Na ausência de grandes rebeliões operárias resta a Louça e outros “socialistas científicos” promover bandidos a símbolos da classe operária, só nos resta que o símbolo da próxima revolução em vez de ser o couraçado de Potemkim seja algum Ferrari das favelas do Rio de Janeiro.
O oportunismo ideológico de Louça vai ao ponto de aproveitar uma homilia do ex-bispo de Setúbal para promover a imagem do criminoso vítima da sociedade. Não é difícil de entender esta aproximação, se o bispo é fiel aos princípios da Igreja Católica e vê nos criminosos as suas ovelhas tresmalhadas, uma boa parte da nossa esquerda conservadora não passa de meninos bem da classe média que passaram pelos bancos da catequeses e na sua relação com pobres estão influenciado pela pena e pela caridade, convertidas ideologicamente em novos conceitos de esquerda moderna. É nesta caridade ilimitada que pouco importa se estão a falar de desempregados de gandulos que não querem trabalhar e que recorrendo ao crime ganham muito mais do que os que trabalham.
Neste capítulo são evidentes as diferenças entre o PCP e o BE, o primeiro ainda esboçou o discurso do coitadinho mas depressa percebeu a realidade e passou a pedir medidas de combate ao crime. O BE persiste no discurso, sabe muito bem que as primeiras vítimas são os mais desfavorecidos, como os próprios moradores da Bela Vista, mas este discurso que mistura catolicismo com uma má interpretação do marxismo conquista votos junto das boas almas da classe média.
Só é pena que o carro do Louça nunca tenha sido roubado tantas vezes como o meu, ou que nenhum dirigente do BE tenha visto o carro destruído contra uma parede, a assinatura dos “coitadinhos” da Bela Vista que quando abandonam os carros roubados fazem questão de os atirar contra uma parede. É pena que uma das belas dirigentes do BE nunca tenha sido violentamente assaltada como eu já vi suceder a uma senhora em Sacavém. Mas não correm esse risco, Louça mantém a linha no Holmes Place do centro de Lisboa, não faz jogging na Bela Vista.
Em vez de andar a inventar vítimas do lado errado Louça deveria informar-se sobre quanto gasta mensalmente cada um destes jovens que ele designa por vítimas do desemprego, deveria perguntar aos vizinhos sobre o clima de medo em que vivem, questionar os polícias sobre o receio de serem alvejados.