terça-feira, dezembro 30, 2014

A campanha suja

A direita sabe que em condições normais vai perder o poder e se ao nível do governo e da Quinta da Coelha ainda se faz os possíveis por manter a imagem, na sociedade já se vive uma guerra civil onde as fardas foram substituídas por togas e os morteiros pelas primeiras páginas dos jornais. Estão demasiados interesses em causa para que os governantes se sintam livres que nem uns passarinhos por deixarem o poder e a sua revolução está ainda a meio e com sinais de ter falhado.
  
A Saúde sofreu danos mas no plano dos princípios as ideias de Passos estão por concretizar e Macedo deixa atrás de si um SNS empobrecido e com menos qualidade mas sem ter sido alvo da prometida revolução ideológica. O mercado laboral sofreu profundas alterações mas as ditas reformas estão aquém da perda de direitos laborais pretendida. O ensino público sofreu estragos mas o governo ficou aquém do pretendido no favorecimento do sector privado.
  
Para se manter no poder, nem que seja com o estatuto de membro de uma coligação a destruir a prazo como fez o agora dialogante Cavaco Silva no passado, a direita não hesitará em recorrer a todos os métodos e mal se instalou o ambiente de pré-campanha eleitoral foi o que se viu, uma a uma muitas personalidades do PS ou ligadas ao PS estão sob fogo de uma campanha difamatória, primeiro Sócrates, depois Vieira da Silva, agora Mário Soares.
  
Não é a primeira vez que isto sucede, mas o crime de corrupção é bem mais fácil de ser colado a qualquer personalidade do que outros tipos de crimes a que se recorreu no passado, basta ter um carro novo ou exibir alguma riqueza pessoal para se poder lançar a suspeita. Mas desta vez a ofensiva apresenta níveis de articulação mais evidentes, o sindicato dos magistrados vem a público apoiar a campanha da justiça na comunicação social, um seu ex-presidente defende a conjugação do tempo eleitoral com os processos judiciais em curso sugerindo uma confusão entre o estatuto de eleitor e o de jurado num processo manipulado claramente com recurso a violações primárias do segredo de justiça. Não querendo ficar atrás Passos apressou-se a apresentar-se como um homem diferente e o PSD ressuscitou a lei do enriquecimento ilícito.
  
Começa a perceber-se  a recusa de Cavaco Silva em antecipar eleições, os nove meses que se avizinham vão ser tempos em que tudo vale e em que o governo dará tudo por tudo para se manter no poder. E pelo pouco que se viu a direita não vai usar guardanapo.