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Aves de Lisboa
Periquito-de-colar, Parque Eduardo VII
Periquito-de-colar, Parque Eduardo VII
Jumento do dia
Paulo Portas
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«A resposta de Paulo Portas à recusa do PS em se sentar à mesa para discutir a reforma do Estado chegou sob a forma de discurso de cerca de 25 minutos. O vice-primeiro-ministro nunca disse a expressão "reforma do Estado", mas era ao documento que apresentou ontem que se estava a referir quando acusou o PS de "ficar entrincheirado numa estratégia algo metódica e melancólica de recusa permanente". Disse Portas que esta estratégia "não é sustentável. Espero que o PS medite melhor, quer sobre o fim do resgate quer sobre a retoma".
Portas não poupou nos ataques aos socialistas e chegou mesmo a fazer uma metáfora. O governante disse que o PS "está como aqueles actores do cinema mudo que não conseguiam passar para o cinema sonoro. Tanto se habituaram a explorar cada momento de aflição, que agora, num ciclo de crescimento económico ou não dizem nada ou não sabem o que dizer". Portas já tinha aliás atirado à dificuldade de os socialistas fazerem oposição. Nas palavras do vice-primeiro-ministro o PS está a cometer "o lapso" de desvalorizar os sinais da economia o que só pode querer dizer que "não consegue fazer uma política de oposição em cenário de crescimento macroeconómico". E resumiu que o PS está numa atitude de "não vejo, não percebo ou simplesmente não quero saber".» [i]
Uma direita sem eles no sítio
«Sobre aquilo de que não podemos falar temos de guardar silêncio." A críptica frase de Wittgenstein parece dizer o óbvio - o busílis é saber como distinguir aquilo que se pode e deve dizer do resto. Tarefa maior para todos, mais ainda para quem tem palavra pública.
O caso Bárbara/Carrilho, que tem monopolizado as primeiras páginas, coloca a questão de forma caricatural. Não só porque muito do que se tem visto em parangonas questiona a fronteira entre publicável e impublicável, mas sobretudo por nos depararmos com afirmações do domínio do indizível, das quais um dos protagonistas é, não só filósofo cuja especialidade passa por ser a retórica (ou seja, o bem falar) e os "jogos da racionalidade", como alguém cuja intervenção se faz invariavelmente de um lugar de superioridade - a de quem se arroga "pensar o mundo" (título da coletânea da sua obra, publicada em julho de 2012) e portanto tudo, ou o todo. Denunciando, incansável, a "radical mediatização dos nossos dias", "o narcisismo amoral, quase delinquente que vive entre a alucinação de todos os possíveis e a rejeição de quaisquer limites", "o paradigma do ilimitado que tem anestesiado e minado o mundo nas últimas décadas", e a "grotesca alacridade" do "bizarro universo" dos media, "empapado" em "proliferação de mentirolas", "lérias, larachas e lamúrias", num "espetáculo de demências diversas".
Sobre a forma como a generalidade dos media, incluindo o DN, têm pegado no assunto, Ferreira Fernandes disse o essencial: não é jornalismo reproduzir sem filtro nem questionamento declarações desvairadas (não raro sem vestígio de interesse público) e até caluniadoras, portanto criminosas. A perseguição, a devassa e a sordidez mediáticas não podem, eticamente, justificar-se nem com a vontade de alguém se expor - agora ou antes - nem com o voyeurismo do público; nada as move a não ser voluntarismo comercial. Mas isso não é novo, é só cada vez mais triste - e cada vez mais sem remédio, quando nenhuma instância, sequer aquela que tem legalmente essa atribuição, a Comissão da Carteira de Jornalistas, reage às sucessivas violações deontológicas.
