terça-feira, abril 29, 2008

Umas no cravo e outras tantas na ferradura

FOTO JUMENTO

Elevador da Bica

IMAGEM DO DIA

[C. Daut/Reuters]

«Mary McCarthy se fait maquiller avant de célébrer son 108e anniversaire à La Havane, Cuba, le 27 avril 2008. » [20 Minutes]

JUMENTO DO DIA

M.F. Leite admite derrota nas legislativas

Quase no final do seu discurso de apresentação da candidatura Manuela Ferreira Leite chamou a atenção para a proximidade entre as próximas eleições legislativas e autárquicas, alertando para o perigo de contágio dos resultados das legislativas as autárquicas. Por outras palavras, admitiu uma derrota nas legislativas, uma derrota tão má que o seu contágio seria um desastre.

Antes disso fez uma colagem clara e lamentável ao discurso de Cavaco Silva no 25 de Abril ao apontar como prioridade os jovens que não acreditam nos políticos. Enfim, a primeira colagem oportunista de Ferreira Leite a Cavaco Silva.

SE ACONTECESSE EM PORTUGAL...

Podemos estar descansados, em Portugal o ministro da Defesa é macho, não se apresenta perante um general vestido de jeans e calçando ténis, já quanto à gravidez está desde logo posta de lado. Mas se esta imagem fosse de uma ministra da Defesa portuguesa o menos que se pode dizer é que cairia o Carmo e a Trindade, os generais já se teriam reunido no restaurante "Vela Latina" de Lisboa para elaborarem um manifesto em defesa da instituição militar, Cavaco teria chamado Sócrates à sua presença, Paulo Porta andaria escandalizado e o Rui Gomes da Silva já andaria a investigar a vida do marido para se certificar que não ganhava algum à conta da tropa.

Mas podemos estar descansados, esta desgraça aconteceu a Espanha, por cá somos mais pobres mas lavadinhos. A perenidade dos nossos generais está assegurada.

VÃO PROVAR OS MÉTODOS DEMOCRÁTICOS DO ALBERTO

Aqueles que durante anos apaparicaram e elogiaram o Alberto João, incluindo Cavaco Silva já enquanto Presidente da República, vão tomar o gosto aos métodos democráticos do líder do PSD-M. Com 30% dos militantes do PSD na Madeira é o Alberto João que decide as directas, com mais alguns votos tresmalhados derrota Ferreira Leite e Santana Lopes, nem precisa de fazer campanha ou de se deslocar ao "contenente" basta que uma parte dos militantes madeirenses inscrevam um primo ou um vizinho no partido para assegurar a vitória.

EMENDAR UM PRÉMIO NOBEL

«Na inauguração da exposição que lhe é dedicada, Saramago agradeceu assim: "Quero dizer obrigadinho, que é um diminutivo que sai mais do coração." Com risco de parecer petulante, emendo um Prémio Nobel. Obrigadinho, falado bem, usa- -se em circunstâncias que não vão com aquele discurso. Há o obrigadinho irónico. Este subdivide-se no obrigadinho descendente da locução popular "assim, muito obrigado!" e usa--se para sublinhar uma ideia disparatada ("Tu ficas com a Cláudia Vieira e eu com a Maria Vieira. Obrigadinho!"). E, segunda hipótese irónica, há o obrigadinho de protesto por não sermos apreciados como devíamos ("Obrigadinho!", digo ao tipo a quem apresentei a Cláudia Vieira e ele nem água vai). Finalmente, há o obrigadinho tipo sopinha, um daqueles falares humildes com o boné respeitosamente entre as mãos. Este seria o mais próximo saído do coração, como Saramago quer. Mas não é ao autor de Levantado do Chão que vou ensinar que esse sai é da humilhação.» [Diário de Notícias]

Parecer:

Ferreira Fernandes.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Afixe-se.»

FORÇA COMPANHEIRO VASCO

«No filme A Vida de Brian, dos Monthy Python, uma das personagens mais estúpidas pergunta: "Mas afinal, que fizeram os romanos por nós?" Alguém sugere: "o aqueduto", "os esgotos", "as escolas", "as estradas", e por aí adiante. O primeiro vai ficando irritado até que finalmente se vê forçado a responder: está certo, mas, tirando os aquedutos, os esgotos, as escolas, as estradas, o direito, o comércio, e essas coisas todas, que fizeram os romanos por nós?

Na sua crónica de sábado sobre "O 25 de Abril", Vasco Pulido Valente [V.P.V.] garante-nos que, "tirando as leis que instituíram a democracia, o PREC não deixou uma única reforma necessária e durável". Com os termos definidos por V.P.V., em que 25 de Abril e PREC são tratados como intermutáveis, eis de novo a questão de A Vida de Brian: "Mas afinal, que fez o 25 de Abril por nós?"

