Enquanto Passos Coelho foi primeiro-ministro nenhum dos seus comparsas assumiu a responsabilidade política por qualquer situação negativa, foram apenas responsáveis por grandes sucessos. A Maria Luís empregou o marido na EDP mas não teve qualquer responsabilidades, morreram portugueses abandonados nas urgências mas o Paulo Macedo não deu a cara, morreram cidadãos contaminados pela legionela mas ninguém assumiu responsabilidades.
O caso mais emblemático do conceito de responsabilidade política dos membros do governo do mafarrico ocorreu com as listas VIP. Independentemente do que se possa dizer sobre as mesmas, o governo de então teve duas posições, inicialmente desvalorizou, negou, baralhou. Quando se confirmou a existência Paulo Núncio, Paulo Portas e Passos Coelho em vez de darem a cara e defenderem a solução que foi implementada, exibiram a cabeça de dois dirigentes do fisco.
Recordo-me do tom cordial com que os deputados da direita e, em especial, de Cecília Meireles, parceira de Paulo Núncio no CDS, tratavam os quadros do fisco e defendia a sua competência e o contributo dado para o país sair da crise financeira. Mas, quando os dirigentes do fisco se imolaram pedindo a demissão e indo ao parlamento fazer juras de que Núncio não sabia de nada, o discurso mudou. Os supostos culpados estavam identificados e até já se tinham demitido ou sido demitidos.
Teria sido fácil à ministra da Administração Interna comportar-se á Cecília Meireles ou à Paulo Núncio, exigia a demissão de dois altos dirigentes da Proteção Civil e se estes não tivessem a iniciativa de se demitirem tomaria ela tal decisão, exibiria a cabeça dos “culpados de serviço” ao país e seguia em frente com a sua brilhante carreira como fez Paulo Núncio. Não importava o estigma que cairia sobre esses dirigentes, não importava as perdas para o Estado pela destruição de quadros altamente qualificados, na hora de salvar a pele de políticos sem escrúpulos pouco importa quem são as vítimas.
É este o conceito miserável de responsabilidade política de Passos Coelho, não admira que diga que estranha que no caso do roubo de Tancos ainda não tenham rolado cabeças, ele estranha que neste governo os ministros não sejam tão miseráveis na forma como se acusavam funcionários como ele e os seus pares.