Nos últimos anos tornou-se numa moda todas as instituições trabalharem para a comunicação social, uma boa parte dos seus dirigentes parece aferir a eficácia destas e a sua própria competência pela exposição mediática. Nesta democracia encenada pelos telejornais é uma forma de muitos dirigentes encontrarem uma legitimidade própria, independente e paralela do poder político.
Assistimos à “lilização” da democracia, procuradores, juízes, directores-gerais, inspectores-gerais e toda uma procissão de personalidades aguardam ansiosos pelo próximo Público ou pelo Expresso com mais ansiedade com que Lili Caneças aguarda pela Caras. Imagino que da mesma forma que a Lili Caneças aprecia a forma como o vertido lhe caiu na fotografia também as nossas personalidades vão mostrar à esposa ou ao marido como ficaram bem na fotografia.
Com os políticos a gerir cuidadosamente a sua presença na comunicação social, Sócrates aparece o menos possível enquanto Menezes contrata um especialista em multiplicar o seu tempo de antena, os órgãos de comunicação social descobriram nesta procissão de vaidosos a solução para a falta de matéria noticiosa. Quando não é um procurador a dar uma entrevista ao Sol ou a ir aos Prós & Contras falar de corrupção, é o inspector-geral da ASAE a falar dos seus ninjas ou o Tribunal de Contas a mostrar que os seus juízes sabem fazer contas.
Instituições que se espera serem discretas deixaram de o ser, tribunais que deveriam ser rigorosos emitem acórdãos especulativos, generais que deveriam ser garante da estabilidade anunciam revoluções, cada um faz o que pode para conseguir a primeira página.
Onde há cada vez menos debate político há cada vez mais Lili Caneças da República, o interesse do país e dos portugueses está a dar lugar a esta procissão de personagens que descobriram que podiam ser vaidosas. A Justiça é uma desgraça mas os procuradores nunca foram tão famosos e capazes de resolver todos os males da sociedade, o inspector-geral da ASAE cuida do que comemos para sua fama e proveito, o director-geral da Saúde garante que respiramos melhor.
Do outro lado estão os milhões de portugueses que ganham mal e assistem impavidamente à retenção na fonte do fisco de uma parte cada vez maior dos seus rendimentos, para os quais passou a haver duas séries de telenovelas, as telenovelas da SIC e da TVI e as produzidas pelas Lili Caneças da República.