De vez em quando o Governo divulga mais uma medida no âmbito do seu Plano Tecnológico, já fez um acordo com a Microsoft que transforma Portugal numa Microsoftlândia, prometeu distribuir computadores por alunos e escolas e até já distribuiu alguns, define objectivos para acesso à banda larga e até introduziu os quadros interactivos.
O problema que se coloca é saber para que serve tanto computado e tanto acesso a banda larga se a produção de conteúdos não é promovida. É evidente que estas medidas são positivas, mas a verdade é que se limitam a promover a utilização, esquecendo a produção. Não é por todos os portugueses terem carta de condução e alguns poderem comprar automóvel a metade do preço que Portugal se transforma num produtor de automóveis.
É evidente que estas medidas terão um resultado positivo na medida em que o país melhora significativamente os indicadores relativos à internet, ainda que isto seja conseguido com alguma injustiça e oportunismo. Injustiça porque os que se aplicam na escola e suportam os custos da sua dedicação terão que comprar o computador e pagar o acesso à internet, enquanto os que se baldaram vão às Novas Oportunidades comprar o computador pelo preço de uma torradeira, têm direito a um ano de acesso à banda larga e se assinarem o ponto ainda levam um canudo novinho em folha. Oportunismo porque a mesma PT que maltrata os clientes que pagam caro aparece neste processo como uma entidade benemérita.
Entretanto, nada se faz para que seja produzidos conteúdos em português, Portugal tem bons indicadores de acesso à net mas é um deserto no capítulo da produção de conteúdos e de acesso a servidores, aliás, o que torna a Web útil são os domínios “com” e os servidores a preço acessível localizados lá fora. O governo tem-se preocupado muito com a promoção da utilização da Web, transformando a Web num excelente negócio para as empresas de telecomunicações, mas descura ou esquece a importância da produção, o que se compreende, em termos eleitorais a promoção do consumo produz resultados imediatos.
O Plano Tecnológico, que não tem passado do aproveitamento político das mudanças tecnológicas que são inevitáveis aposta no imediato, concentra-se no consumo e despreza a produção, o que é pena, Portugal está a perder oportunidades neste domínio. Talvez seja por isso que se fala tanto dos indicadores de consumo de Web e se esqueça os de criação de emprego neste sector.