quinta-feira, abril 24, 2008

Umas no cravo e outras tantas na ferradura

FOTO JUMENTO

Restaurante na Rua do Arsenal, Lisboa

IMAGEM DO DIA

[Misha Japaridze/Associated Press]

«For the first time since the collapse of the Soviet Union, the May 9 Victory Day parade on Red Square will feature ballistic missiles, tanks, jets and other weapons in what will be a symbolic show of Russia's resurgent military might. Soldiers, dressed in Soviet-era uniforms, marched during a rehearsal of the Victory Day military parade outside Moscow.» [The New York Times]

JUMENTO DO DIA

Bagão ressuscitou

Bagão Félix aproveitou as propostas de alteração da legislação laboral para ressuscitar, limitou-se a aproveitar o tempo de antena para fazer algumas críticas, principalmente à penalização das empresas que recorrem ao trabalho temporário. Para isso arranjou um argumento brilhante, contratar mão-de-obra temporária porque é uma actividade legal.

Para Bagão Félix tudo o que é legal não deve pagar mais impostos do que outras actividades legais. Será que Bagão também acha que os casinos não devem pagar outros impostos para além dos aplicáveis a todas as empresas? Ridículo.

AS DESPEDIDAS DE LUÍS FILIPE MENEZES

Não tenho memória de ter assistido a tantas sessões solene de despedidas de um dirigente político, ainda por cima como no caso de Menezes que mal chegou a aquecer o lugar e quase não recebeu grandes manifestações de simpatias. Agora só resta esperar que se vá despedir do cardeal patriarca e de Durão Barroso.

O ESTORVO

A propósito de despedidas qual seria o estorvo entre o Presidente e a sociedade a que se referia Menezes na entrevista que se seguiu à visita a Cavaco Silva? Provavelmente referia-se a Manuela Ferreira Leite que nunca cortou o cordão umbilical em relação a quem a inventou, a sua liderança do PSD pode tornar muito mais turvas as relações entre Cavaco Silva e as instituições políticas.

Recorde-se que até aqui sempre que Manuela Ferreira Leite fazia uma declaração tal era interpretada como a posição do cavaquismo, isto é, como a opinião do próprio Cavaco Silva. Ela própria nunca desmentiu que as suas opiniões também eram as do Presidente da República.

LEMBRAR EM CONJUNTO

«Ontem não se corrigiu uma injustiça. Mas fez-se uma coisa bela e digna na cidade. Foram lembrados os lisboetas assassinados por outros lisboetas no massacre de 1506, também conhecido por Matança da Pascoela, por ter ocorrido naquele ano nessa data do calendário litúrgico. Os primeiros destes lisboetas eram tidos por judeus, e os outros tinham-se na conta de bons cristãos. O número de vítimas é incerto, mas pode ter ido até quatro milhares. Foi o pior momento da história da Lisboa portuguesa (talvez apenas superado pela própria conquista da cidade, quando os cruzados passaram a fio de espada muçulmanos, judeus e cristãos que viviam dentro da cerca moura).

Durante séculos, a matança de 1506 foi esquecida, apesar de ter sido cruamente relatada pelos cronistas da época. Mas foi enterrada sob as camadas de vergonha, indiferença e mentira que compõem o mito português dos brandos costumes. De tal forma que, de cada vez que alguém referia a matança de 1506, quase era preciso voltar aos livros e documentos para confirmar que, sim, tinha ocorrido.

A partir de ontem, será mais difícil fingir que não aconteceu. Foi inaugurado no Largo de São Domingos o monumento evocativo da matança de 1506. Ao invés de ocultar, a cidade mostra, dá a ver, o lado mau do seu passado. E isso é uma coisa corajosa.

Um acto corajoso de todos os intervenientes. Da Câmara Municipal de Lisboa, através do presidente da Câmara, António Costa, e do vereador Sá Fernandes, que tinha proposto este monumento nos quinhentos anos do massacre, em 2006, sem sucesso junto da vereação anterior. Um acto corajoso do cardeal-patriarca de Lisboa, José Policarpo, cujas palavras de perdão público ficam agora ali gravadas: "A Igreja Católica reconhece profundamente manchada a sua memória" pelo massacre. Um acto corajoso da Comunidade Israelita de Lisboa, a quem só séculos depois foi permitido voltar a ter presença pública no nosso país, e que agora pede: "Ó terra, não ocultes o meu sangue e não sufoques o meu clamor!", usando palavras do livro de Job. Não ocultes o sangue: um pedido à terra daqueles que morreram que temos obrigação de honrar.

