Com a Abertura do Museu Design Moda foi necessário “limpar” a Rua Augusta e as vítimas foram os vendedores que há muitos anos animavam os últimos dois quarteirões. Foi feito um novo concurso e acabaram por ser distribuídos por diversos pontos da cidade o que significa que muitos deles deixarão de ter forma devia. Alguns nem sequer isso, é o caso do meu amigo “equatoriano” que terá que se mudar se quiser manter a família, incluindo um filho a estudar engenharia na Universidade Nova.
Para além de haver o lixo a que já estávamos habituados a “limpeza” da Baixa ficou-se por aqui, pela fachada. As dezenas de falsos vendedores de marijuana continuam a importunar impunemente os turistas, a calçada continua em mau estado e a trezentos metros do Terreiro do Paço, num local onde estacionam os autocarros podemos encontrar um verdadeiro poço, está ali para que algum lisboeta dê cabo do carro ou que algum turista parta uma perna para não se esquecer desta cidade.
Quase aposto que se em vez de pintores como o meu amigo moldavo Stepan Zaporozhan, formado pela Escola de Belas Artes de Kisiney fossem marginais da Bela Vista quase aposto que teriam tratamento vip, seriam atendidos por assistentes sociais que lhes dariam um rendimento mínimo e mais uma dúzia de figos, mas como são gente que trabalha levam um chuto no rabo, até porque a cerimónia de inauguração do Museu, que até acontece em tempos eleitorais, não pode ter as fotografias estragadas pela presença de tal gente.
Entretanto a vida dos lisboetas que trabalham na Baixa foi feita num inferno porque alguém aproveitou as obras para os obrigar a chegar aos empregos sem carro, mesmo que precisem deles. E nem vale a pena referir o que se passa noutras zonas de Lisboa onde o lixo se acumula, como se os funcionários da limpeza tivessem sido atingidos pela gripe A e estivessem de quarentena há longos meses.
Lisboa é cada vez mais uma cidade gerida mais a pensar na vaidade dos autarcas do que na qualidade de vida dos lisboetas.
