Costuma
dizer-se que o Presidente da República todos os portugueses, que os portugueses
estão representados no parlamento e que todos estão preocupados com o futuro do
país. Assim sendo não se entende a insistência de Cavaco Silva em excluir
muitos portugueses, para além de considerar que um pequeno partido no governo
deve ter uma consideração e valorização que não é dada a outros pequenos
partidos que estão na oposição.
Ultimamente
é moda falar-se no arco da governação, um truque que é utilizado para excluir
do debate do país os partidos ou correntes de pensamento que por serem excluídos
ou por não deterem maiorias parlamentares não participam no governo. Desta
forma subtil subverte-se a democracia, em vez de ser o governo a depender do
parlamento passa a ser o parlamento a ser dividido em duas partes, uma parte
que conta porque escolhe governos e uma parte que não conta porque não
participa nos governos.
O
grande mentor desta exclusão de uma boa parte dos portugueses é Cavaco Silva,
um homem que há muito tem um conceito de democracia muito estranho. Agora
convoca uma parte dos partidos para longe do parlamento, no segredo dos deuses
e sob a tutela dos seus controleiros para decidirem o futuro do país em cenários
de longo prazo sem qualquer consulta ao país. Pior ainda, condiciona o exercício
da democracia à limitação de qualquer debate público, se houver um acordo
secreto a legislatura pode ser interrompida para promover eleições onde se
discutirão coisas secundárias como, por exemplo, o número de cães e gatos que
podem viver num apartamento.
Cavaco
sempre revelou uma grande dificuldade em ver o país ou o povo como um todo,
nunca aceitou muito bem o exercício das atribuições das instituições que
asseguram que todo o país e todo o povo sejam respeitados. Quando era
primeiro-ministro tratava as instituições da República que velavam pela
democracia como forças de obstrução, as regiões onde o seu partido não tinha
vitórias eleitorais eram condenadas à pobreza.
Governar
para os que votam nos partidos no poder ou considerar que só os que podem ser
poder têm o direito de discutir os problemas dos portugueses é a mesma coisa
que considerar que há portugueses de segunda, uma casta de gente inferior cuja
opinião não conta e cujos deputados não passarão de palhaços, aliás, quando
tudo se decide em reuniões secretas tuteladas pelo presidente é o próprio
parlamento que se transforma num circo.
O
argumento do arco do poder apenas serve para que um partido que não representa
quase ninguém detenha as pastas mais importantes do governo ou para que um
regime semi presidencialista se transforme num presidencialismo caudilhista
onde os debates são vigiados por tutores designados por Belém.