Há uma velha tradição na Administração Pública portuguesa que é o popular “chutar para cima”, quando nos queremos ilibar de responsabilidades arranjamos um qualquer obstáculo ao cumprimento das nossas obrigações e comunicamos ao superior, que por sua vez faz o mesmo e assim sucessivamente, até que o governantes se descalce e deixe que lhe seja metida a pedra no sapato.
Segundo o que se ouve como a rede estava velha, os praças são poucos e a videovigilância não funciona, faz-se a ronda do costume e se alguém roubar o paiol a culpa é de alguém de cima. A partir do momento em que “chutaram para cima” bastava cumprir as rotinas habituais. Tinha equipamento militar sofisticado em paióis vulneráveis a roubos, mas nada se fazia para evitar o roubo, não se mudavam rotinas de rondas, não se reforçavam as ronda, não se fazia nada, porque o problema não era a segurança nacional mas sim apurar o responsável político pela avaria da videovigilância, como se o paiol não fosse muito mais antigo do que esta tecnologia.
A imagem do parque onde situam os paióis que passou nas televisões é de desmazelo, mato por limpar e pinheiros quase até às portas. Desta vez ocorreu um roubo, um dia destes há um incêndio e o espetáculo dos paióis a explodir dá para ver a partir de Lisboa. Os comandantes de Tancos podem estar descansados, a culpa terá de ser de alguém pois depois do que sucedeu em Pedrógão devem ter sido às dezenas as entidades que oficiaram os superiores de limpar mato e cortar árvores.
Na Procuradoria-Geral da República também deve haver um enorme buraco na rede, foram alertados para a possibilidade dos paióis de Tancos serem roubados e em vez de prevenirem os serviços de informação e o Exército, para que fossem adotadas medidas, abriram o competente processo de inquérito que seguiria o seu curso normal, isto é seria arquivado um dia destes.
Preocupados com a honra do convento os militares dados a manifestações junto ao monumento dos Combatentes decidiram emitir um e-mail com tiques fascistas e queriam manifestar-se. De seguida veio a associação dos oficiais defender a dignidade dos oficiais, ao que parece em Tancos deixaram roubar o paiol, mas a culpa era de alguém que não estava lá com a missão de proteger os paióis. Depois veio o representante dos sargentos.
De repente vem-me à memória a anedota do avião que vinha de África com trinta freiras. O pessoal foi divertir-se e entregaram os comando do avião a um macaco. Em Tancos não há macacos, pelo que a responsabilidade pela proteção dos paióis era dos praças e dos cabos. Se calhar no caso das messes enganaram-se e em vez de prenderem praças prenderam oficiais e sargentos. Mas neste caso as associações não repararam no buraco na rede.
E para acabar com a lista dos buracos é uma vergonha que alguém ouvido numa comissão parlamentar numa sessão supostamente confidencial, quando chega à porta é confrontado pelos jornalistas com as declarações que tinha acabado de fazer. Quem violou a regra da confidencialidade não merece estar no parlamento e se foi um deputado ainda pior, trai a confiança que os portugueses que o elegeram depositaram nele.
O buraco na rede de Tancos era o mais fácil de tapar, o desmazelo de quem não cumpre, a violação das regras a que se está obrigado ou a incúria de não alertar o país para um risco, são buracos bem mais difíceis de tapar, ainda não dependam de qualquer regra orçamental.
E para acabar com a lista dos buracos é uma vergonha que alguém ouvido numa comissão parlamentar numa sessão supostamente confidencial, quando chega à porta é confrontado pelos jornalistas com as declarações que tinha acabado de fazer. Quem violou a regra da confidencialidade não merece estar no parlamento e se foi um deputado ainda pior, trai a confiança que os portugueses que o elegeram depositaram nele.
O buraco na rede de Tancos era o mais fácil de tapar, o desmazelo de quem não cumpre, a violação das regras a que se está obrigado ou a incúria de não alertar o país para um risco, são buracos bem mais difíceis de tapar, ainda não dependam de qualquer regra orçamental.