Se
ouvirmos os muitos intervenientes que se juntaram para derrubar o governo
anterior nenhum deles assume as razões ideológicas, o ódio por terem ficado sem
tachos, os interesses financeiros, ou a defesa de confortos corporativos.
Ficamos com a impressão de que se formou de forma espontânea uma santa aliança
em defesa dos bons valores, a esquerda conservadora uniu-se à direita, o PCP
juntou-se ao PSD, os magistrados juntaram-se aos criminosos, todos se uniram
porque acima de qualquer valor, de qualquer princípio ideológico, de qualquer
defesa de interesses individuais ou de grupo estava a necessidade de lutar
contra o mau carácter.
Ainda
hoje, quando alguém da esquerda conservadora se sente incomodado com a sugestão
de que se uniram à pior das direitas, algo que fazem sempre que os interesses
políticos o justificam, como sucedeu recentemente em Loures, não respondem com
argumentos políticos ou ideológicos, armam-se em puritanos e justificam as suas
opções com o falso engenheiro, com o corrupto do caso Freeport, com o gay, etc.,
etc.. Fica-se com a sensação de que o governo anterior nada fez de incómodo ou
de criticável, o problema foi o mau carácter ou a “estupidez”da Ludrinhas.
Esta
necessidade de livrar o país de tão grandes defeitos humanos, de higienizar o
governo levou a na luta para derrubar o governo se juntassem os sindicalistas
do dos professores aos donos dos colégios privados, os magistrados aos bandidos
do BPN, Cavaco Silva ao Bloco de Esquerda, o Seguro ao Passos Coelho. Nunca
este país assistiu a uma aliança tão vasta.
Mas
deixemos os protagonistas de fora, esqueçamos o mau carácter e o caso Freeport,
com outros protagonistas, analisemos antes as políticas que foram abandonadas
por este governo e, coincidência das coincidências, ninguém as veio defender.
Os
verdes, os tais que a CDU vai elegendo, não fizeram grande coisa contra o
abandono da aposta nas renováveis, a FENPROF que assiste ao despedimento de
professores com uma estranha calma não questiona o financiamento exagerado do
ensino privado. Os exemplos poderiam ser muitos, basta ver agora muitas das
forças que derrubaram o anterior governo a agitarem-se agora de forma muito
cordata em defesa dos seus interesses, um bom exemplo é o dos magistrados do
Ministério Público, o seu sindicato esteve na vanguarda do derrube do anterior
governo, ia a Belém dia sim, dia não, exigia meios suplementares para
determinadas investigações, agora promove um dia de greve e é tudo.
Um
dia iremos esquecer as personalidades e perceber que esta santa aliança foi um
dos momentos mais vergonhosos da história de Portugal, nunca tanta gente e
tantas forças se juntaram contra os interesses do país e do povo. O que eles
odeiam não é José Sócrates mas sim as políticas e dessas ninguém fala.