O
pesadelo que mais atormenta as noites de Cavaco Silva é o receio de um dia ser
forçado pelo voto dos portugueses a dar posse a um governo de Sócrates ou de
alguém considerado “socrático” ou que alguma vez tenha colaborado com o
ex-primeiro-ministro como é o caso, por exemplo, de António Costa. Cavaco Silva
odeia Sócrates e é mais do que evidente que em torno de Sócrates há um desprezo
olímpico pelo detentor do cargo de Presidente da República.
Cavaco
Silva tudo fez para derrubar Sócrates e no seu lugar colocar alguém do seu
partido, nem que fosse o até então detestado Passos Coelho. Cavaco ambicionava
ficar na história como o grande político do século XX e do início do século XXI
e nunca poderia suportar ser obrigado a conviver com um primeiro-ministro que
lhe recusava esse papel. Depois do que fez o regresso do Sócrates ou do que
poderia ser entendido como uma interposta pessoa significaria o funeral político
de alguém que transformou o seu segundo mandato numa câmara ardente.
Se Sócrates
não perde uma oportunidade para ir enterrando Cavaco este não deixará de usar
os poderes que tem para impedir uma solução política que dê protagonismo a Sócrates
e para isso usará os poderes que tem, designadamente, a famosa bomba atómica.
Cavaco
não pode permitir que esta legislatura chegue ao fim, mas também não pode
deixar cair um governo que ele próprio adoptou. O governo não pode cair antes
de tempo nem durar o tempo suficiente para que José Sócrates recupere a sua
imagem. Para Cavaco a salvação do que julga que ainda resta da sua boa imagem
passa por uma solução que envolva políticos racos que ele consiga manipular e
esses políticos fracos são Passos Coelho e Seguro.
A
Cavaco pouco importa que ganhe Seguro ou Passos Coelho, o importante é que
Passos Coelho e Seguro sobrevivam o suficiente para que possam ir a eleições
sem condições para que nenhum dos dois consiga governar sem o outro. Cavaco
deseja um bloco central de políticos fracos para que ele possa transformar um
governo fraco numa espécie de governo de salvação tutelado por Belém. Cavaco
vai tentar usar o pouco tempo que lhe esta para branquear a imagem de um governante
que conduziu o país ao fracasso, de um político que ganhou dinheiro fácil e de
um presidente incompetente.
Cavaco
não se cansa de tentar forçar uma associação entre Passos e Seguro com o
argumento de que quer salvar o país. A verdade é que, como sempre sucedeu,
cavaco está preocupado consigo e para se salvar conta com estes políticos. Da
mesma forma Passos só sobreviverá com Cavaco e Seguro precisa de ir a eleições
antes que haja tempo de alguém lhe ficar com o lugar.