segunda-feira, julho 23, 2007

A econodemocracia


Desde desvarios como o da directora da DREN à exigência de alteração da Constituição da República, multiplicam-se os indicadores de que a democracia portuguesa está a passar por um mau bocado.

A cidadania começa a valer pouco, os cidadãos que não estejam devidamente representados no PIB ou no PSI20 começam a ser negligenciados. Os mais ricos são representados por governantes e directores gerais enquanto o cidadão comum é representado por vereadores e deputados cujo maior objectivo pessoal é deixarem de ser cidadãos comuns por via do enriquecimento. Passa-se na política o que sucede no SNS, os que acedem a governantes são os que se tratam no hospital da Luz, os outros, os que não têm expressão no PIB esperam a vez de serem ouvidos por um deputado com a mesma paciência que aguardam a marcação da consulta no centro de saúde.

Há duas democracias, a democracia onde um homem vale um voto que serve para escolher deputados e vereadores, e a democracia onde cada um vale uma determinada percentagem do PIB. O conceito foi introduzido pelos assessores do primeiro-ministro, sempre que este faz uma viagem ao estrangeiro e se faz acompanhar de uma vasta comitiva os seus assessores encarregam-se de informar a comunicação social de que os acompanhantes de Sócrates representam 60 ou 70% do PIB.

Veja-se o caso do Procurador-Geral da República, quando tomou posse foi um corrupio de visitas de boas-vindas de representantes de importantes percentuais do PIB, até o presidente do BCP, um dos bancos apanhados pela brisa suave e agradável da Operação Furacão, teve direito a tal distinção. Não tive notícia de o PGR ter recebido associações cívicas, representantes de presos, associações de defesa dos direitos humanos ou outros cidadãos sem expressão no PIB.

Não me admira que os empresários se sintam animados por estas novas regras da democracia exijam a alteração da Constituição da República para que cem anos de evolução do mercado laboral sejam esquecidos a bem da sua competitividade. Os empresários exigem, muito em breve o governado do Banco de Portugal dá-lhes razão, Sócrates concorda, Marques Mendes aceita e a maioria parlamentar legisla.

A democracia começa a ser uma treta, é coisa para discutir assuntos menores que não colidam com o sucesso dos mais ricos pois é do seu sucesso e felicidade que depende a recuperação da economia. Um dia destes ainda alguém vai descobrir que a democracia é um entrave ao sucesso económico do país.