Quando
se esperava o debate do orçamento assistiu-se à polémica em torno do
ansiosamente esperado guião para a reforma do Estado, quando se esperava a
liderança da bancada parlamentar do PSD assistiu-se ao protagonismo do CDS e a
uma votação digna de um funeral, quando se esperava a liderança do debate por
parte do primeiro-ministro ou, na ausência deste, pela ministra das finança o
verdadeiro líder da maioria foi Paulo Portas.
Já não
é Cavaco que propõe negociações a pensar
no pós troika, Cavaco anda desaparecido e enquanto Passos se vai apagando num
mal disfarçado cansaço e em sinais de impotência de alguém que se sente
incompetente para enfrentar a situação a que conduziu o país, é Portas que
lança os reptos ao PS, propõe negociações e sugere o seu guião como base de
trabalho. Não se percebe se Portas pertence a este governo ou se as negociações
que propõe ao PS já visam um futuro entendimento pós-eleitoral.
Pouco
tempo depois de ter ficado queimado junto da opinião pública com a sua demissão
irrevogável Paulo Portas reaparece como um dos seus submarinos enquanto Passos
Coelho ou se afunda ou se arrisca a enfrentar uma revolta a bordo, a lembrar o
Bounty. Se dantes era o PSD a dizer que Portugal não era a Grécia, agora é
Portas que se acha celta e põe o seu ministro da Economia a anunciar milagres
económicos. Passos Coelho é o incompetente, o cansado, o incapaz, o responsável
por tudo o que de mau é feito. Portas é o salvador e tendo assumido a liderança
das pastas económicas teve a arte de adiar o guião até ao debate do OE para
iludir as suas responsabilidades. Portas só dá a cara pelas pastas económicas quando
lhe interessa e Passos deixa-se ultrapassar.
Mais
do que um guião para a reforma do Estado o guião que está sendo elaborado por Paulo
Portas serve para assegurar a sobrevivência da sua carreira política. O
desastre a que o país está sendo conduzido começa a ser evidente e Portas
prepara-se para dizer que o culpado foi o PSD e Passos Coelho, foi ele que
escolheu Gaspar, que se apoiou na seita do falecido Borges e que nomeou a actual ministra das Finanças contra a sua
vontade. O que de bom tem acontecido na economia é obra da sua diplomacia económica
e dos empresários que ele se tem esforçado por apoiar. Até a reforma do IRC foi
conduzida por um homem da sua confiança.
Aquilo
que se pode ler nos últimos acontecimentos políticos um guião para a salvação
de Portas à custa do enterro de Passos Coelho, do PSD e do próprio Cavaquismo.
A teia montada por Portas levou um PSD a aplaudir os discursos dos ministros do
CDS ao mesmo tempo que votaram o OE em silêncio, conduziu Cavaco ao silêncio e
a oposição interna a Passos Coelho no PSD a uma desorientação tal que até já
desejam ver António Costa em primeiro-ministro, o mesmo António Costa que Portas
e o CDS não se cansam de namorar, a pensar numa futura coligação. Entretanto,
Passos Coelho comporta-se como aquele que é sempre o último a saber.
É incrível como um partido como o PSD anda agora a defender um guião que só revela incompetência e, como se isso não bastasse, centra a estratégia do seu governo nesse mesmo guião, tratando o seu autor como se fosse o verdadeiro primeiro-ministro. Este PSD está mesmo mal.
É incrível como um partido como o PSD anda agora a defender um guião que só revela incompetência e, como se isso não bastasse, centra a estratégia do seu governo nesse mesmo guião, tratando o seu autor como se fosse o verdadeiro primeiro-ministro. Este PSD está mesmo mal.