Seria mais cómodo continuar a esquecer. Se não fosse tão cómodo, não teríamos esquecido durante mais de quinhentos anos. Seria cómodo dizer que um monumento não muda nada. Seria cómodo dizer que é "só" simbolismo ou politicamente correcto, e passar ao lado deste dever.

Lembrar em conjunto ("comemorar") a matança de 1506 é incómodo mas faz de nós melhores cidadãos. Em primeiro lugar, porque nos lembra das coisas terríveis que nós humanos somos capazes de fazer, e assim serve de aviso para que não voltem a ocorrer. Em segundo lugar, porque ficamos a conhecer melhor o lugar onde vivemos, e isso nos ajuda a entendê-lo e melhorá-lo. E em terceiro lugar, porque os nossos antepassados nos passaram isto: corre misturada nas veias de muitos lisboetas a memória genética dos lisboetas de 1506, do lado das vítimas e dos assassinos. E quanto àqueles que não descendem desses lisboetas antigos: são hoje novos lisboetas a quem devemos hospitalidade, se aprendermos com os nossos erros.» [Público assinantes]

Parecer:

Por Rui Tavares.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Afixe-se.»

HAVERÁ SANGUE?

«Afinal, não foi preciso a bomba. Menezes foi-se embora. Disse ele que por causa da "guerra interna". E nós, curiosamente, acreditamos: não no motivo da saída, mas na guerra que eles, no PSD, dizem fazer uns aos outros. Mas alguém viu sangue?

Que eles não gostam uns dos outros é óbvio. Que tentam limitar-se e inutilizar-se uns aos outros também. Mas onde estão os confrontos em órgãos directivos, como na última transição do CDS? Os deputados expulsos, como no PCP? Os candidatos dissidentes, como aconteceu ao PS nas presidenciais e em Lisboa? Ou as grandes cisões, como no tempo de Sá Carneiro? Por enquanto, a actual "guerra interna" no PSD arde sem se ver, como o fogo de Camões. É um conflito curioso, que acaba sempre quando julgamos que vai começar. Foi o que aconteceu agora. Bastou um par de entrevistas para Menezes fazer pacificamente a mala. Ninguém lhe arrancou o partido da mão, e nenhum dos grandes pretendentes (Ferreira Leite, Rio) pôs pé em campo. Porquê tão súbita e inesperada despedida? Nervos? Talvez haja outra explicação.

É que se os rivais de Menezes perceberam entretanto o "erro" de terem deixado Mendes perder, também Menezes percebeu o "erro" de ter ganho a Mendes. Os primeiros acabaram por preocupar-se com as suas posições num partido saneado ou reduzido, e Menezes com o destino de bode expiatório, que o ameaçava com um desaparecimento definitivo depois de 2009. Aos críticos convinha que Menezes aguentasse pelo menos até ao Outono. Esperavam que, quanto mais durasse, menos dele restaria no fim. Menezes, como lhe competia, antecipou-se. No fundo, compreendeu a vantagem de esperar por 2009 numa posição resguardada, como estão a fazer os seus principais rivais. A sua saída é, na prática, uma proposta de negociação. Por ele, só haverá guerra agora, se não arranjar quotas devidamente honrosas nas célebres "listas". Têm um mês para ficarem todos mais ou menos contentes. E como as querelas são sobretudo pessoais, sem nada de ideológico ou "social" (ao contrário do que gosta de imaginar a imprensa, para dar profundidade ao que a não tem), não é impossível um entendimento: tudo é uma questão de equilíbrio e bom senso.

E não, não é a interpretação que é cínica, é o PSD que é assim: uma meada de calculismos, da qual ninguém tem o fio. A pressão sobre Manuela Ferreira Leite para se candidatar revela o que procuram as gentes do PSD: ninguém espera uma Thatcher, mas uma "federadora", uma santa da "unidade" e "pacificação", supostamente abençoada em Belém. Se Ferreira Leite se deixar propor nesses termos, o PSD terá à frente uma espécie de "presidente da mesa do congresso" glorificada, para arbitrar entre personalidades e facções. É, aliás, o que mais convém a um partido que existe sobretudo como uma federação de autarquias, naturalmente avessas a lideranças nacionais demasiado exigentes.

