eleitos pelos círculos distritais -regionais (mais emigração). Se este círculo nacional atingir os 109 deputados então, segundo os autores, serão "praticamente nulos" os efeitos da desproporcionalidade. Por outras palavras: nenhum partido será grandemente beneficiado nem nenhum partido será grandemente prejudicado.
Foi este, aliás, o caderno de encargos que os autores receberam da direcção da bancada do PS quando o estudo lhes foi encomendado. Alberto Martins escreveu no prefácio que os "pressupostos" seriam "a manutenção do nível de proporcionalidade e de governabilidade do sistema eleitoral vigente" e, ao mesmo tempo, "potenciar um maior conhecimento e responsabilização dos eleitos pelos eleitores". » [Diário de Notícias]
Parecer:
Parece fazer sentido.
Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Espere-se pelo debate.»
NITROFURANOS CUSTARAM 1,2 MILHÕES DE EUROS AO ESTADO
«O Estado já foi condenado a pagar 1,2 milhões de euros pela retirada, em 2003, de carne de aves do mercado. Mas o custo final da crise dos nitrofuranos pode ser bem maior pois muitos processos ainda decorrem nos tribunais.
Fevereiro de 2003: o então secretário de Estado Adjunto da Agricultura, Frazão Gomes, anuncia a descoberta de uma substância cancerígena e proibida - os nitrofuranos - em animais de 47 aviários. O Ministério da Agricultura, na altura conduzido por Sevinate Pinto, ordena o sequestro de 176 explorações, o abate das aves nelas contidas e a retirada do mercado de toda a carne suspeita. A produção e o consumo de aves têm uma quebra imediata de 50%.» [Jornal de Notícias]
Parecer:
Alguém devia mandar a factura a Durão Barroso.
Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Mande-se a factura ao Zé das Frites.»
SÓCRATES DEFENDE CONSTÂNCIO
«O primeiro-ministro, José Sócrates, saiu esta quarta-feira em defesa do governador do Banco de Portugal, Vítor Constâncio, dizendo que no caso do Banco Português de Negócios (BPN) se deve apoiar o regulador em vez dos infractores.
Segundo a agência «Lusa», a posição de José Sócrates surgiu na sequência de uma questão dos jornalistas sobre se mantinha a confiança no governador do Banco de Portugal, depois de ter rebentado o caso BPN. » [Portugal Diário]
Parecer:
Defesa ridícula de Vítor Constâncio.
Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Informe-se Sócrates que tão ladrão é o que entra no galinheiro como o que fica à porta.»
A ANEDOTA DO DIA
«Além disso, Obama representa «a vertente popular» e «quebra um certo estigma de racismo que havia em relação à imagem da sociedade norte-americana. Hoje, onde há racismo, como todos sabem, é em África, onde é difícil um branco exercer funções num país africano».» [Portugal Diário]
Parecer:
Por esta lógica de ideias na Madeira há ainda mais racismo do que em Áfgrica, quem não é no PSD quase tem de emigrar para o Continente se quiser sobreviver.
Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Dê-se a competente gargalhada.»
DISCURSO DE VITÓRIA DE OBAMA
«Esta eleição contou com muitas estreias e histórias de que se irá falar durante várias gerações. Mas aquela em que estou a pensar esta noite é sobre uma mulher que depositou o seu voto em Atlanta. Ela é muito parecida com os milhões de pessoas que aguardaram a sua vez para fazer ouvir a sua voz nestas eleições à excepção de uma coisa: Ann Nixon Cooper tem 106 anos.
Ela nasceu apenas uma geração depois da escravatura, numa época em que não havia automóveis nas estradas nem aviões no céu; em que uma pessoa como ela não podia votar por duas razões – porque era mulher e por causa da cor da sua pele.
E esta noite penso em tudo o que ela viu ao longo do seu século de vida na América – a angústia e a esperança; a luta e o progresso; as alturas em que nos foi dito que não podíamos e as pessoas que não desistiram do credo americano: Sim, podemos.
Numa época em que as vozes das mulheres eram silenciadas e as suas esperanças destruídas, ela viveu o suficiente para se erguer, falar e votar. Sim, podemos.
Quando havia desespero e depressão em todo o país, ela viu uma nação vencer o seu próprio medo com um New Deal, novos empregos, e um novo sentimento de um objectivo em comum. Sim, podemos.
Quando as bombas caíam no nosso porto e a tirania ameaçava o mundo, ela esteve ali para testemunhar uma geração que alcançou a grandeza e salvou uma democracia. Sim, podemos.
Ela viu os autocarros em Montgomery, as mangueiras em Birmingham, uma ponte em Selma, e um pregador de Atlanta que dizia às pessoas que elas conseguiriam triunfar. Sim, podemos.
Um homem pisou a Lua, um muro caiu em Berlim, um mundo ficou ligado pela nossa ciência e imaginação.
E este ano, nestas eleições, ela tocou com o seu dedo num ecrã e votou, porque ao fim de 106 anos na América, tendo atravessado as horas mais felizes e as horas mais sombrias, ela sabe como a América pode mudar.
Sim, podemos.» [Público]
Parecer:
Um discurso que fica para a história como um dos melhores discursos políticos.
Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Divulgue-se.»
O JUMENTO NOS OUTROS BLOGUES
- O "Câmara de Comuns" e o "Alcáçovas" pescaram um cartoon onde se vê Chaves apoiar Obama.
- O "Imhotep Portugal", o "Pátio das Conversas", o "PS Lumiar" dá destaque ao post "E nós também podemos?"
- O "Frayed ends of sanity" chegou a um artigo de opinião do DN.
- O "Fliscorno" comentou o post "o medo".~
- O "Macroscópio" comenta o post "O medo" e graças a este comentário fiquei a saber dos parabéns do "Sobre o Tempo que Passa" que andas por terras de Timor:
«Acordo no "day after" ao dia 4 de Novembro, mas tenho de concluir que, ao contrário de Monsieur de La Palisse, uns quartos de hora depois do dia da mudança, por estas bandas do sol nascente, ainda não sabemos se houve mesmo mudança, talvez daqui a quatro horas, quando estiver a começar a minha aula. Daí que, olhando à distância para certas coisas que acontecem em Portugal, fique sem saber se estamos perante uma anedota ou uma realidade. O ministro pleno de cãs que agora toma a decisão fundamental de propositura da nacionalização do BPN é exactamente o mesmo que terá dado cobertura a um privado bancário do BCP que, há meses, era director-geral público dos impostos, com muitas ostentações missais. Parece que o senhor terá recorrido à Interpol para saber quem era o meu amigo Jumento, coisa que toda a gente que almoça no Martinho da Arcada conhece e a quem tive o prazer de ser apresentado, sem qualquer clandestinidade, numa cerimónia de lançamento de um livro de ficção na FNAC do Chiado. O professor Teixeira dos Santos, de tantos valores imobiliários e contactos insulares com o arquipélago crioulo, se quiser tomar uma biquinha lá perto de seu gabinete, basta perguntar ao empregado de tal café quem é o senhor doutor que anda sempre com uma grande máquina fotográfica a apanhar perspectivas de certas aves de arribação que se passeiam pela estátua de D. José...»
THE DAY AFTER
UNICEF