terça-feira, julho 24, 2007

O orçamento simpático e o orçamento antipático


Começa a ser evidente o dualismo orçamental na política de José Sócrates, de um lado temos o orçamento nacional cujas dores de cabeça que servem a Sócrates para adoptar todas as medias antipáticas e reduzir, do outro lado temos as ajudas do orçamento comunitário com que Sócrates se apresenta como o homem modernizador.

As dificuldades do Orçamento de Estado são um excelente argumento para despedir (ou preparar o despedimento) de funcionários públicos, retirar-lhes todos os direitos, promover a proletarização da Função Pública. A fartura do orçamento comunitário permite a Sócrates aparecer como o grande modernizador da Administração Pública.

As dificuldades do Orçamento de Estado justificam a desvalorização dos professores com o argumento de que o Estado gasta muito e os professores são feios, porcos, sujos e ainda por cima trabalham pouco, o que vale aos alunos é a competência da ministra e o zelo de personagens como a directora da DREN. A abundância do orçamento comunitário permite a Sócrates dedicar um fim-de-semana à distribuição de portáteis, instalar computadores e acesso à internet em todas as salas, criar o cartão do aluno (neste país todos temos um cartão modernaço), instalar quadros interactivos e câmaras de vídeo por todos os cantos.

O rigor no Orçamento de Estado obriga a cortes do investimento público forçando a economia a uma recessão prolongada, fazendo acertar o passo do ciclo económico com o do ciclo eleitoral. A fartura do orçamento comunitário dá para construir um aeroporto sem se perceber se faz ou não falta e ainda sobra para linhas de TGV que poucos vão usar.

O Orçamento de Estado serve para justificar as opções políticas de Sócrates como se fossem um mal necessário. Os dinheiros comunitários servem a Sócrates para recuperar os votos que perde pelos excessos de rigor nas contas nacionais.

De um lado temos o Orçamento de Estado e um Sócrates autoritário, arrogante e reformador. Do outro temos dinheiro com fartura e um Sócrates modernizador, simpático, com fins-de-semana para distribuir prendas pelos portugueses.

A gestão orçamental transformou-se numa telenovela com dois irmãos gémeos a desempenharem o papel principal. O Sócrates antipático que poupa os dinheiro nacional e o Sócrates simpático que esbanja os dinheiros comunitários. O gémeo antipático assumiu o protagonismo na primeira parte da telenovela legislativa, o segundo assume o protagonismo nesta segunda metade conquistando espectadores para que seja assegurada a sua continuação para outra legislatura.