Ficará Santana de fora destes eventuais compromissos? Nesse caso, talvez haja algum sangue. Mas apenas o necessário para expelir um agitador diminuído. Quanto ao mais, os que desejam grandes debates, grandes líderes, grandes "diferenças" em relação ao PS devem talvez sentar-se, porque vão ter de esperar. É que tudo isso faria sangue, como fez Sá Carneiro, quando quis liderar o PSD e dar-lhe uma orientação - e o PSD de hoje, pelo que mostrou até agora, não parece ter estômago para divisões e separações. Até porque o que está em jogo em 2009, do ponto de vista da elite do partido, pode não ser suficiente para justificar uma "guerra interna" a sério.

Seja qual for o novo chefe, não faltará o entusiasmo inicial da praxe - como houve com Menezes. Os imaginativos hão-de conseguir ver Sócrates, com a ajuda da "crise", já diminuído ou até apeado - como também conseguiram ver com Menezes. Sobreviverão essas esperanças - como não sobreviveram com Menezes? Talvez não, e por duas razões. Em primeiro lugar, porque o PSD continua a tentar responder à mesma pergunta do PS (como conjugar o modelo social com a competitividade?), e condenado por isso a chegar a uma resposta mais ou menos semelhante. Ora, não podendo dizer, no fundo, que fará diferente, também não conseguirá convencer ninguém, devido ao seu passado recente, de que fará melhor. Sem uma catástrofe, Teixeira dos Santos vencerá sempre Ferreira Leite. Em segundo lugar, quanto mais credível a liderança do PSD, mais o PS poderá suscitar voto útil à esquerda. O que perder num lado ganhará no outro. Daí que, muito provavelmente, um PSD reforçado seja uma notícia pior para Louçã e Jerónimo do que para Sócrates.» [Público assinantes]

Parecer:

Por Rui Ramos.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Afixe-se.»

FRANCISCO MARTINS RODRIGUES

«De ruptura em ruptura com diversos partidos e movimentos, mas fiel ao ideário que o animava desde a juventude. Era assim Francisco Martins Rodrigues, ontem falecido em Lisboa, aos 81 anos: um revolucionário profissional que passará à História como o "pai" do maoísmo português que rompeu pela esquerda com o Partido Comunista e influenciando toda uma geração de opositores à ditadura salazarista que não se reviam nas teses "moderadas" de Álvaro Cunhal. Com ele era assim: ou tudo ou nada. Radical dos quatro costados, nem queria ouvir falar no "levantamento nacional" dos trabalhadores em aliança com a pequena burguesia, que Cunhal preconizou no livro Rumo à Vitória, em m1964. Nessa altura já Francisco Martins Rodrigues - Xico Martins, para os camaradas que lhe seguiam os passos, sempre à esquerda da esquerda - se deixara seduzir pela China vermelha, em confronto com os "reformistas" de Moscovo. O relatório Krutchov, em 1956, abalara profundamente o mundo comunista: o bloco soviético denunciava o culto da personalidade e os crimes cometidos durante o longo consulado de Estaline, apregoando as virtudes da "coexistência pacífica" com o capitalismo; do outro, mantinha-se a China vermelha, pura e dura, cada vez mais distante da matriz russa. » [Diário de Notícias]

Parecer:

Para quem não sabe foi o pai espiritual da extrema-esquerda portuguesa.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Preste-se a devida homenagem à coerência de uma vida.»

VALE E AZEVEDO TAMBÉM ENGANOU OS JUÍZES

«Os juízes de instrução criminal nos vários processos contra Vale e Azevedo também terão sido enganados pelo ex-presidente do Benfica. Depois de interrogado nos casos Euroárea por falsificação de contratos e burlas qualificadas a Dantas da Cunha e aos donos de uma corticeira, Vale e Azevedo só ficou em liberdade a troco de 1,3 milhões de euros em cauções. Porém, as suas garantias de pagamento ao Estado, caso fugisse, terão sido dadas com declarações falsas de uma empresa francesa à qual nem sequer está ligado.» [Correio da Manhã]

Parecer:

Bem enganados.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Pergunte-se a Vale e Azevedo quando tenciona voltar de Londres.»

FEDELHA AGRIDE PROFESSORA

«Uma professora de Matemática foi agredida segunda-feira por uma aluna de 11 anos do 5.º ano na Escola EB 2.º e 3.º Ciclos Padre Abílio Mendes, no Barreiro.