Vemos pois neste caso a continuada tragédia do estertor do jornalismo. Mas também, além do trágico fim de um casamento e do efeito disso em duas crianças, o strip tease radical de um pensador, a pungente desfilosofização de um filósofo, uma inédita imolação política. Quem escreveu sobre outros e seus "escândalos" (tomados, note-se, como valor facial, sem necessidade de prova) como "criaturas mitómanas, destituídas de superego e, portanto, de sentido de culpa ou de responsabilidade", revelando "uma contumaz incapacidade de lidar com a frustração, que é, como Freud bem ensinou, onde começam todas as patologias verdadeiramente graves" estava, afinal, neste retrato cruel, raivoso até, a prefigurar o seu. De olhos bem abertos, Carrilho disse-nos toda a verdade - até a que deveria e quereria calar.» [DN]
Fernanda Câncio.
O tratado europeu do autoclismo
«Haverá quem pense que isto é uma questão de caca. E é: depois da moeda única, a União Europeia quer padronizar o autoclismo. Várias línguas, mas uma só descarga na sanita. A Europa - quando se prova o inverso por todo o lado - quer convencer-nos de que de cócoras somos todos iguais. Uma comissão reuniu-se durante três anos e produziu um relatório de 122 páginas (e não, não foi entregue em rolo de folhas finas, os burocratas não sabem ir diretos ao assunto). As conclusões foram: as descargas devem ser só de cinco litros, com a alternativa de meias descargas de três litros. Enfim, a receita do costume, cortar (hoje, os autoclismos comuns levam seis litros). Se bem se lembram, o nome do sistema que nos levou à moeda comum era ECU (do inglês European Currency Unit), mas ECU estava mais adequado para esta nova medida da sanita única. Mobiliário muito ligado à cultura - O Pensador, de Rodin, parece sentado numa sanita e é, aliás, nessa posição que meia Europa leu poesia e jornais - a loiça sanitária vai sofrer uma descarga única, tão própria destes tempos cinzentos. Olha, era uma bela ideia para a Joana Vasconcelos (não é desdouro para ninguém, Marcel Duchamp também esculpiu um urinol). Para retratar os tempos modernos, ela devia fazer (não em mármore, como Rodin, mas em loiça, não sentado, mas de pé, e sempre pensador) um homem carregando no botão do autoclismo, e a olhar o fluxo fraquito de água. Hoje, até o que vai pelo cano abaixo é medíocre.» [DN]
Autor:
Ferreira Fernandes.
O guião eleitoral
«Paulo Portas percebeu que já não valia a pena apresentar um verdadeiro guião da reforma do Estado. O que fez foi outra coisa: apresentou um guião para a campanha eleitoral. E já escolheu a mensagem: esta legislatura teve de ser má; a próxima é que vai ser boa.
Com a legislatura já em contagem decrescente e decididas que estão as medidas orçamentais de corte nos salários e nas pensões, Paulo Portas percebeu que já não valia a pena apresentar um verdadeiro guião da reforma do Estado.
O que fez foi outra coisa: apresentou um guião para a campanha eleitoral. E já escolheu a mensagem: esta legislatura teve de ser má; a próxima é que vai ser boa.
Falemos claro: o guião que o vice-primeiro-ministro apresentou não pretende orientar reforma nenhuma, nem suscitar qualquer debate sério. E muito menos visa promover um consenso com o Partido Socialista.
Se a ideia fosse orientar uma reforma, este documento não surgiria já na fase final da legislatura, repleto de ideias genéricas, sem medidas concretas nem calendários; se o propósito fosse suscitar um debate sério, não seria anunciado na véspera do início da discussão de um Orçamento cujas medidas são totalmente contrárias ao preconizado no guião; e se o objectivo fosse promover consensos, não dedicaria dezenas de páginas a agredir o Tribunal Constitucional e o Partido Socialista, ressuscitando até a questão, já resolvida, da constitucionalização da chamada "regra de ouro".
O guião do dr. Paulo Portas, ninguém se engane, visa apenas desempenhar uma tripla função eleitoral: de justificação, de propaganda e de ilusionismo político.