Só que a resposta de V.P.V. é mais divertida: "tirando as leis que instituíram a democracia", nada. Por outras palavras: tirando eleições livres e justas, imprensa sem censura, extinção da polícia política, partidos políticos, fim da tortura e dos presos de opinião, liberdade de manifestação e associação, que fez o 25 de Abril por nós? Nada.

Alguém diz: então e a guerra? Eu não sei se o fim da guerra é uma "reforma": para mim, é melhor do que isso. Ora, diz V.P.V., o "abandono de África não provocou nenhuma resistência interna, provando a artificialidade do imperialismo indígena". Pois tirando o fim da guerra, que foram 13 anos de "nenhuma resistência interna", mais a "artificialidade" de uns milhares de mortos, temos o quê? Nada.

E que reformas nos deixou o PREC? Três ao acaso: universalização das pensões de reforma, generalização das férias pagas e Serviço Nacional de Saúde. Mas não sei se cabem na definição de "necessárias" e "duráveis" de V.P.V.

Terá sido a extraordinária diminuição da mortalidade infantil "durável"? Para os interessados, parece que sim. Terão sido necessárias as pensões adicionais? Para o milhão que passou a usufruir delas em poucos anos, sim. E as férias? Essas, como diz toda a gente, são muito necessárias mas pouco duráveis.

Recapitulemos: tirando os recém-nascidos que sobreviveram, os velhos que recebem pensões, os jovens que não foram à guerra e lotaram as universidades, os adultos que gozaram férias e o pessoal todo que viajou para o estrangeiro sem ser "a salto", nem precisar de passaporte, que fez o 25 de Abril por nós? Nada.

Vasco Pulido Valente tem no entanto razão se pensarmos que em qualquer revolução há sempre coisas que já vinham de antes e outras que ocorrem depois, que a história é uma coisa atrás da outra, e que o resto é conversa. Um exemplo: a entrada na UE não é o 25 de Abril. Mas é muito duvidoso que chegássemos a uma coisa sem a outra.

A não ser, é claro, para as mentes retroactivas da direita portuguesa, que ainda lamentam Marcelo Caetano, porque nunca deixaram de acreditar que a única maneira de nos aproximarmos das democracias teria sido sempre dar mais tempo aos nossos regimes autoritários.

Em suma: tirando esse pormenor da democracia, tirando a descolonização e tirando o desenvolvimento, que fez o 25 de Abril por nós? Ridiculamente pouco, pelo menos se comparado com Vasco Pulido Valente, que só nos últimos meses já nos garantiu, para além desta pérola, que Menezes chegaria a primeiro-ministro e Mitt Romney seria o próximo Presidente dos EUA.» [Público assinantes]

Parecer:

Por Rui Tavares.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Afixe-se.»

UM CASO DE PROVINCIANISMO

«Antes do 25 de Abril, os poucos jornalistas estrangeiros que trabalhavam em Portugal deram um auxílio precioso à oposição ao regime. Através desses correspondentes, Mário Soares, por exemplo, conseguiu tornar conhecidas no mundo notícias que desagradavam ao regime e que a censura impedia de divulgar internamente.

Logo após o 25 de Abril e durante o agitado PREC (processo revolucionário em curso) Portugal fazia manchete em jornais e revistas de toda a parte. Ao país afluíram muitos e qualificados jornalistas estrangeiros, para seguirem os acontecimentos político-militares que aqui se sucediam.

Depois, felizmente, veio a normalização democrática. O país deixou de representar uma ameaça ao equilíbrio entre o Ocidente e o império soviético e, como seria de esperar, o interesse dos media internacionais por Portugal reduziu-se.

Mas não é do interesse nacional vivermos ignorados do globo neste cantinho ocidental da Europa. A imagem que predomina de Portugal no estrangeiro (quando existe alguma imagem) é a de um país antiquado, tristonho e simpático. Não é o que mais convém a quem tem de competir internacionalmente e precisa de atrair turistas e investidores.

Ficamos satisfeitos por Cristiano Ronaldo ou José Mourinho se tornarem celebridades. Mas não chega. De vez em quando gastam-se milhões em propaganda colocada em jornais e revistas de outros países. No entanto, ignoram-se os correspondentes estrangeiros que estão entre nós e que, de forma mais eficaz e bem mais barata, poderiam contribuir para uma maior projecção de Portugal no mundo.

Na recente sessão comemorativa dos 30 anos da Associação da Imprensa Estrangeira em Portugal - realizada, não por acaso, na Fundação Mário Soares - foi chocante ouvir o que vários correspondentes contaram sobre a maneira como os poderes públicos os ignoram e marginalizam. Desde a dificuldade de acesso destes correspondentes (que trabalham em regra isolados) aos membros do Governo e a altos dirigentes do Estado, blindados por assessores que nem sempre os atendem ao telefone nem respondem às suas chamadas, até à exigência corrente de exigir o envio de um e-mail para as mais singelas perguntas (como saber a hora de uma conferência de imprensa) não faltaram exemplos raiando o absurdo.

