Para entrarem na Câmara colaram-se ao Zé, idolatraram-no nos cartazes e todo o Bloco era como o Zé, um arquitecto vindo da classe média de Alvalade que estava a dar nas vistas com os processos contra a obra de Santana Lopes.
Sem qualquer influência no meio sindical colam-se às iniciativas da CGTP para que as camisas Façonnable de Miguel Portas se confundam com as dos camaradas na gloriosa cintura industrial de Lisboa e graças a este truque lá vemos Louçã à cabeça das manifestações a disputar as televisões a Jerónimo de Sousa. O mimetismo é tal que os militantes do Bloco, os mesmos que no passado designavam o PCP por revisionista ou social-fascista, até se sentiram traídos por Vital Moreira ter abandonado o PCP e lideraram a grande luta contra a sua presença maléfica na manifestação do 1.º de Maio da CGTP. No fim o PCP pagou as favas e Miguel Portas fez um figurão a dar lições de democracia aos seus velhos camaradas.
Com Manuel Alegre a convergência foi tão grande que quase ia convencendo o poeta do PS a dividir o seu partido, só que o resultado foi melhor do que a encomenda e quando Alegre começou a falar num novo partido Louçã lá se demarcou. O seu projecto era simples, Manuel Alegre ficava com a fama de ter dividido o PS e ele ficava com os votos, mais ou menos o que sucedeu no 1.º de Maio da CGTP, os militantes do Bloco faziam o espectáculo e o PCP é que pagava as favas.
O último a sofrer com esta colagem do Bloco é o antigo bispo de Setúbal, em poucos dias vários dirigentes do Bloco falaram das declarações do bispo com tal convicção que eu fiquei convencido que ia encontrar os dirigentes da extrema esquerda a carregar o andor da Nossa Senhora de Fátima entre a Igreja de São Nicolau ou, pelo menos, a levar o pálio para dar um pouco de sombra ao patriarca.
A estratégia do Bloco é inteligente, colam-se aos adversários e por mais que estes se cocem não conseguem livrar-se deles, é como se fosse sarna. O PCP chegou mesmo ao ponto de organizar uma manifestação do PCP, algo inédito na história deste partido (se não contarmos com o protesto contra a lei dos partidos), mas mesmo assim não me admiraria nada que o Louçã aparecesse por lá para cumprimentar Jerónimo de Sousa e roubar-lhe protagonismo, depois de já o ter visto em funerais com esse objectivo não me admiraria mesmo nada.