Começa pelo exercício justificativo das "maldades" a que o Governo foi "forçado" em razão da emergência financeira, ora atribuindo ao PS a responsabilidade pelas causas do resgate e pela negociação do Memorando (omitindo, como sempre, qualquer referência à crise internacional e ao chumbo do PEC IV, bem como aos efeitos desastrosos da opção do Governo pela austeridade "além da ‘troika'"), ora atribuindo ao Tribunal Constitucional a responsabilidade pelo aumento dos impostos. Segue-se um longo exercício de propaganda, em que são registadas, a propósito e a despropósito, as medidas alegadamente "positivas" que o Governo diz ter tomado. E tudo termina com uma ideias confusas de moderada tonalidade liberal "para animar o debate", para se chegar ao esperado grande final, por entre fogo-de-artifício, num deslumbrante exercício de puro ilusionismo político, bem ao jeito do vice-primeiro-ministro. Vejam só: o Governo propõe-se (embora sem calendário conhecido...) reduzir o IRS e "pagar melhor" aos funcionários públicos e aos pensionistas! Agora digam lá se o Governo não é bom?!
É esta visionária proposta "para o futuro" que o Governo quer debater com o País, desde já e até às eleições. Infelizmente, enquanto o debate não começa, deu entrada no Parlamento um Orçamento em que o Governo mantém o maior aumento de sempre do IRS (nada menos do que 30%!) e corta ainda mais nos salários e nas pensões.
Percebe-se: em vez de discutir as suas brutais medidas de austeridade, que se agravam no Orçamento para 2014, o Governo prefere centrar a discussão numa reforma do Estado imaginária. Mas há limites para o ilusionismo.» [DE]
A crise chega aos deputados
«O "Correio da Manhã" escreve hoje que "há deputados da Assembleia da República que já pediram ajuda para pagar dívidas bancárias. Os pedidos foram dirigidos à Dignus, uma empresa criada em 2011 e especializada no apoio a pessoas sobre-endividadas. Quem o afirma é o diretor comercial da Dignus e proprietário da Escola de Finanças Pessoais, João Morais Barbosa. "Entre os 900 casos que nos surgiram até agora, estão alguns parlamentares com uma média de sete a oito créditos malparados", diz. Os deputados, que são do chamado Bloco Central (PS e PSD), mas também do CDS, "tiveram cortes nos salários e nas pensões. Viram-se confrontados com a extrema dificuldade em cumprirem os pagamentos dos empréstimos", adianta João Morais Barbosa.
Segundo o jornal, "dois terços das dívidas parlamentares têm que ver com uma conta habitação, a que se somam "seis a sete dívidas de curto prazo, sobretudo relacionadas com a utilização de cartões de crédito", diz o diretor comercial da Dignus.» [DN]
Parecer:
É para que saibam como elas mordem.
Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Lamente-se.»
O primeiro sinal
«Dezenas de pessoas juntaram-se hoje frente às instalações da EDP no Porto onde apresentaram reclamações contra os cortes de energia efetuados pela empresa nos bairros do Lagarteiro e de Contumil, daquela cidade.
A concentração foi convocada nas redes sociais - numa página associada ao movimento Que Se Lixe a Troika! -- e visou mostrar "solidariedade" para com as famílias de dois bairros sociais do Porto a quem a EDP cortou o fornecimento de eletricidade por dívidas.» [DN]
que o governo saiba perceber neste incidente um sinal de revolta que se pode propagar.
O primeiro sinal
«Dezenas de pessoas juntaram-se hoje frente às instalações da EDP no Porto onde apresentaram reclamações contra os cortes de energia efetuados pela empresa nos bairros do Lagarteiro e de Contumil, daquela cidade.
A concentração foi convocada nas redes sociais - numa página associada ao movimento Que Se Lixe a Troika! -- e visou mostrar "solidariedade" para com as famílias de dois bairros sociais do Porto a quem a EDP cortou o fornecimento de eletricidade por dívidas.» [DN]
Parecer:
que o governo saiba perceber neste incidente um sinal de revolta que se pode propagar.
Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Espere-se para ver.»