A origem do incidente – que ocorreu pela hora de almoço – permanece desconhecida, uma vez que as várias entidades envolvidas, desde o Conselho Executivo ao Ministério da Educação, passando pela PSP e Hospital do Barreiro, optaram por não divulgar pormenores do acontecimento.» [Correio da Manhã]

Parecer:

Ao que isto chegou.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Adoptem-se penalizações para os encarregados de educação.»

A MONTANHA PARIU UM RATO

«A Administração Pública tem neste momento em regime de mobilidade especial 1688 pessoas, das quais cerca de 1100 pertencem ao Ministério da Agricultura, segundo dados apresentados ontem pela directora-geral de Administração e Emprego Público (DGAEP).

A responsável da DGAEP, Teresa Nunes, revelou ainda que a grande maioria dos funcionários em sistema de mobilidade especial (SME) está numa fase em que aguarda que seja atribuída uma nova função, sendo que apenas 118 empregados públicos colocados no SME encontraram um novo trabalho dentro da AdministraçãoPública.Cercadeuma centena optou abandonar a Função Pública e 195 viram a situação laboral ser suspensa sem vencimento.» [Correio da Manhã]

Parecer:

Estes senhores lançaram o pânico e desmotivaram toda a Função Pública só para mudarem meia dúzia de funcionários.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Dê-se uma gargalhada.»

FENPROF QUER BOICOTAR NOVO MODELO DE GESTÃO DAS ESCOLAS

«O secretário-geral da Federação Nacional dos Professores (Fenprof), Mário Nogueira, disse ao DN que a plataforma sindical pode "apelar" aos docentes para que não se candidatem aos conselhos gerais transitórios dos seus estabelecimentos de ensino, como forma de protesto contra o regime de autonomia e gestão das escolas, publicado ontem em Diário da República.» [Diário de Notícias]

Parecer:

Parece que Mário Nogueira esquece que Portugal é um estado de direito e que não são os sindicatos que governam o país.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Informe-se Mário Nogueira que em Portugal não é o CC do PCP que governa mas sim o governo apoiado num parlamento.»

A ANEDOTA DO DIA

««Um general só deve ir à batalha quando tem tropas. Não tenho tropas no Continente, nem ninguém me pediu sequer para avançar», disse Alberto João Jardim ontem. Esta quarta-feira, as duas maiores distritais do país oferecem-lhe as «tropas» que o madeirense precisa para ser candidato.

Se Jardim quiser, Porto e Lisboa estão dispostos a «arranjar as tropas» que o «general» lamentou não ter. » [Portugal Diário]

Parecer:

Parece que há quem queira dar cabo do PSD.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Pergunte-se ao Alberto quem ia cravar se chegasse a primeiro-ministro.»

PARLAMENTO RATIFICOU O TRATADO

«O Tratado de Lisboa foi hoje aprovado no Parlamento português com os votos favoráveis do PS, PSD e CDS-PP e com votos contra dos restantes partidos, que criticaram a ausência de um referendo e as "perdas de soberania" nacional. No final da votação, os deputados do PS e do PSD aplaudiram de pé a aprovação da proposta de resolução do Governo.» [Público]

Parecer:

Tanto barulho por o Tratado não ter ido a referendo e acabou por ser ratificado sem grande barulho, o que demonstra que o referendo servia mais para obter tempo de antena do que para o discutir.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Aprove-se a ratificação.»

BLAIR APANHADO A VIAJAR DE COMBOIO SEM BILHETE E SEM DINHEIRO

«El ex primer ministro británico Tony Blair, que ha ganado más de 600.000 euros dando conferencias por el mundo desde que abandonó el cargo en junio, tiene problemas con el efectivo.

Y si no, que se lo digan al revisor que le exigió su billete en un tren que lo llevaba al aeropuerto londinense de Heathrow, donde iba a tomar un avión a EE UU, informó el diario británico Daily Mail. » [20 Minutos]

O JUMENTO NO TECHNORATI

  1. O "Fliscorno" também deu destaque aos falsos concursos para escolha das chefias do Estado denunciados pelo "Papa Açordas".
  2. O "Hanoin Oin-Oin" aproveitou uma imagem d'O Jumento para prestar homenagem aos judeus massacrados em Lisboa em 1506.
  3. O "Notícias d'Aldeia" gostou do comentário d'O Jumento a propósito de Manuela Ferreira Leite.

ANTON POSTNIKOV

NEWSEUM