sábado, abril 05, 2008

Os pecados eleitorais de Sócrates


Mais do que as medidas económicas ou as múltiplas reformas são os tiques e o comportamento de algumas personagens cinzentas que estão a penalizar Sócrates nas sondagens. Nem o caso do seu diploma, nem os seus brilhantes projectos arquitectónicos o penalizaram junto do seu eleitorado, o segundo caso quase nem passou do jornal Público.

Quais foram então os pecados eleitorais de Sócrates que o levam a perder terreno das sondagens quando poderia estar a consolidar a sua maioria absoluta? Têm sido alguns os pecados eleitorais de Sócrates.

O comportamento do inspector-geral da ASAE é um bom exemplo de como Sócrates arrisca a perder mais votos devido à vaidade de uma personagem secundária do que os consegue com o lançamento de obras. A actuação da ASAE tem sido mais marcada pela vaidade do seu dirigente do que pelos resultados que seria conseguidos em grande espalhafato na comunicação social. Mas o dirigente da ASAE percebeu que Portugal não tem notícias que cheguem para tanta primeira página e armou-se em repressor mor, chegando mesmo a anunciar o fim de 50% dos restaurantes. Mais dos que pelos resultados a ASAE passou a ser conhecida pelo caça-fantasmas dos restaurantes e pequenas mercearias, transformando dezenas de milhares de pequenos comerciantes em porta-vozes de descontentamento, influenciando a opinião de centenas de milhares de eleitores, principalmente de idosos, que decidem muitas das eleições.

Outro pecado cometido pelo governo de Sócrates foi a arrogância reformista que o levou a eleger grupos profissionais inteiros como a quinta coluna do inimigo, professores, polícias, magistrados e a generalidade dos funcionários do Estado foram tratados de tal forma que se sentiram como inimigos públicos. Para quê? Para nada, o governo começou com a chantagem do despedimento e agora que a mobilidade re revelou um flop, que a famosa empresa que ia formar os funcionários em mobilidade apenas serviu para nomear alguns boys, o governo adopta medidas como a pré-reforma, precisamente as medidas por onde deveria ter começado e que não careciam de falsos estudos nem de ameaças.

Um terceiro pecado cometido por Sócrates foi não ter adoptado para os seus “pitbulls” as mesas regras que o ministro da Agricultura quer impor às raças perigosas. Personalidades como a directora da DREN e mesmo o inspector-geral da ASAE tornaram-se símbolos de repressão, em vez de os ter demitido logo que cometeram o abuso dando a todos um sinal de que a incompetência e o abuso não seria tolerado, Sócrates protegeu-os e no caso do inspector-geral da ASAE até o promoveu em vedeta nas reuniões e comícios do PS. Ao mesmo tempo que não conhecemos os secretários de Estado e mesmo uma boa parte dos ministros, personagens menores e cinzentas da Administração Pública foram promovidas a ícones do regime, o jet set de José Sócrates.

O quarto erro de Sócrates for ter esquecido os valores da ética, ou da ética republicana como preferia nos primeiros tempos do governo, para se resguardar no princípio da legalidade, princípio que nem o chega a ser tantos são os golpes baixos que uma legislação permeável permite. O caso mais recente é o de Jorge Coelho, a sua ida para presidente da Mota-Engil nada tem de ilegal, mas não há nenhum português que não veja aí a violação de tudo o que possa ser entendido por comportamento ético. É evidente que não estamos perante um acto de corrupção individual, é muito pior do que isso, é a corrupção da própria democracia. Esperemos agora que suceda à Mota-Engil o que já sucedeu à Iberdrola, que perca uma boa parte dos concursos públicos em que tem participado.

Um quinto pecado de José Sócrates é permitir que gente politicamente burra conduza processos tão complexos como a negociação no sector do ensino. A intervenção pública de António Vitorino mostrou como alguns segundos de inteligência podem resolver o problema, de nada serviu, os cinzentos secretários de Estado da Educação voltaram a ter as rédeas e agora só nos resta ver os professores inscreverem-se como militantes do PCP, partido que em poucos meses conseguiu no sector o que não tinha alcançado em trinta anos.

Mais do que pelo faz José Sócrates tem sido penalizado pelo que deixa outros fazerem ou pelo que não fez.