quinta-feira, julho 05, 2007

Vou a Oeiras ver o Tejo


Sem Tejo Lisboa não existe, não faz sentido, o que deu a dimensão universalista à cidade, o estatuto de capital, a sua própria identidade foi o rio, esse rio cuja margem norte está a ser gerida por gente inculta, para quem os interesses da cidade devem estar condicionados às mordomias conseguidas à custa de uma gestão abusiva do porto de Lisboa. Alguém confundiu a margem do rio com um porto e se aproveita dessa vantagem para fazer negócio.

Lisboa está transformada numa cidade de interior, o rio já não passa junto a Lisboa, passa ali ao lado, do outro lado de muros, linhas, docas privativas, mamarrachos, estações e barracões. Se o quisermos ver quase temos de ir a Oeiras. Onde não há uma doca (muito provavelmente abandonada) há um cais e onde não nem um cais nem uma doca os donos do rio descobrem uma excelente localização para construir um mamarracho, como está a suceder no Cais do Sodré.

Os transportes fluviais constroem estações horríveis, a marinha tem uma doca privativa para os "vaporetos” de transporte para o Alfeite e muito espaço para as dondocas dos comandantes terem estacionamento gratuito e privativo em plena Baixa, os velhos barracões são alugados para restaurantes de luxo, o Terreiro do Paço foi transformado numa little Bagdad, a Administração do Porto de Lisboa gere a margem do rio seguindo a velha máxima segundo a qual "quem parte e reparte e não fica com a melhor parte, ou é estúpido ou não tem arte". São docas ao abandono, zonas de restaurantes em barracas, edifícios de gosto duvidoso, terminais de contentores de eficácia duvidosa, zonas abandonadas, quilómetros de um muro entre a cidade e um rio que nos envergonha, o resultado de um dos locais mais belos da Europa estar a ser gerido por ignorantes, bestas e pacóvios.

O que se tem feito em Lisboa tem sido pouco, mal ou vergonhosamente mal, visite-se a zona do Cais Sodré e compare-se com o que foi no passado. Estações fluviais de gosto duvidoso, obras por concluir, barracões abandonados, parques de estacionamento para viaturas camarárias, cais abandonados. Em pleno centro da capital temos uma zona digna das docas dos filmes.

Salva-se Belém e o Parque das Nações porque por ali os senhores do porto não mandam, se esquecermos estas duas pequenas secções da margem quase temos que ir a Oeiras ou a Loures para ver o Tejo.

É urgente acabar com esta vergonha e entregar a gestão da margem do Tejo a uma entidade gerida com gente com um mínimo de dimensão cultural, condicionando os abusos do porto de Lisboa. Confundir toda a margem com um porto é uma situação anacrónica que tem permitido abusos inaceitáveis.

Em vez de assegurar que o porto de Lisboa seja eficaz e moderno a sua administração está a gerir os supostos direitos que tem sobre o rio para fazer negócio à margem das operações portuárias. A APL transformou-se abusivamente no agente imobiliário da margem do rio.
Devolva-se o rio à cidade.