A excepção terá sido um secretário de Estado do Turismo, Alexandre Relvas, que percebeu as vantagens de convidar um grupo de correspondentes estrangeiros para uma viagem no Douro, em vez de comprar caríssimas páginas de publicidade na imprensa internacional. Até porque as pessoas acreditam mais em artigos de jornalistas do que em anúncios. Mas também se falou da jornalista de uma agência alemã que esperou em vão dois meses e meio por uma entrevista com um responsável pelo turismo, acabando por ser presenteada com um folheto relativo ao programa turístico... do ano anterior.

Não dar importância aos correspondentes estrangeiros revela uma razoável dose de estupidez. Não aproveitamos o interesse desses jornalistas pelo nosso país, ao não os ajudarmos a produzirem histórias capazes de levarem os respectivos órgãos de comunicação social a publicá-las.

Mas essa atitude revela também o provincianismo português. O nosso pequeno mundo circunscreve-se às trapalhadas da política nacional, ao futebol doméstico e a pouco mais. Adoramos que os estrangeiros digam bem de nós e até os tratamos com simpatia, mas fechamo-nos na nossa concha.

Décadas e décadas de isolamento internacional deixaram a sua marca, claro. Mas, de um modo geral, os portugueses que emigraram integraram-se bem noutros ambientes e noutras culturas. Mostraram uma abertura ao diferente que já se manifestara nos Descobrimentos. Só que nós somos descendentes dos que ficaram por cá...

Esta mentalidade fechada e provinciana é fatal num mundo onde os transportes e comunicações progrediram vertiginosamente. No passado, ela trouxe duas consequências aparentemente opostas: um complexo de inferioridade perante tudo o que é estrangeiro (automaticamente valorizando o que se faz "lá fora") e a rejeição dos "estrangeirados", isto é, dos que pretenderam modernizar Portugal. No presente, o provincianismo dificulta a nossa afirmação económica e cultural num mundo cada vez mais globalizado. Implica ficarmos à margem.» [Público assinantes]

Parecer:

Por Francisco Sarsfield Cabral.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Afixe-se.»

PS JÁ TEM ARGUMENTÁRIO CONTRA M.F. LEITE

«Mas a prudência socialista não significa, é claro, qualquer alheamento do que se passa no PSD. Prova disso é que o argumentário contra Ferreira Leite está já desenhado, quase tanto como o que já é aplicado nas discussões com outro dos candidatos - Pedro Santana Lopes.» [Jornal de Notícias]

Parecer:

Nem é difícil, o único argumento de M.F.L. é o défice que com ela aumentou.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Aguarde-se pelo Alberto.»

CARRIS VAI ALUGAR AUTOMÓVEIS

«O aluguer de automóveis ligeiros sem motorista por curtos períodos de fracções mínimas de uma hora é a nova aposta da empresa transportadora Carris de Lisboa, que será lançada durante a Semana da Mobilidade, em Setembro. O objectivo é "melhorar a mobilidade em Lisboa e retirar trânsito do centro da cidade", explicou ao DN fonte da empresa. » [Diário de Notícias]

Parecer:

Isto é a perversão de uma empresa de transportes públicos e o mais curiosa é o argumento, é para tirar automóveis do centro da cidade. Eu diria que é para fazer concorrência desleal às empresas privadas.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Pergunte-se à Carris quanto é que a brincadeira vai custar ao Estado.»

BANDEIRAS TIBETANAS "MADE IN CHINA"

«La Policía ha descubierto en el sur de China una fábrica que se dedicaba a fabricar banderas de Tíbet libre.

La empresa, situada en la provincia de Guangdong, había estado realizando pedidos del Gobierno tibetano en el exilio sin darse cuenta.» [20 Minutos]

TIQUE SANTANISTA NA POLÍTICA FISCAL DO GOVERNO

A Comissão Europeia advertiu o governo português para a previsibilidade de agravamento do défice orçamental em 2009 em consequência do abrandamento do crescimento económico e da diminuição da taxa do IVA. [Diário Digital]

O Primeiro Ministro garantiu já que não, que a sua política de contenção do défice vai continuar, [Diário Digital]. Dois dias antes, na capital do móvel, o seu Secretário de Estado dos Assuntos Fiscais anunciou como provável uma segunda descida da taxa do IVA ainda para este ano, porque estava optimista com a execução orçamental. Há qualquer coisa que não bate certo na política de comunicação do governo e anda no ar um certo aroma santanista.

MASSIMILIANO UCCELLETTI

SABC RADIO