terça-feira, novembro 05, 2013

A santa aliança

Se ouvirmos os muitos intervenientes que se juntaram para derrubar o governo anterior nenhum deles assume as razões ideológicas, o ódio por terem ficado sem tachos, os interesses financeiros, ou a defesa de confortos corporativos. Ficamos com a impressão de que se formou de forma espontânea uma santa aliança em defesa dos bons valores, a esquerda conservadora uniu-se à direita, o PCP juntou-se ao PSD, os magistrados juntaram-se aos criminosos, todos se uniram porque acima de qualquer valor, de qualquer princípio ideológico, de qualquer defesa de interesses individuais ou de grupo estava a necessidade de lutar contra o mau carácter.
 
Ainda hoje, quando alguém da esquerda conservadora se sente incomodado com a sugestão de que se uniram à pior das direitas, algo que fazem sempre que os interesses políticos o justificam, como sucedeu recentemente em Loures, não respondem com argumentos políticos ou ideológicos, armam-se em puritanos e justificam as suas opções com o falso engenheiro, com o corrupto do caso Freeport, com o gay, etc., etc.. Fica-se com a sensação de que o governo anterior nada fez de incómodo ou de criticável, o problema foi o mau carácter ou a “estupidez”da Ludrinhas.
 
Esta necessidade de livrar o país de tão grandes defeitos humanos, de higienizar o governo levou a na luta para derrubar o governo se juntassem os sindicalistas do dos professores aos donos dos colégios privados, os magistrados aos bandidos do BPN, Cavaco Silva ao Bloco de Esquerda, o Seguro ao Passos Coelho. Nunca este país assistiu a uma aliança tão vasta.
 
Mas deixemos os protagonistas de fora, esqueçamos o mau carácter e o caso Freeport, com outros protagonistas, analisemos antes as políticas que foram abandonadas por este governo e, coincidência das coincidências, ninguém as veio defender.
 
Os verdes, os tais que a CDU vai elegendo, não fizeram grande coisa contra o abandono da aposta nas renováveis, a FENPROF que assiste ao despedimento de professores com uma estranha calma não questiona o financiamento exagerado do ensino privado. Os exemplos poderiam ser muitos, basta ver agora muitas das forças que derrubaram o anterior governo a agitarem-se agora de forma muito cordata em defesa dos seus interesses, um bom exemplo é o dos magistrados do Ministério Público, o seu sindicato esteve na vanguarda do derrube do anterior governo, ia a Belém dia sim, dia não, exigia meios suplementares para determinadas investigações, agora promove um dia de greve e é tudo.
 

Um dia iremos esquecer as personalidades e perceber que esta santa aliança foi um dos momentos mais vergonhosos da história de Portugal, nunca tanta gente e tantas forças se juntaram contra os interesses do país e do povo. O que eles odeiam não é José Sócrates mas sim as políticas e dessas ninguém fala.