Os eleitores optam pela abstenção pelos mais variados motivos, desde a preguiça ao protesto. São muito os que não votam na falsa convicção de que desta forma estão a protestar ou a desprezar os “maus políticos”. Mas será que é assim, que quem se abstém não vota em ninguém?
No caso das eleições para a Câmara Municipal de Lisboa, ou de qualquer outra eleição, não é o facto de a abstenção ser maior ou menor que os vereadores deixam de ser eleitos, nem sequer haverá um número mínimo de votos para validar o acto eleitoral, em limite um candidato até pode chegar presidente com o seu próprio voto.
Há mesmo candidatos que desejam que a abstenção seja elevada, aqueles que contam com uma base eleitoral mais militante terão a ganhar comum aumento significativo da abstenção. A esta hora Paulo Porta sonha que os que no passado votaram no CDS e neste momento hesitam entre votar no seu Telmo ou noutra candidatura se abstenham se essa decisão não for a seu favor.
Não faltaram nesta campanha manobras de alguns candidatos para promover a abstenção no eleitorado dos adversários. Quando Jerónimo de Sousa apela ao voto contra o Governo está à espera que alguém que vote habitualmente no centro-direita opte agora por votar no PCP? è evidente que não, o que o líder comunista deseja é que aumente a abstenção no eleitorado do PS para que os mesmos votos do PCP tenham um maior peso relativo no resultado final. Com os mesmos votos o PCP pode ter mais um vereador desde que os adversários políticos tenham menos votos.
O descontentamento com a política, com os políticos ou com os partidos é um excelente negócio para alguns candidatos, para os que esqueceram 30 anos de vida confortável à sombra e à custa de jogos partidários ou os que contando com um eleitorado mais fiel têm muito a ganhar com a abstenção. Os eleitores descontentes com a política sempre foram um excelente negócio e uma prioridade para os que não têm projecto político ou para os que cujo projecto político é apresentado como "salvador".
No seu íntimo, cada candidato deseja ardentemente que os que votam nele vão às urnas e os que tencionam votar nos seus adversários fiquem tranquilamente em causa. Basta analisar o discurso de muitos dos nossos políticos para se perceber que o bom discurso é aquele que motiva os seus eleitores e adormece os restantes. Aliás, no futebol sucede o mesmo, um treinador inteligente evita provocar os jogadores adversários, fazendo o inverso com os seus.
Não votar acaba por ter o mesmo resultado que votar, a única diferença está no facto de que quem vota sabe quem está a escolher enquanto quem se abstém nunca saberá quem ajudou a escolher, muito provavelmente ajudou a eleger algum candidato em quem nunca votaria e que não deseja ver eleito.
A abstenção não melhora a gestão do Estado nem favorece o aparecimento de políticos competentes e honestos, antes pelo contrário, torna a política numa arena de gente fraca. A abstenção favorece os políticos instalados, ninguém que queira mudar o estado das coisas aposta numa carreira política se na hora de votar uma boa parte dos eleitores com mais formação e com elevados níveis de exigência voltam as costas às urnas.
Os que optam por protestar abstendo-se acabam por dar um grande contributo para a sobrevivência dos mau políticos. A democracia será um processo de selecção dos melhores políticos se uma maioria de eleitores escolherem sistematicamente os melhores políticos, mais tarde ou mais cedo os maus serão excluídos.
Não votar é votar nos maus políticos.