A política económica de Passos Coelho, aparentemente inspirada na ideias do falecido António Borges e executada por Vítor Gaspar assentava no pressuposto de que a desvalorização dos custos do trabalho que no passado era conseguida pelas desvalorizações, deveria ser feita agora recorrendo à desvalorização fiscal. Hoje percebe-se que a política de Passos Coelho foi um falhanço que só deixou traumas.
O raciocínio é tão elementar que parece ser uma conclusão óbvia, mas entre a época das desvalorizações e a atual há mais de trinta anos de distância e neste período tudo mudou, em Portugal, na Europa e no mundo. Cometeu-se um erro grave, adotaram-se políticas fiscais, sociais e laborais típicas de um mundo que já não existe, a ideia era empobrecer todos os que fossem trabalhadores por conta de outrem, fossem do sector público ou privado, fossem trabalhadores com a escolaridade mínima ou doutorados.
O pressuposto desta economia era o de que as economia mais competitivas são as que remuneram pior os trabalhadores e que Portugal devia concorrer com os país com a mão de obra mais barata. No têxtil deveríamos concorrer com o Egipto, na agricultura com o norte de África e na eletrónica com os países asiáticos. Recomeçando do nada talvez conseguíssemos ser uma Singapura da Europa. Passos estava tão convencido de que isso sucederia que foi ao Japão anunciar que Portugal iria ser um dos países mais competitivos do mundo.
Esta mistura de fundamentalistas da economia com imbecis iletrados teve consequências dramáticas para a economia e a sociedade. Portugal já não é o país que era nos anos 70 e hoje a competitividade dos países não se mede pelo salário mínimo, como ainda recentemente Passos deu a entender que deveria ser. As economias mais competitivas são as que vendem mais saber, as que exportam produtos com mais valor acrescentado, as que produzem mais riqueza per capita, as que usam tecnologias que empregam trabalhadores qualificados e bem remunerados.
Com o aumento dos níveis de escolaridade, a livre circulação na EU e o domínio de línguas estrangeiras pela generalidade dos jovens a única consequência das idiotices de Passos Coelho foi a fuga de quadros. Os países de destino agradeceram, com as populações a envelhecer agradecem esta jovens quadros nascidos na Europa e sem riscos de fundamentalismos. O investimento na formação de um jovem é gigantesco e estes países pouparam muitas centenas de milhões de euros. O país andou décadas a investir na escola e na formação destes jovens, para depois vir um imbecil fazer experiências e correr com eles.
É tempo de Passos Coelho explicar muito bem qual é a sua proposta económica e deixar-se de subterfúgios para nunca dizer ao que vem. Ainda sonha com o empobrecimento forçado dos pensionistas, com reduções salariais, com a venda de quadros ao estrangeiro a custo zero e com o despedimento em massa de funcionários públicos?